O Espalha-Factos foi convidado a assistir ao musical Footloose, que esteve em cena pela primeira vez em Portugal numa produção semi-profissional da Primeiro Acto Estúdio de Teatro Musical.
Em maio estivemos à conversa com o encenador, André Lourenço, a propósito deste espetáculo que juntou em palco mais de quarenta jovens atores. Deixamos-te agora a nossa opinião sobre o que (ou)vimos no passado sábado.

Tudo começa com um número cheio de cor e ritmo. Em palco, grande parte do elenco canta e dança o tema principal (Footloose) que terá sido também um dos principais desafios de tradução e adaptação para a versão portuguesa.
O elenco que compõe o grupo de personagens mais jovens é logo de seguida substituído pelos atores que integram o núcleo mais velho, que inclui o Reverendo Shaw Moore (Samuel Cardita) e a esposa Vi (Marisa Camões), além da mãe do protagonista Ran McCormack, Ethel (Teresa Amorim). Estes personagens entregam ao longo de duas horas e meia alguns dos melhores números musicais de todo o espetáculo, como Vivo no Silêncio, Podes sempre procurar e Confesso.

O núcleo de personagens mais jovens sustenta com dedicação a maior parte da peça e oferece ao público interpretações marcantes, quer pelo entusiasmo e dinamismo em cenas como Se ela deixar ou Há sempre Alguém, quer pela prestação vocal de alguns personagens.
Destacamos a jovem Rusty, a quem Marta Coelho empresta a voz surpreendente e poderosa (especialmente na canção Ele é o meu rapaz) além de algumas das intervenções mais hilariantes do espetáculo. Também os protagonistas Ariel (Inês de Castro) e Ran (Pedro Paz), além de Willard (Salvador Morgado) têm prestações dignas de nota, os primeiros enquanto par romântico e o último como o personagem mais cómico de todo o elenco.

Dançar não é (e nunca será) um crime
Footloose é um musical que se situa num tempo e lugar particulares, mas as temáticas que aborda são universais. Por um lado, todos os jovens gostam de dançar e de se divertir e em qualquer lugar do mundo há sempre um espírito de grupo que permeia e influencia as escolhas dos seus membros. Por outro, todos os adultos que lidam com as adversidades da vida devem ainda lembrar-se de que, em algum momento remoto, foram jovens esperançados e alegres que se exprimiam através do corpo.

A produção apresentada pela Primeiro Acto não desiludiu e fez justiça à qualidade das músicas de Tom Snow e do libreto de Dean Pitchford e Walter Bobbie. Um simples mas inventivo dispositivo cénico funcionou muito bem para criar os diferentes ambientes necessários às cenas e os figurinos coloridos cumprem também o seu papel.
A boa preparação vocal dos atores permitiu a entrega de uma performance sólida, especialmente nos números de ensemble, sempre um desafio para um grupo composto por tantas pessoas.

Já no plano das coreografias, apesar de uma boa execução global, evidenciaram-se algumas fragilidades técnicas. No geral, a versão portuguesa de Footloose é uma excelente adaptação do original da Broadway que merecia, sem dúvida, mais apresentações!