Teen Spirit possui, sem dúvida, um enredo promissor. Afinal, quem não gosta de uma abordagem contemporânea ao famoso conto da Cinderela, em que uma humilde rapariga consegue atingir o sucesso e a fama, através da música? A mais recente obra de Max Minghella tinha tudo para correr bem, apesar de a narrativa não ser propriamente inovadora.
O filme é uma criação de Fred Berger, produtor do musical La La Land: Melodia do Amor, contando com Elle Fanning no papel de Violet, a jovem que promete desafiar tudo e todos em busca dos seus sonhos. A banda sonora é composta, igualmente, por artistas de renome na área do pop, como Ariana Grande, Robyn, Carly Rae Jepsen, Katy Perry, entre outros.
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Todas estas nuances aumentam as expetativas para um agradável feel-good movie, que proporcionará bons momentos nas salas de cinema. Talvez até consiga fazer o público acreditar que, muitas vezes, o impossível se pode tornar viável com esforço e determinação. No entanto, a mediocridade e a preguiça falam mais alto, obliterando qualquer tipo de mensagens inspiradoras e convertendo Teen Spirit num trabalho, acima de tudo, olvidável.
Teen Spirit – Conquista o teu sonho está nos cinemas portugueses desde 25 de abril.
Porquê eu?
Violet, de origens polacas, cresceu numa pequena ilha inglesa, sonhando para além da rotina, através das melodias embutidas no seu iPod. Tudo muda quando a jovem decide entrar na competição do momento: Teen Spirit, um famoso concurso de talentos que procura os próximos êxitos do mundo da música.
Pela mão de Vladimir Brajkovic, cantor de ópera reformado, Violet aprende a evoluir enquanto artista, percebendo o que significa, de facto, ser famosa e quem são os seus verdadeiros amigos. Uma história comovente sobre o preço da fama e a importância do trabalho árduo. Ou pelo menos seria esse o objetivo do filme…
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Violet revela-se apática e desinteressante. A origem da bizarra caracterização é dúbia. Por um lado, parece que o desempenho de Elle Fanning falha. Por outro, a personagem é tão consistentemente passiva que aparenta ser propositado. Uma coisa é certa: Violet está muito longe das sólidas prestações que Fanning desempenhou no passado, agravando a desilusão que Teen Spirit acaba por provocar.
Parece que toda a gente acredita na aspirante a cantora, repetindo inúmeros clichés como “és uma lagarta e nós somos o teu casulo”. Todavia, não é percetível o porquê de tantas esperanças e expetativas. É quase impossível criar empatia com a jovem, visto que esta parece entediada com tudo, sendo arrastada até ao clímax da competição por terceiros ou felizes coincidências. O desenvolvimento do enredo não nos dá a conhecer a personagem no seu âmago, o que provoca uma grande sensação de indiferença em relação ao futuro da rapariga e à sua carreira.
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Violet responde com um acanhado “Porquê eu?”, quando Jules (Rebecca Hall), jurada de peso de Teen Spirit, lhe oferece um contrato discográfico, mesmo antes de esta completar o concurso. A minha análise do filme vai de encontro a essa interjeição. A jovem detém uma capacidade vocal mediana e não parece possuir qualquer tipo de qualidades associadas a uma estrela. Apenas deixa transparecer uma permanente letargia, ainda que seja notável uma ligeira evolução na sua presença em palco. De facto, porquê ela?
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A caracterização de Vladimir, interpretado por Zlatko Burić, é, de igual modo, questionável. Teen Spirit tenta apresentar o ex-cantor como alguém experiente que se converte num manager improvável para Violet, conduzindo-a ao longo da sua repentina e acidentada jornada. Porém, o único propósito de Vlad parece ser reforçar ao máximo que todas as probabilidades estão contra a jovem, através do seu estatuto de bêbado desequilibrado. Como personagem em si, o mentor vale muito pouco. Todos os ensinamentos que partilha com Violet parecem um pouco vagos e triviais, como “respira” e “canta com o coração”, não acrescentando nada ao sucesso da jovem.
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Pessoalmente, adoro narrativas que retratem a ascensão de heróis improváveis à popularidade e reconhecimento. Assim Nasce Uma Estrela e La La Land são exemplos de filmes musicais que conseguem perpassar, de forma impecável, a mensagem e as dualidades do que é alcançar um sonho de longa data. Teen Spirit peca pela falta de paixão e pelo desleixo com que esta temática é abordada, resultando numa produção genérica e frustrante.
Uma overdose em pleno
O problema de Teen Spirit não se encontra unicamente associado às personagens. A previsibilidade do enredo é, também, um fator a ter em conta. Para começar, a premissa inicial do filme não é a mais arrojada. Como tal, era necessário revitalizar o tema, mediante uma abordagem moderna, em vez de encaixar um conjunto de supostas reviravoltas, já expectáveis muito antes de acontecerem.
O tempo começa a passa cada vez mais devagar, algo que não devia suceder num filme de 90 minutos. Assim, o espetador vê-se obrigado a aguentar uma sucessão infindável de cenas desnecessárias em slow motion e de planos excessivamente dramáticos, cujo o objetivo reside, nada mais, nada menos, em “encher chouriços”.
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A abundância de glamour e teatralidade predominam na maioria das situações, arrancando ao filme o embevecimento que este merece. O excesso é evidente no formato escolhido para o concurso de talentos, antagónico a qualquer competição semelhante televisionada. A constante presença do artificial suga qualquer tipo de espontaneidade ao suposto programa, onde nada se afigura, minimamente, orgânico.
Deste modo, criar uma ligação com os concorrentes é um desafio. A produção por trás de tudo salta demasiado à vista para aproximar sequer Teen Spirit de um simples concurso que procura o próximo ídolo adolescente. O exagero torna-se prejudicial, obrigando à renúncia do autêntico, em detrimento de uma desajustada sensação de fantasia.
Néon e boa música – O que salva Teen Spirit?
Os pontos fortes do filme consistem na banda sonora e cinematografia. A seleção de músicas que Teen Spirit apresenta adequa-se bastante bem à narrativa, contando com uma grande variedade de artistas pop conhecidos pela generalidade. O conjunto de melodias confere um necessário dinamismo e euforia aos acontecimentos retratados, mesmo que a interpretação não seja, muitas vezes, a melhor. Como falhar ao utilizar clássicos como Dancing on my own de Robyn, Lights de Ellie Goulding ou Tattooed Heart de Ariana Grande?
Teen Spirit é, também, salvo pela estética: um curioso mundo de néon e planos amplos que despertam o interesse por cada detalhe. Os momentos musicais fazem-se acompanhar por um interessante esquema de cores garridas, perfeitamente fundidas entre si, algo preponderante até nos tons de rosa e roxo escolhidos para os posters promocionais.
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Cenas à partida inócuas, como o trabalho de Violet num salão de bowling local, acarretam múltiplas pinceladas de cor, pormenor que transforma por completo os cenários. Os movimentos de câmara subtis e abrangentes complementam toda esta dimensão visual, conferindo um vasto leque de perspetivas aos enquadramentos.
Em suma, Teen Spirit não é um filme objetivamente mau, na medida em que possui um mau elenco, um péssimo guião ou má qualidade de filmagens. Contudo, a execução deixa muito a desejar, convertendo uma ideia com potencial, num espetáculo aborrecido e medíocre.
Título original: Teen Spirit
Realização: Max Minghella
Argumento: Max Minghella
Elenco: Elle Fanning, Zlatko Buric, Rebecca Hall
Género: Drama, Musical
Duração: 93 minutos