Desde 1982 que no dia 29 de abril se celebra a Dança. O Comité Internacional de Dança da UNESCO escolheu a data de nascimento de Jean-Georges Noverre, bailarino e professor de dança francês, nascido a 1727, para comemorar o Dia Mundial da Dança. Este ano, o Espalha-Factos decidiu celebrar a data com um artigo dedicado a coreógrafos que se têm destacado no panorama nacional e internacional.
«Inventei a dança para me disfarçar.
Ébria de solidão eu quis viver.
E cobri de gestos a nudez da minha alma
porque eu era semelhante às paisagens esperando
E ninguém me podia entender.»
Sophia de Mello Breyner Andresen, Tempo Dividido (1954)
Rui Horta
Coreógrafo e bailarino, Rui Horta nasceu em Lisboa em 1957.
Começou a dançar aos 17 anos nos Cursos de Bailado do Ballet Gulbenkian, com Jorge Salavisa e Wanda Ribeiro da Silva.
Em 1977, fundou o Grupo Experimental de Dança Jazz e no ano seguinte vai para Nova Iorque para terminar a sua formação em Dança. Regressou a Portugal em 1984 e até 1987 fundou e dirigiu a Companhia de Dança de Lisboa e a Escola de Dança Rui Horta, tendo sido um dos principais impulsionadores do desenvolvimento de uma nova geração de bailarinos e coreógrafos portugueses.
Em 1988, fundou o colectivo Rui Horta & Friends, criando Linha (com Paulo Ribeiro e Clara Andermatt, entre outros) e Interiores, espetáculos que o fizeram viajar pela Europa em digressão.

Durante a temporada de 2009/2010 foi artista associado ao Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde apresentou Talkshow (2009) e Lágrimas de Saladino e Local Geographic (2010).
Em Portugal, criou peças para o Ballet Gulbenkian (Lunar, o dia fragmentado (1997), Cartografias dos lugares comuns (1999), À Mesa em 15 Minutos (2000) e Monólogos do Oriente, tendo remontado para esta companhia Wolfgang, bitte…, e Flat Space Moving (1998). Para a Companhia Nacional de Bailado criou Come Together (2008) e Romeu e Julieta (2016).
O trabalho de Rui Horta já foi considerado herança da dança alemã (Deutsche Tanz Herbst). Além disto, recebeu já diversos prémios. Entre eles, o primeiro prémio nos Rencontres Choréographiques Internationales de Bagnolet, o prémio ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian (com a peça Pixel, 2001) e ainda o Prémio Almada (2003), na área da Dança, partilhado com a coreógrafa Olga Roriz, atribuído pelo Instituto das Artes do Ministério da Cultura.
Pina Bausch
De origem alemã, Pina Bausch (1940-2009) foi coreógrafa, dançarina e professora de dança.

Com 15 anos, iniciou os estudos de dança na Folkwang School, em Essen. Mais tarde, foi para Nova Iorque e dançou na Juilliard School e na Metropolitan Opera House.
Conhecida por contar histórias enquanto dançava, as suas coreografias foram criadas entre ela e os seus bailados, baseando-se em experiências de vida. Algumas das suas coreografias relacionam-se com cidades de todo o mundo, uma vez que Pina inspirava-se nas digressões para criar.
A coreógrafa ficou também conhecida por romper com as formas tradicionais da dança como performance. Utilizou ações paralelas, contraposições estéticas, repetições propositadas e uma linguagem corporal incomum para a época.
Entre os seus temas recorrentes estavam as interações entre masculino e feminino – uma inspiração para Pedro Almodóvar, em cujo filme, Fale com ela, Pina surgiu numa sequência a dançar.
Foi diretora da Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, em Wuppertal, companhia que tem um grande repertório de peças originais e que viaja regularmente por vários países.
A coreógrafa foi ainda distinguida com os prémios Kyoto (2007) e Goethe (2008). Em 20111, Wim Wenders lançou um documentário a homenagear Pina.

Alguns dos seus trabalhos mais conhecidos são A sagração da primavera (1975), Café Müller (1978) e Two Cigarettes in the Dark (1985).
Vasco Wellenkamp
Vasco Wellenkamp iniciou os estudos de bailado em 1961, no Grupo Verde Gaio. Em 1968, ingressou no Ballet Gulbenkian. De 1973 a 1975, foi bolseiro do Ministério da Educação, em Nova Iorque, na Escola de Dança Contemporânea de Martha Graham, onde se formou em dança contemporânea. Ainda em Nova Iorque, frequentou o curso de composição coreográfica de Merce Cunningham.

