Eduardo Lobo de Oliveira tem 24 anos, nasceu no Brasil e imigrou há seis meses para Portugal. Foi ainda em terras tupiniquins que descobriu a paixão da Eurovisão. Numa reviravolta de semana deixou de ser um fã que nem tinha dinheiro para vir a Telavive para ficar responsável pelos gráficos da atuação da Noruega, que participa na semifinal desta quinta-feira (16).
Mas como é que um brasileiro descobriu o Eurofestival? Em 2010, pela internet. Ficou fascinado com “a produção de televisão gigantesca“. De fascinado para apaixonado foi só um passo. Em 2011 já via as finais nacionais e seguia todo o processo de escolha dos representantes de cada país no concurso musical.
Durante os últimos nove anos, acompanhou o Festival no Brasil. Até que percebeu que a Europa podia mesmo ser a sua nova casa: “Comecei a viver há meio ano em Lisboa. Vim viver para Portugal porque além de todos os problemas políticos que têm acontecido no Brasil, eu também entendi que o país não era mais o meu lugar, não me adaptava mais lá“.
Com um curso de técnico de TV e Rádio de um ano e meio, um ano do curso de Publicidade e outros dois em Design Gráfico, Eduardo partiu para Portugal depois de cinco anos de experiência na TV Gazeta do estado do Espírito Santo, uma das afiliadas da Rede Globo. “Já tinha muito interesse, desde muito pequeno, em fazer alguma coisa com vídeo e televisão“.
De Madrid a Telavive em acontecimentos improváveis

E, “numa história muito louca“, o brasileiro ficou com a componente visual da atuação norueguesa a cargo. Sem emprego, a viver “totalmente ferrado” em Portugal, começou a fazer lyric videos no Instagram para canções concorrentes deste ano. Começou por Telemóveis, seguiu com a Grécia e com a Itália. E, embora estivesse na Europa, sabia que este não ia ser o ano em que ia ao Festival da Eurovisão, que em 2019 está por outras paragens: “Telavive é muito cara. Não podia ir de jeito nenhum.”
Tendo em conta esta inevitabilidade, começou a pensar em maneiras de, de alguma forma, contactar com o evento e com os artistas. Decidiu participar na pre-party de Madrid, a 19 e 20 de abril. Um amigo, da organização do evento, que estava a acompanhar as delegações da República Checa e da Noruega arranjou-lhe uma credencial de imprensa.
Foi assim que conheceu os Keiino, banda norueguesa que concorre este ano: “Aí, eu conversando com o Tom Hugo [um dos cantores da banda], ele quis ver o que fazia no Instagram. Eu mostrei-lhe o que fazia e disse que era só um fã da Eurovisão“. E, dado os muitos problemas que estavam a acontecer nos ensaios prévios ao evento, ainda com stand-ins, a Noruega quis “mudar totalmente aquilo que tinha pedido para os ensaios iniciais” porque “não gostaram de nada do que estava feito“.
E foi assim que, uma semana depois de conhecerem Eduardo e de lhe terem pedido para fazer um lyric video, decidiram convocar de emergência “o cara com um MacBook” para reestruturar totalmente os visuais da atuação. Faltavam cerca de 15 dias para a Eurovisão começar, mas Eduardo conseguiu.

“Eu fiz esse telões gigantes. É o meu sonho desde criança fazer esse negócio, não sei bem como chamar o que realmente fiz. Artista visual, designer gráfico“, afirma, para explicar o seu trabalho. “Tive toda a liberdade criativa para fazer o que eu quisesse, embora tivesse alguns elementos pré-definidos, porque a música é bem centrada na cultura nórdica, auroras boreais e espíritos animais. Eu tinha de trabalhar com isso e com a cultura sámi, que é por isso que tem o joik [uma forma de música tradicional da música Sámi]“.
Para pesquisar sobre o tema, “Google, o melhor amigo de todos” e “fazer muitas perguntas“. “Porque como são símbolos de uma cultura de que não tive um conhecimento tão profundo, eu mandava mensagens para eles, e para o Fred, que é o rapaz da cultura sámi que é da banda, para confirmar que estava tudo certo e que não havia problemas“. Mas as coisas não decorreram sem percalços.
“Eu sou mesmo um rapaz com um MacBook, e meu MacBook não consegue exportar esses arquivos para uma tela gigantesca igual à da Eurovisão, então eu fazia os vídeos e mandava para um rapaz na Noruega, o Peter, que fazia todo esse processo de exportar os vídeos e mandava para o preview direto. Porque eu também não tenho internet suficiente em Lisboa para poder baixar estes arquivos gigantescos“, explica Eduardo, entre risos.
Tudo aquilo que na noite de quinta-feira vai ser visto nos gigantes ecrãs LED da Expo Tel Aviv durante a atuação da Noruega foi feito por Eduardo Lobo, cuja criação inspirou também o jogo de luzes da performance.
Imagens do segundo ensaio dos Keiino em Telavive
“Eu nunca pensava, na vida, que isso ia acontecer. É uma coisa que eu desejava bastante, há muito tempo. Mas eu nunca pensava que ia acontecer aos meus 24 anos. Aí, do nada, em uma semana, a minha vida toda mudou“, resume.
O brasileiro, que é estudante de Comércio e Negócios Internacionais no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, ainda não pensa muito sobre o que vai acontecer a seguir, mas diz que para já tem aquilo que mais lhe interessava: Saber “como tudo acontece e como realmente se faz“. O futuro é já a seguir.