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Último episódio de Sense8

Sense8: o final que os fãs mais aguardavam

A espera chegou finalmente ao fim para os fãs de Sense8. A partir desta sexta-feira (8) vai ser possível ver o episódio especial de duas horas e meia na Netflix e é exatamente tudo o que podíamos esperar.

Atenção: O artigo pode conter spoilers.

Com uma narrativa muito rápida em que os eventos se sucedem por vezes com uma cadência alucinante, “Amor Vincit Omnia” (nome do episódio que significa “o amor vence tudo”) vem fechar todas as plotlines deixadas em aberto nas temporadas anteriores. Esta velocidade causa alguma confusão, principalmente durante a primeira hora. Os espaços e personagens misturam-se num ritmo frenético, em que nem sempre é fácil acompanhar onde está cada sensate e o que está a fazer.

Se por um lado isto reflete toda a preocupação e luta contra o tempo que os personagens estão a viver para tentar salvar Wolfgang (Max Riemelt), também pode ser indicativo das limitações que a produção teve para acabar de contar esta história. Claro que nada disto é ideal, mas é o possível tendo em conta o cancelamento da série (e só aos fãs temos de agradecer por não estarmos condenados a questionar para sempre o destino das personagens).

Assim, este episódio surge quase como uma versão condensada do que poderia ter sido uma terceira temporada. Ficamos com a ideia de que já havia um desenho para o rumo que a série iria seguir caso tivesse continuado.

O episódio divide-se ainda em duas partes que culminam em momentos de clímax dramáticos que podiam perfeitamente ter correspondido ao mid season finale e season finale de uma nova temporada. Uma primeira parte em que a cluster une esforços para salvar Wolfgang e uma segunda, em que os sensates tentam impedir o regresso de Whispers (Terrence Mann) a BPO e parar a perseguição da espécie.

Entre estas duas partes vemos muitas questões respondidas. Ficamos a saber muito mais sobre a BPO e os seus objetivos, o Archipelago, o passado de Whispers e a sua importância para a organização e até sobre o passado de Angelica (Daryl Hannah) e Jonas (Naveen Andrews).

Contudo, há questões que são abordadas de forma tão superficial e levantam tantas dúvidas que nos põem a questionar se valeria mesmo a pena serem incluídas. O caso mais flagrante foi o reaparecimento da misteriosa Bodhi (Sarah Kants) que introduz a Lacuna (uma espécie de templo de sensates) onde conhecemos a figura da Mother (a criadora de Whispers). Claro que esta anciã é fundamental para perceber os planos do vilão, mas ficam tantas mais perguntas por responder…

Os destinos da cluster

Um dos aspetos mais interessantes deste episódio foi observar cada personagem na sua individualidade, contemplar a sua evolução desde o início da série e perceber o seu destino.

O triângulo amoroso

O episódio começa com Wolfgang (Max Riemelt) aprisionado nas instalações da BPO, onde é torturado, drogado e forçado a reviver os momentos mais traumáticos da sua infância nas suas alucinações. Aqui ficamos a saber mais sobre a juventude conturbada do alemão e é quando este tenta fugir que se dá a cena de maior carga dramática desta personagem: prestes a sacrificar-se para proteger a cluster, Wolfgang repete para Kala as palavras que a mãe lhe tinha dito – “Eu não valho a pena“.

É Kala (Tina Desai) que o impede de tirar a sua própria vida e aqui somos novamente remetidos para a dinâmica de amor proibido e atração irresistível que os dois vivem desde o início. Esta tensão vai adensar-se ainda mais quando Rajan (Purab Kohli), o marido de Kala, ressurge na trama central.

O final que aguarda este triângulo amoroso é um pouco inesperado, mas é provavelmente a única forma de não desiludir os fãs. Kala nunca seria capaz de deixar o marido (principalmente depois da evolução que este teve neste episódio) e os fãs nunca perdoariam se ela e Wolfgang não ficassem juntos (seria uma revolta ao nível do final de How I Met Your Mother).

Todos apaixonados e felizes para sempre

O outro casal em grande destaque no episódio é Nomi (Jamie Clayton) e Amanita (Freema Agyeman). Com uma relação bem consolidada que conquistou os fãs desde o início, as duas protagonizam uma das cenas mais bonitas do episódio quando num telhado de Paris fazem promessas de um futuro juntas com a Torre Eiffel como pano de fundo. As duas voltam a estar em destaque já no final, pois é o seu casamento que reforça o mote do episódio (e de toda a série): “o amor vence tudo“.

Também Sun (Bae Doona) encontra o seu final feliz neste episódio. Já com o irmão atrás das grades e o seu nome ilibado, a coreana vai finalmente baixar a guarda e começar uma relação com o detetive Mun (Sukku Son). Os dois formam um power couple que protagoniza algumas das cenas de maior ação com o seu domínio das artes marciais. Efetivamente, tudo isto acontece muito rápido, mas, pelo menos, a produção conseguiu que a forma como os dois se reencontram fosse fiel às caraterísticas das personagens.

Já os restantes membros da cluster 8/8 não têm grande desenvolvimento durante este episódio. Tanto Will (Brian J. Smith), como Riley (Tuppence Middleton), Capheus (Toby Onwumere) e Lito (Miguel Silvestre) já tinham tido as suas histórias bem desenvolvidas e encaminhadas para um final. Assim, limitam-se a ocupar os papeis que já tinham assumido dentro do grupo e a viver felizes para sempre no final.

Girl power e as grandes revelações

Falar do último episódio de Sense8 exige falar sobre as personagens secundárias, pois foram estas que tiveram sem dúvida o maior desenvolvimento do episódio. Pelo primeira vez, estas foram apresentadas como mais do que os interesses amorosos e sidekicks dos sensates.

Amanita já tinha demonstrado que era corajosa e estava disposta a tudo para defender a Nomi. Contudo, é só na cena em que ela e Daniela (Eréndira Ibarra) enfrentam Whispers que percebemos o quão destemidas as duas são. A forma como a mexicana domina Whisper e o discurso que profere sem pestanejar face ao grande vilão transformam a forma como o espetador vê esta personagem.

A outra grande revelação do episódio é Rajan, demonstrando-se corajoso e altruísta desde o momento em que descobre da ligação sensorial que a esposa partilha com a cluster. O marido de Kala é ainda incrivelmente compreensivo em relação a Wolfgang e prova várias vezes o amor pela indiana.

Uma série sobre amor

Não é despropositadamente que a maioria dos comentários que se podem fazer deste episódio sejam sobre as relações das personagens. Em duas horas e meia cheio de ação, a forma como as personagens revelam as suas emoções merece o seu destaque. Isto só reforça a ideia de que acima de tudo esta é uma série sobre o amor em todas as formas.

É realmente lamentável a forma como os constrangimentos temporais do próprio episódio ditaram o ritmo acelerado do desenvolvimento das plotlines. No entanto, é notável a forma como a produção conseguiu ainda assim dar respostas de forma satisfatória aos espetadores. Acima de tudo, é importante ter em mente que mais do que para desenvolver a história, este episódio tinha o objetivo de dar um final aos fãs.

Sense8 foi de facto uma série única, não só por ser ambiciosa e percorrer o mundo em filmagens, mas também pelo que representa. Ao preocupar-se em incluir os grupos marginalizados da sociedade e as suas lutas, a série conseguiu chegar tocar os espetadores e chamar atenção para questões de igualdade e justiça.

NOTA: 8/10