“Eles Não Envelhecerão”, o documentário sobre a Primeira Guerra Mundial, realizado e produzido por Peter Jackson (The Lord of The Rings) vai estrear em Portugal no dia 27 de julho às 22h15 no Canal História.
O filme consiste maioritariamente em testemunho direto de soldados e é acompanhado por filmagens da época que foram colorizadas recorrendo a novos modelos de computação.
Como na altura ainda não era possível gravar som síncrono, foi necessário recriar o som de raiz. Isto envolveu técnicas como leitura de lábios, para preservar o que foi dito.
O documentário foi originalmente lançado em 2018 para comemorar o centenário do final da Primeira Guerra Mundial, na qual o avô de Jackson participou. Foi esta ligação pessoal que o levou a produzir o filme, para além do fascínio que mantém pela grande guerra.
Este interesse é palpável no rigor histórico e atenção ao detalhe, mas não é um mero registo. Tal como os soldados que retrata, Eles Não Envelhecerão não está preocupado com a visão geopolítica do conflito. O foco está nos rapazes de 19 anos colocados na frente ocidental, e em como a sua inocência foi destruída.
Acima de tudo, Eles Não Envelhecerão é uma história profundamente humana, transmitida através dos sentidos, tanto dos soldados como do especatador.
Peter Jackson, recorrendo apenas a imagens de arquivo, consegue criar uma narrativa audiovisual que vai frente a frente com a melhor ficção. É um retrato da realidade que alia o poder da tecnologia a uma realização impecável para nos transportar para as botas destes soldados como nunca antes.
De volta outra vez

Seguindo entrevistas a vários soldados, acompanhamos os jovens rapazes alistados em Londres desde a formação básica e os seus primeiros momentos enquanto soldados.
Nesta altura, o espírito é otimista. Percebemos através de várias memórias que aquilo era quase um divertimento face aos seus trabalhos enquanto civis.
É quando os soldados são posicionados na frente ocidental que a câmara aproxima da projeção e são introduzidas a cor e o som. Tal como os soldados, nós somos transportados para esta nova realidade de onde ninguém regressará intacto.
O resultado é, na maior parte do tempo, exímio. A partir do momento que a transição é feita, não conseguimos deixar de ser cativados pelo ecrã. As filmagens a preto e branco enquadradas no centro do ecrã permitem ter uma certa distância e essa barreira é destruída.

Existem alguns momentos em que a imagem é suavizada ou destorcida devido à correção aplicada, mas são tão pontuais que o resultado continua a ser extraordinário.
Os cinco sentidos
Embora a cor seja o elemento mais imediatamente impressionante, a sonoplastia também merece destaque. Os sons da artilharia dominam o espaço durante grande parte do filme, servindo de plano de fundo para o dia-a-dia dos soldados.
No exemplo de extrema atenção ao detalhe, os atores que deram as suas vozes aos soldados vistos nas filmagens eram provenientes das mesmas regiões, de modo a preservar os dialectos locais.
Tal como a cor, o som é usado como instrumento narrativo, apenas estando presente até ao regresso dos soldados a Inglaterra.
Parte do que torna este documentário tão mais eficaz em criar uma ligação com o espectador é o foco na experiência sensorial. Para além da colorização e sonoplastia impressionantes, os relatos dos entrevistados focam-se bastante nos cheiros, sabores e texturas da sua experiência.

Cem anos depois da Primeira Guerra Mundial, “Eles Não Envelhecerão” é talvez aquilo que mais nos aproxima daqueles que lá estiveram.
É um documentário preocupado principalmente com a experiência humana de um grupo de pessoas, e um caso piloto para uma nova tecnologia e abordagem que pode vir revolucionar o género.