A propósito da estreia de Variações, o filme de João Maia que conta com Sérgio Praia como protagonista, revisitamos sete momentos da vida pessoal e musical de António Joaquim Rodrigues Ribeiro.
Foi um dos músicos mais marcantes da geração de 80, aquela que nascida no bafiento salazarismo cultural procurou, levada pelos novos ventos da cultura europeia, mudar o panorama musical português. António Variações foi o expoente máximo dessa inquietação, expressividade e talento que agora chega ao cinema.
1944 – Nasce em Amares, Braga
Nasce no pequeno lugar do Pilar, quinto filho de uma família onde a mãe, Deolinda, ocupa papel central na obra escrita e cantada do artista. Ao avô, um “mestre canteiro de grande sensibilidade artística“, nas palavras de Manuela Gonzaga, que assina a biografia António Variações – Entre Braga e Nova Iorque, deve a queda para as artes.
1956 – a ida para Lisboa
Seria sobretudo a partir de 1958, com a campanha de Humberto Delgado para as eleições presidenciais, que Portugal começaria a preparar aquilo que haveria de ser uma verdadeira revolução política. É por essa época que António vai viver para Lisboa e trabalhar como aprendiz de caixeiro.
Verão de 1966 – ida para a Guerra Colonial
Como muitos jovens da época, António não escapou ao serviço militar obrigatório. Foi na sua Braga natal que fez a instrução, seguindo para Angola, de onde regressaria em 1969. O Portugal que o recebia de volta já não era o mesmo, como a Europa e o mundo também não.
1976 – trabalho como cabeleireiro para Isabel Queiroz do Vale
Depois de percorrer cidades como Londres ou Amesterdão, António fixa o seu desassossego em Lisboa, onde trabalha como cabeleireiro unissexo. Do estrangeiro bebeu todo o movimento flower power e a revolução sexual. Portugal cozinhava lentamente o caldo cultural emanado da Europa. Já António era visto como um homem diferente, preocupado com a estética, entregue à arte de tesouras e secadores e a contactar com o mundo da moda. Essas experiências seriam evidentes na sua própria estética artística.
1980 – inauguração do Trumps
Foi no clube Trumps, a primeira grande discoteca gay de Lisboa, que António fez as suas primeiras aparições como artista e cantor, depois de um breve show no Scarllaty Clube.
1983 – o primeiro disco
Anjo da Guarda será o ano em que o barbeiro lança o seu primeiro disco. Antes disso a versão atormentada e devota de Povo Que Lavas no Rio, de Amália, faria mossa nos ouvidos dos portugueses. Tudo teria começado “numa bandinha de garagem“, como refere Manuela Gonzaga. Mas foi a assinatura com a Valentim de Carvalho que marcou a sua carreira. Era a confirmação, através do mercado musical em plena ascensão, que as canções de Variações iriam chegar a casa de todos através da rádio e dos leitores de vinil. E aos clubes lisboetas, madrugada dentro. E a todo o país em concertos onde se torna um ídolo e um êxito estrondoso.
1984 – Dar & Receber
Perante o sucesso do último ano urgiu gravar rapidamente um novo longa-duração. Foi durante o mês de fevereiro que os músicos dos Heróis do Mar se juntaram para com ele gravar o novo registo de originais. No entanto, o estado avançado da sua doença atirou-o para o hospital. Viria a falecer a 13 de junho.
O legado cultural e musical deixado pelo artista António Variações continua ainda hoje a ser marcante. Postumamente foram editados mais três discos com composições suas – Libertação, Aguaceiro e Tu Aqui. Ao filme que agora estreia juntaram-se recentemente as comparações de Conan Osiris com o barbeiro. Em 2004 o projeto Humanos prestou-lhe também uma das mais interessantes homenagens feitas em Portugal.