Vita & Virginia traz para o grande ecrã o romance entre Virginia Woolf e Vita Sackville-West, a verdadeira história de uma relação apaixonante entre as duas escritoras. Estreia dia 3 de Outubro nos cinemas portugueses, e o Espalha-Factos diz-te o que achou.
Um filme (não tão) de época
Inglaterra, década de 1920.
Vita Sackville-West (Gemma Arterton) é uma aristocrata inglesa, escritora, casada com um diplomata (Rupert Penry-Jones), com uma vida privada que despertava rumores na sociedade londrina, o que desespera a sua mãe (Isabella Rossellini).
Virginia Woolf (Elizabeth Debicki), autora, ensaísta e editora, é casada com Leonard Woolf (Peter Ferdinando), com quem lidera a Hogarth Press, e membro do Bloomsbury Group, grupo artístico e boémio londrino.
O filme começa quando as duas se conhecem numa festa e acompanha a relação – por vezes conturbada, outras doce e carinhosa – que se vai desenvolvendo entre as duas escritoras.
Uma história real
Vita & Virginia é baseado na peça de Eileen Atkins, estreada em Londres em 1993 e em Nova Iorque em 1994, escrita a partir das cartas entre as duas mulheres. O filme, que estreou em 2018 e chega apenas agora às salas portuguesas, retrata com honestidade a história de amor de Vita e Virginia, de duas mulheres que viveram um romance de quase uma década.

Assim como em qualquer relação, também esta teve os seus altos e baixos, que o filme mostra com realismo: Vita não era monógama, e ao longo da sua vida manteve romances com várias mulheres. Virginia Woolf não parece ter lidado bem com isso, sofrendo com a inconstância de Vita mas também com as suas ausências quando esta tinha de se reunir com o marido, diplomata inglês em Teerão na altura em que o filme se passa, para fazer o seu papel de esposa. No entanto, ambas foram fontes de imensa inspiração para a outra, de tal forma que, como é retratado no filme, Vita inspirou Orlando –uma biografia, a mais revolucionária das obras de Woolf. Terá sido este, aliás, o melhor e mais produtivo momento da carreira literária das duas.
Sem tabus
A saúde mental de Virginia Woolf tem também espaço neste filme, tanto o seu problema de intimidade sexual como a depressão que a atormentou toda a vida e a levaria ao suicídio em 1941. Mostram o tratamento médico desumano de que Virginia foi alvo, as suas crises depressivas, e o apoio que recebia do marido, da irmã, e de Vita. No entanto, nunca é mencionado o que poderia ter estado por trás destes traumas, apesar de se saber que tanto Virginia como a sua irmã, Vanessa Bell, reportaram terem sido assediadas sexualmente pelo seu meio-irmão mais velho.

Entre Vita e Virginia
O filme parece ter alguns problemas em balancear o tempo que, como audiência, passamos com as personagens. Durante uma grande parte do filme, principalmente no início, dá a sensação de nos estar a ser contada a história de Vita, mais que de Virginia. No entanto, o filme parece tentar reequilibrar a história quando se dedica aos já mencionados surtos depressivos de Woolf, ou ainda ao seu processo criativo e de escrita, principalmente quando se foca na origem de Orlando. Mesmo assim, o desequilíbrio pode ser compreendido, já que Vita tem sido das duas a mais esquecida pela História, ao passo que Woolf, que à época vendia pior que a sua amante, é hoje considerada uma das mais importantes autoras do século XX.
O guarda-roupa e caracterização levam-nos diretamente para os anos 20 em Londres, mas a banda sonora inclui música moderna que contrasta com a época, com temas específicos que nos permitiam perceber o rumo emocional da história. Para além disso, momentos de realismo mágico surgem ao longo do filme como representações visuais da imaginação, ou alucinações, de Virginia Woolf. No entanto, estes dois aspetos dissonantes são escolhas estilísticas que não chegam para deixar de ver Vita & Virginia como um filme de época, mas que lhe dão um carácter mais contemporâneo e vivo.

Um filme realista e elegante
Vita & Virginia é, assim, um filme honesto, que finalmente se debruça sobre aquela que terá sido a relação amorosa mais completa de Virginia, e uma das que mais a inspirou, ao mesmo tempo que nos reintroduz Vita Sackville-West, uma autora esquecida do cânone. Mais que tudo, parece ser uma tentativa de repor, por fim, a verdade, ao assumir com toda a clareza o romance entre as duas autoras – um amor complexo e completo, físico e mental, natural e pleno, com tristeza, felicidade e, claro, algum drama.
Vita & Virgínia estreia dia 3 de Outubro nas salas portuguesas. É realizado e co-escrito por Chanya Button, com Gemma Arterton, que também é uma das produtoras, e Elizabeth Debicki nos principais papéis, para além de Isabella Rossellini, Rupert Penry-James e Peter Ferdinando.