Em 1975, foi nomeado Professor da Escola de Dança do Conservatório Nacional, com o objectivo de introduzir no currículo da escola, pela primeira vez, a disciplina de Dança Contemporânea.
De 1978 a 1996, desempenhou as funções de Coreógrafo Residente, Coreógrafo Principal, Professor de Dança Contemporânea e Ensaiador do Ballet Gulbenkian.
Enquanto coreógrafo, Wellenkamp criou, para o Ballet Gulbenkian, cerca de cinquenta coreografias que marcou durante duas décadas o estilo coreográfico da Companhia.
Recebeu por duas vezes o Prémio de Imprensa (1974 e 1981). Foram-lhe ainda atribuídos os Prémios do Semanário Sete (1982), da Revista Nova Gente (1985 e 1987) e da Rádio Antena 1 (1982).
Em 1994, foi galardoado com a medalha de ouro e o prémio para o melhor coreógrafo, no II Concurso Internacional de Dança do Japão, com a obra a peça A Voz e a Paixão. Em Junho de 1994, foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pela prestação de relevantes serviços na expansão da cultura portuguesa no País e no estrangeiro.
Em 1997, fundou com Graça Barroso a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo (CPBC).
De 2007 a 2010, assumiu a Direcção Artística da Companhia Nacional de Bailado e, durante o mesmo período foi Director do Teatro Camões. Desde 2010, é Diretor Artístico da CPBC.
Em 2014, a sua obra FADO/ Ritual e Sombras obteve o primeiro prémio para a melhor produção internacional apresentada nesse ano na Holanda, em digressão por 21 cidades.
Olga Roriz
Natural de Viana do Castelo, Olga Roriz frequentou o curso de dança da Escola de Dança do Teatro Nacional de S. Carlos com Ana Ivanova, assim como o curso da Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa.

De 1976 a 1992, integrou o elenco do Ballet Gulbenkian sob a direção de Jorge Salavisa, onde foi primeira bailarina e coreógrafa principal.
Em Maio de 1992, assumiu a direção artística da Companhia de Dança de Lisboa.
Em Fevereiro de 1995, fundou a Companhia Olga Roriz, da qual é diretora e coreógrafa.
O seu reportório na área da dança, teatro e vídeo é constituído por mais de 90 obras, onde se destacam as peças Treze Gestos de um Corpo, Pedro e Inês, Electra e A Sagração da Primavera.
Criou e remontou peças para diversas companhias nacionais e estrangeiras. Entre elas o Ballet Gulbenkian e Companhia Nacional de Bailado (Portugal), Ballets de Monte Carlo (Mónaco), Ballet Nacional de Espanha, English National Ballet (Inglaterra), American Reportory Ballet (E.U.A.), Maggio Danza e Alla Scala (Itália). Estas peças viajaram já por quase todo o mundo.
Desde 1982 que a coreógrafa é distinguida com relevantes prémios nacionais e estrangeiros. Entre eles, destacam-se o 1.º Prémio do Concurso de Dança de Osaka, Japão (1988), o Prémio da melhor coreografia da Revista Londrina Time-Out (1993), o Prémio Almada (2004), Condecoração com a insígnia da Ordem do Infante D. Henrique – Grande Oficial pelo Presidente da República (2004), Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores e Milleniumbcp (2008).
Mais recentemente, em dezembro de 2017, foi-lhe atribuído, pela Universidade de Aveiro, o Doutoramento Honoris Causa por distinção nas Artes. E já este ano, 2018, Olga Roriz recebeu o Prémio Autores 2018, para Melhor Coreografia, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores, com Síndrome.
Ohad Naharin
Bailarino e coreógrafo, Ohad Naharin nasceu em 1952, em Israel.

Filho de uma bailarina e professora de dança, Naharin começou a dançar aos 22 anos. Ingressou na Batsheva Dance Company e quando Martha Graham (1894-1991) visitou Israel, convidou-o para se juntar à sua companhia de dança em Nova York. Depois de dançar para a coreógrafa dos Estados Unidos, passou ainda pela Juilliard e pela School of American Ballet.
Em 1990, foi nomeado diretor artístico da Batsheva Dance Company. Como tal, desenvolveu Gaga , uma linguagem corporal, e não uma técnica de movimento, que caracteriza a dança contemporânea israelense. Esta prática resiste ainda à codificação e enfatiza a experiência somática do bailarino.
As peças de Ohad Naharin já viajaram em digressão por alguns dos teatros mais prestigiados do mundo. Entre eles Ballet de Frankfurt, Opéra National de Paris, Companhia de Dança de Sydney, Ballet Opera de Lyon, Ballet Gulbenkian, Dança da Rua Hubbard Chicago e Royal Danish Ballet.
Em 2015, Tomer Heymann estreou um documentário sobre Naharin, intitulado Mr. Gaga. O título é uma referência à linguagem criada pelo coreógrafo, explorndo a forma como esta e o coreógrafo influenciaram a Batsheva Dance Company e o mundo da dança moderna.
Naharin foi já premiado ao longo da sua carreira. Conta com o Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres, atribuído pelo governo francês (1998), o Prémio Israel na área da dança (2005), assim como com o doutoramento Honoris Causa da Universidade Hebraica de Jerusalém (2009).