Em 1984, José Saramago escreveu o livro. Agora está em cena pela companhia de teatro A Barraca. O Ano da Morte de Ricardo Reis, teatro ou livro? Qual deles escolher? Ambos.
A peça de teatro
1936, o ano da morte de Ricardo Reis centra-se nas conversas entre Fernando Pessoa e o seu heterónimo que lhe sobreviveu, Ricardo Reis. Apresenta um Fernando Pessoa mais infantil e ingénuo que no livro, e com um sentido de humor que prende e cativa a atenção do público até ao final da peça. Brincalhão mas crítico, Pessoa é aquela personagem que faz com que ninguém do público se mexa na cadeira de impaciência ou olhe para o relógio a ver se já é a hora da saída.
A peça decorre no ano de 1936 e salienta assuntos como a ação da PVDE, a intensificação dos regimes fascistas por toda a Europa ou a revolta dos marinheiros portugueses.
De uma forma leve e (des)empoeirada (não fosse Pessoa voltar do mundo dos mortos cheio de pó), Hélder Mateus da Costa (dramaturgo e encenador) homenageia José Saramago. Não só por esta obra: Pessoa e Reis navegam na passarola do Memorial do Convento, viajam numa mala que poderia ser a Jangada de Pedra e no final até pedem autógrafos a José Saramago.
O cenário ajuda ao sucesso da peça, facilmente convertível e adaptável ao longo da ação. A projeção de vídeos como parte do cenário traz uma dinâmica muito sedutora à peça. De salientar ainda as legendas parciais da peça, em inglês.
O livro
José Saramago é um génio da literatura. Indiscutivelmente! Um livro escrito por um grande autor sobre outro grande autor que é Fernando Pessoa, com referências a Ricardo Reis, Camões ou até Cesário Verde. Um livro que prende o leitor do início ao fim.
Lido com a calma devida a uma obra de Saramago, o leitor percebe todos os pequenos detalhes que tornam o livro enorme. Dá vida a Lídia, não a musa das odes de Ricardo Reis, mas uma mulher tipicamente Saramaguiana (uma mulher de armas, tal como Blimunda, do Memorial do convento). Aborda o romance de Pessoa com Ofélia, na personagem de Marcenda.
Disserta sobre a solidão. “Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós (…)”. “(…) talvez não fosse ainda a solidão, era o silencia, o meio-irmão dela”. Ou até sobre a morte. Sempre com um extraordinário jogo de palavras e sentidos.
Para assistires
1936, o ano da morte de Ricardo Reis, está em cena no teatro A Barraca, em Lisboa, até 29 de julho. Pode ser vista de quinta a sábado, às 21h30, e domingo às 17h00, com uma duração de 1h30, aproximadamente.
Para mais informações e reservas de bilhetes: Tel: 213965360 | 213965275 | 913341683 | 968792495 |e-mail: bilheteira@abarraca.com