A nova obra de Vicente Alves do Ó, Quero-te Tanto! (2019), é mais uma história estranha mas com piada e com aquele bom odor a Portugal. Mas Quero-te Tanto! não é mais uma história estranha mas com piada e com aquele bom odor a Portugal.
Roda a fita e mergulhamos de imediato no filme, como aconteceu ainda este ano em Green Book – Um Guia Para a Vida (2018), sem direito aos créditos de produção iniciais que levam ao habitual extermínio de pipocas. Viggo Mortensen, ator que protagoniza o filme de Peter Farrelly, sugeriu que o realizador removesse essas cerimónias para que o espectador se esquecesse de que estava a ver um filme.
Ora, o resultado é positivo em ambos os casos.
Quero-te Tanto!, coproduzido pela TVI, é-nos apresentado através de uma belíssima cinematografia, de Paulo Castilho, pautada por um enquadramento que se rege pela simetria e está bastante bem pensada para o estilo do filme. A partir daqui, entramos na relação melosa entre Mia (Benedita Pereira) e Pepê (Pedro Teixeira).
De conversa aqui a conversa acolá, tudo é falado muito – demasiado, até – à portuguesa. A falta de presunção da inteligência do espectador leva a que os tais diálogos caiam numa certa infantilidade e redundância que nos constrange. E o filme arranca mal.
Porém, depois lá se levanta.
Indignados pela pobreza (que não coincide com a relativamente luxuosa casa da peixeira e do mecânico), os dois apaixonados resolvem assaltar um tesouro que se esconde no Monumento ao Marquês de Pombal, em Lisboa. A ideia surge da Madame Ping Pong (Alexandra Lencastre), uma espécie de vidente, a que a parva personagem de Pedro Teixeira recorre. E de apaixonados passam a ladrões.
Pepê segue para um estabelecimento prisional de Lisboa, enquanto Mia é levada para uma prisão de Serpa, no belo Alentejo, que enquadra o filme num belo quadro contemporâneo e ainda mais português do que se pensava.
No meio desta louca aventura vão surgindo momentos de dança, nos quais a imagem vem alcatroada para rimar com os versos das canções de artistas que vão do lendário José Cid à estrela em ascensão Conan Osíris. Na teoria isto deveria decorrer no sentido inverso, e, desta vez, a teoria teve razão. E outros momentos constragedores deixam-nos a coçar a cabeça, com os atores a romperem por completo a quarta parede e a olharem fixamente para a câmara.
Mas enfim.
Pepê consegue escapar da prisão, com a ajuda de Mudo (um excelente Rui Mendes, que, a par da igualmente brilhante Fernanda Serrano, salvam a representação do filme). A partir daí, a aventura passa a ser retirar o seu amor da prisão alentejana.
Como Mia está gravada e encarcerada, e o crime por eles cometido fora escandaloso, a caricata situação do casal torna-se mediática. E, adivinhe-se, a própria TVI vai cobrir o assunto. Mas acaba por o fazer de maneira ainda menos ética do que o faria na realidade, e isso leva-nos a crer que a produção seguiu o rumo certo para esta tragédia portuguesa virar comédia domingueira sem grandes falhas a apontar.
O filme vai crescendo e crescendo, juntam-se outras personagens engraçadas à sua história, mas no fim Quero-te Tanto! não deixa mesmo de nos fazer lembrar Portugal na sua essência. E o final, como teria de ser, não deixa de nos fazer pensar que teria de ser feliz.
Título original: Quero-te Tanto!
Realização: Vicente Alves do Ó
Argumento: Vicente Alves do Ó
Elenco: Benedita Pereira, Pedro Teixeira, Fernanda Serrano
Género: Comédia
Duração: 103 minutos