O que têm em comum Bird Box, filme sensação da Netflix, e Mid90s, primeira longa-metragem de Jonah Hill? A banda-sonora de ambos os filmes foi composta por Trent Reznor e Atticus Ross. A dupla que também forma a banda Nine Inch Nails (NIN) tem apostado cada vez mais em fazer música para a sétima arte, esforço que já valeu um Oscar em 2011 e um Grammy em 2013.
Em 2019, Reznor e Ross prometem não parar e já têm mais duas bandas-sonoras a serem lançadas: para The Woman in the Window, thriller realizado por Joe Wright baseado no livro de A.J. Finn, e para Waves, musical dramático de Trey Edward Shults.
Pelo meio, a dupla tem andado ocupada com os Nine Inch Nails, projeto que Reznor iniciou em 1988. O músico norte-americano sempre foi o único membro oficial e permanente do projeto, compondo as músicas e depois contratando vários músicos para irem em tour consigo, nomeadamente Robin Fick, Ilan Rubin e Alessandro Cortini, que ainda hoje continuam consigo.
O ano de 2016 foi quando Reznor ganhou uma espécie de Robin, pois Atticus Ross tornou-se o segundo membro oficial dos NIN, apesar de já ter trabalhado em cinco álbuns: With Teeth (2005), Year Zero (2007), Ghosts I-IV (2008), The Slip (2008) e Hesitation Marks (2013). Também em 2016, a banda regressou à música com o EP Not the Actual Events, o primeiro capítulo de uma trilogia que viria a ser completada com Add Violence (2017), o segundo EP, e Bad Witch (2018), que foi “transformado” em álbum.
Quando não estão em tour ou a gravar um álbum, Trent Reznor e Atticus Ross dedicam-se às bandas-sonoras, que se têm tornado uma espécie de “segunda carreira” para os dois músicos. Além do cinema, os dois já trabalharam para televisão (The Vietnam War e The Fourth Estate) e Reznor já criou música para dois videojogos (Quake e Call of Duty: Black Ops II). “O Atticus e eu descobrimos que se estamos a trabalhar num projeto de banda, [é bom] ter qualquer coisa a acontecer à qual podemos dedicar duas semanas” disse Reznor em entrevista à publicação online Stereogum. O músico considera que tanto os NIN como as banda-sonoras beneficiam destes intervalos: “Permite cada lado respirar de uma maneira que ganha alguma objetividade quando se volta lá”.
“Álbuns que vos levam numa viagem”
Os NIN estiveram em tour em 2018 e quando a primeira parte terminou, a banda-sonora original de Bird Box já estava completa. “Nós tínhamos mesmo um estúdio que ia connosco em viagem que ocupa um quarto de hotel”, contou Atticus Ross à Variety.
O trabalho na produção da Netflix vê a dupla igual a si própria, com a presença de baixo, piano e sintetizador. “Como todas as bandas-sonoras que lançamos, pretendemos que estas toquem como álbuns que vos levam numa viagem e que possam existir tanto como acompanhamento do filme como um trabalho separado”, afirmou a banda no seu site oficial.
Como é normal neste tipo de projeto, muita música que foi criada nas sessões de Bird Box não foi lançada, mas os NIN aparentam-se satisfeitos com a versão que já está à venda (disponível em streaming a 25 de janeiro). “Decidimos presentear-vos com esta versão da banda-sonora que representa aquilo que Bird Box é para nós. Esperemos que gostem”, desejaram.
Trabalhar Reznor e Ross “foi uma coisa fantástica”
Ainda sem data de estreia em Portugal, Mid90s é a primeira longa-metragem de Jonah Hill. A história tem lugar na Los Angeles dos anos 90 e segue Stevie, um adolescente de 13 anos cujo verão é dividido entre os problemas em casa e os amigos com quem anda de Skate. Conseguir com que os elementos dos NIN aceitassem o desafio de fazer a música para o seu primeiro filme “foi uma coisa fantástica, fantástica”.
Em entrevista para promover o filme, Hill disse que “nunca esperaria” conseguir o contributo da dupla oscarizada devido ao facto de Mid90s não ter tido “muito dinheiro”. “Eles viram o filme e adoraram”, revelou.
Jonah Hill explicou que música pretendia para Mid90s: “Eles são muito conhecidos pela banda-sonora de A Rede Social que, na minha opinião, é um filme sobre frieza, e a música reflete isso. Então queria ver qual seria o toque perverso deles sobre o calor”. O resultado final deixou-o “muito feliz”.
E à segunda, chegou o Oscar
A primeira incursão de Trent Reznor no universo das bandas-sonoras foi em 1997, quando produziu a de Lost Highway, realizado por David Lynch. Daqui saiu a música The Perfect Drug, que se viria a tornar uma de eleição por parte dos fãs de NIN.
À Stereogum, Trent Reznor afirmou que, em conjunto com o seu parceiro, o objetivo é “simplesmente tentar encontrar pessoas que estão a tentar fazer filmes excelentes e que estão a tentar fazer algo com integridade completa”.
Em 2010, Reznor e Atticus Ross juntaram-se pela primeira vez para trabalhar numa banda-sonora, e o resultado foi o Oscar de Melhor Banda Sonora Original por A Rede Social, no ano seguinte. A dupla junta-se a um lote de músicos que vencerem um Oscar composto por personalidades como Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Eminem, Paul McCartney, entre outros. “Isto está mesmo a acontecer”, disse o fundador dos NIN na aceitação do prémio. “Quando acabamos o trabalho em A Rede Social, estávamos orgulhosos do que fizemos e felizes por estarmos envolvidos neste filme”. O filme de David Fincher também arrecadou os Oscars de Melhor Edição e Melhor Guião Adaptado.
Reznor considera que o Oscar que conquistou com Ross vale mais do que o Grammy de Melhor Banda-Sonora para Media Visual (Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres) e uma possível entrada no Corredor da Fama do Rock & Roll. “Não digo que também não haja política e tretas envolvidas [nos Oscars], mas sinto que tem muito mais significado e vem de uma comunidade que te está a honrar, ao invés de uns tipos a tentar conseguir audiências para um programa de TV como os Grammy. Corredor da Fama, quem sabe o que isso é. Não quero saber”.
Mas o Oscar podia não ter chegado. David Fincher, que realizou o videoclip da música Only, dos NIN, viu Reznor a recusar o projeto por este estar cansado de uma tour, mas o realizador de Fight Club esperou pelo músico, que finalmente aceitou.
A banda-sonora original de A Rede Social começou a ser criada com os músicos a não olharem para o guião. “De forma impressionista, pensámos em personagens, locais e sentimentos, e uma data de música saiu e isso tornou-se o modelo do que veio a ser a banda-sonora”, contou Reznor à Stereogum. O músico considerou que a sua experiência em A Rede Social foi “divertida” e “muito diferente”. “Foi muito excitante ver o papel que a música tem num filme quando és tu a controlar. (…) Eu consigo fazer com que odeies aquele tipo. Foi interessante”, referiu à mesma publicação.
O terceiro projeto que Trent Reznor e Atticus Ross têm agendado para 2019 não é para cinema, mas sim para o ecrã mais pequeno. A dupla é a autora da banda-sonora de Watchmen, que vai ser adaptada a uma série de televisão a partir da novela gráfica de Alan Moore.