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wolf alice
Fotografia: João Marcelino

Wolf Alice no Coliseu dos Recreios: Dia de todos os Lobos

No dia de todos os Santos, o coletivo inglês subiu, pela terceira vez, a um palco em solo português. Nas duas ocasiões anteriores, os Wolf Alice estiveram no palco secundário do festival NOS Alive e por isso os fãs portugueses já pediam há muito uma data em nome próprio.

Já passou mais de um ano desde a edição do segundo disco da carreira. Visions of a Life tem sido aclamado pela crítica especializada, tendo chegado a conquistar, em setembro deste ano, o respeitado prémio Mercury.

Desta forma, a banda inglesa tem crescido de popularidade nestes últimos anos. O concerto nesta sala seria o “exame final” relativamente à sua relação com o público português.

A matilha em ação

Talvez por terem estado recentemente no festival NOS Alive, o Coliseu dos Recreios estava longe de lotar. Mesmo assim, as pessoas que fizeram questão de marcar presença nesta sala de espetáculos estavam claramente ansiosas de ver Ellie Rowsell, Joel Amey, Joff Oddie e Theo Ellis em palco.

O concerto estava marcado para as 20h, mas apenas começou meia hora depois. Assim que a matilha entra em cena, abre em grande com a bateria pulsante de Your Love Whores. Com o tema do primeiro disco, a banda é logo recebida de braços abertos.

Depois do clima indie, segue-se a sujidade punk de Yuk Foo. É impressionante as dinâmicas que os Wolf Alice conseguem proporcionar. Apesar do aspeto franzino, Ellie Rowsell surpreende pela positiva com a sua capacidade vocal. Quando larga a guitarra para se atirar ao single Don’t Delete My Kisses consegue ser um anjo vindo dos céus, mas quando volta a pegar no instrumento, torna-se numa arruaceira cheia de atitude na canção St. Purple & Green. Em termos de postura, faz lembrar uma junção entre Kim Deal (ex-Pixies e The Breeders) e uma Shirley Manson dos Garbage.

Beautifully Unconventional do mais recente disco é escutada e provoca um efeito quase catártico no público. Com poucas palavras a banda agradece a presença dos fãs presentes na sala. Abafada pelos assobios e palmas, a vocalista pergunta como se diz “eu adoro-vos” em português. Sem perceber uma resposta clara, o serão prossegue.

A disparidade de dinâmicas musicais é vivida com intensidade no Coliseu. Um concerto desta matilha é digna de ser presenciada com os próprios olhos. O público é bombardeado por sonoridades mais pesadas mas também a melancolia. A sequência com as canções Formidable Cool, Planet Hunter, Lisbon e Silk é prova deste vaivém de emoções.

Antes do encore, os Wolf Alice saem de cena com Fluffy, canção que talvez resume, musicalmente, a atuação de hoje. Aqui o espiríto punk desperta-se por completo, ao ponto da vocalista soltar o cabelo para uns intensos “headbangs”.

Já em regime de despedida, a banda britânica canta Blush e Giant Peach, com direito a Ellie a descer do palco para cumprimentar os fãs das primeiras filas. Mais de uma hora depois, Wolf Alice conquistam o Coliseu e provaram que o rock alternativo com sabor a grunge ainda tem os seus fãs fiéis em pleno 2018.

Fotografias de João Marcelino