O Espalha-Factos acompanhou o penúltimo dia da 13.ª edição do MotelX e traz os maiores destaques do festival. Memory: The Origins of Alien (2019), documentário inserido na celebração dos 40 anos de Alien (1979), iniciou o alinhamento da tarde. Ari Aster participou, também, numa sessão especial de Hereditário (2018), mais uma vez, com direito a perguntas e respostas.
A secção Prémio Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d’Argent englobou a maioria dos filmes apresentados. A longa-metragem portuguesa Faz-me Companhia (2019), Why Don’t You Just Die! (2018), Get In (2019), Extra Ordinary (2019) e Finale (2018) foram os títulos em competição que marcaram o dia, exibidos na companhia dos respetivos cineastas.
O clássico Plan 9 from Outer Space (1958) teve direito a especial homenagem, devido ao 60.º aniversário daquele que é considerado o pior filme de todos os tempos. A sessão dupla de Rabid (2019) e Blood Machines (2019) encerrou a programação.
Get in – 6/10
(Prémio Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d’Argent)

Olivier Abbou apresentou a sua mais recente produção: Get In, um filme que descreve como “muito intenso”, dedicado aos que têm um “sentido de humor estranho”. A obra tem por base uma história de terror verídica, comum em França: a apropriação de casas, mediante simples confusões no momento da assinatura de papelada. Tal sucede ao casal Paul e Chloé, que acabam despejados, enquanto desfrutavam de férias em família.
A narrativa possui grande potencial ao abordar tópicos como o racismo e aquilo que significa ser um homem. Paul contraria a masculinidade tóxica característica da maioria dos seus amigos, que o incentivam a recuperar a casa pela força, reclamando o que é seu por direito. Por momentos, o professor de história deixa a conversa dos companheiros subir-lhe à cabeça, ao participar em várias atividades estapafúrdias que não refletem em nada a sua personalidade.
Apesar da ideia inicial parecer interessante, o argumento foca-se mais nas dinâmicas da relação entre Paul e Chloé, cujo casamento está por um fio. O enredo torna-se, então, um pouco aborrecido, dando origem a acontecimentos deslocados, que nada têm a ver com a situação extrema em que se encontram.
A evolução dos amigos do personagem principal deixa, também, muito a desejar. Num minuto, são simplesmente cretinos, com mentalidades fechadas. A seguir, já querem roubar a vida, a casa e a mulher a Paul, dispostos a cometer homicídio para atingir os seus fins.
No fim de contas, lutam tanto pela casa, seja por meios legais ou ilegais, que conseguem reavê-la. Mas não da melhor maneira…
Why Don’t You Just Die! – 7/10
(Prémio Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d’Argent)

A primeira longa metragem de Kirill Sokolov é completamente absurda e extremamente divertida. Teve a sua estreia nacional no MotelX, onde contagiou os espectadores.
Why Don’t You Just Die conta a história de Matvei, um jovem que, a pedido da namorada, tenta assassinar o pai dela. No entanto, o pai é um detetive implacável e a sua família tem segredos que se revelam num banho de sangue na sala da família.
As personagens parecem ser impossíveis de matar e vão lutando das maneiras mais ridículas possíveis, perdendo litros e litros de sangue, sem que nada lhes aconteça. O filme tem uma realização incrível, cheia de pormenores bem pensados e muita gore à mistura. As personagens estão bem construídas e os atores desempenham papéis hilariantes.
Why Don’t You Just Die está em competição para melhor longa de terror europeia, mas é na verdade uma comédia sangrenta. Este ano, já venceu o prémio de melhor primeira longa no Fantasia Film Festival, no Canadá.
Faz-me Companhia – 5/10
(Prémio Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d’Argent)

Gonçalo Almeida não é uma cara estranha ao MotelX. Em 2017, venceu o prémio de Melhor Curta-Metragem Portuguesa, atribuído pelo festival, com a obra Thursday Night. Agora volta às origens com o filme Faz-me Companhia, protagonizado por Cleia Almeida e Filipa Areosa, também presentes na exibição.
A obra narra a história de duas amantes, Sílvia e Clara, que decidem passar o fim-de-semana juntas em contexto de inócua escapadela romântica. No entanto, a paranóia toma conta de Clara, envolta numa sucessão de comportamentos bizarros, que assustam Sílvia.
O aspeto mais incomodativo da longa-metragem é a falta de química entre a parelha. A relação estabelecida por Cleia e Filipa poderia funcionar bem se a trama se desenrolasse à volta de boas amigas. No papel de amantes, ambas ficam aquém, oferecendo uma prestação insípida. Nenhuma das personagens tem personalidades particularmente interessantes, o que suscita pouco interesse pelo desfecho do filme.
A película foca-se no lado mais estético do cinema, do que no fazer e acontecer. O terror baseia-se em ocorrências normais, como sangrar do nariz ou barulho proveniente da casa das máquinas. O único momento mais dramático reside na aparição repentina de um fantasma, situação que marca o “final em aberto” do filme, segundo Almeida.
Em suma, é sempre bom ver produções portuguesas dentro deste género cinematográfico, bastante escassas em território nacional. Contudo, a execução de Faz-me Companhia não é a melhor, algo que a beleza das filmagens não consegue, infelizmente, mitigar.
Artigo escrito por Matilde Dias e Carolina Correia, no MotelX, em Lisboa.
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