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Minty Square: “quisemos aproximar o público da rede de desfiles”

E-commerce, shop online, sites de venda multimarca. A indústria da moda tem evoluído a passos largos no caminho da tecnologia e, deste modo, tem conseguido afirmar-se naquela que agora é considerada a economia digital. É neste enquadramento e na cidade Invicta, que encontramos a Minty Square, que contou, em entrevista ao Espalha-Factos, um pouco do seu passado, presente e futuro.

A Minty Square é uma plataforma que pretende a comercialização de produtos de marcas ou criadores emergentes, nacionais e estrangeiros. Fundada por Ana Cravo e João Figueiredo em 2015, inovou ao ser a primeira plataforma a trazer o conceito see now, buy now, em Portugal. Atualmente conta com mais de 100 designers, sendo que 95% dos mesmos, são portugueses.

Fonte: Minty Square

Espalha Factos – Contem-nos como evoluiu a Minty Square, desde a sua criação até agora.

Minty Square [João Figueiredo] – Começámos por validar a ideia. Validar o mercado, contactar todas as escolas de moda em Portugal e analisar o mercado nacional: Ver quantos criadores saíam das escolas por ano, quantos é que criavam o seu atelier – isto no caso dos criadores emergentes.
Há aqui uma evolução ao longo dos anos. Passámos apenas dos criadores emergentes, para também começar a absorver marcas premium e de design. Se olharmos para 2015, foi um ano de aparecimento, digamos que de validação de ideia e de conceito. Do segundo semestre de 2015 até ao primeiro semestre de 2016, foi a consolidação da mesma e depois temos vindo a crescer substancialmente no último ano – 2017.
Desde que começámos muita coisa aconteceu. A ideia inicialmente surge num desfile de moda, ao ver um desfile com a Ana – cofundadora –  e questionámos onde é a que as pessoas podiam realmente adquirir as peças, existindo esse vazio nos desfiles. Porque não então, darmos acesso às peças do desfile?

EF – Quais são os vossos critérios quando selecionam uma marca, ou um criador, para vender na Minty Square?

Fonte: Minty Square

MS – Temos como critérios a manufatura e a qualidade do material. À parte disso, esta tem que ser uma marca emergente ou uma marca de estilo mais diferenciado.

EF – O que é que vos levou, enquanto plataforma, a apostar em talentos emergentes, dentro e fora de Portugal?

MS – Veio dar resposta à evolução natural, passar do mercado nacional ao mercado internacional, sendo o cerne da questão: a procura. O que é que o cliente cada vez procura mais? Nós acreditamos e o mercado também assim o indica, que cada vez mais o cliente procura peças de assinatura e assim se torna também, cada vez mais exigente.
Este quer ter a sua própria identidade e não se querer vestir igual a toda a gente. O tipo de produto que a Minty Square disponibiliza e dá a conhecer, é precisamente o reflexo dessa identificação de necessidade, para quem se quer vestir com mais identidade.

EF – Que diferenças verificaram após o see now, buy now, o que esperavam desta e o que conseguiram obter com esta iniciativa?

MS – Acho que há um processo, que está agora a começar. Nós fizemos testes com o see now, buy now na ModaLisboa, Portugal Fashion e fizemos também na London Fashion Week, que foi onde efetivamente obtivemos melhores resultados. No caso de Londres, é uma indústria que está mais desenvolvida e isso ajuda muito. Os resultados imediatos que sentimos para além das vendas, foi o buzz que gerou e fomos um bocadinho ao fundo da questão: democratizar a moda.
É difícil nos dias de hoje, e se calhar um bocado incompreensível, os desfiles de moda serem coisas um bocado inacessíveis ao consumidor e, portanto, o cliente não consegue estar numa plataforma só porque quer. Questões como os convites ou a rede de contactos, fizeram com que quiséssemos aproximar o público da rede de desfiles e com o see now, buy now, queremos evoluir nesse sentido. Fazer os streamings dos desfiles e permitir às pessoas adquirirem comodamente as peças dos desfiles, se assim o entenderem ou apenas estarem a par das coleções.

EF – Portugal ou o Estrangeiro? Como diferenciam os vossos tipos de mercado e consequentemente, os tipos de consumidor?

MS – Acho que lá fora é melhor em todos os aspetos. Quer em termos de recetividade, quer em termos de procura e também abertura para este tipo de ações. Em Portugal, temos um excelente produto, comparativamente aos outros países e uma oferta muito boa em termos de produto e qualidade de trabalho. Lá fora, talvez pelo poder de compra e pela falta de receio nas compras online. Prova disso é a nossa maior fatia de faturação vir do mercado alemão, que está a crescer com muita velocidade. Mercados como o alemão, o inglês e o espanhol, são aqueles que estão a reagir melhor a estas ações e a este tipo de produto.

EF – A que achas que se deve o receio português em realizar compras online e em apostar em marcas ou criadores emergentes?

MS – Acho que o português cada vez mais valoriza o que de melhor se produz em Portugal, é uma tendência. Penso que pelo nosso histórico isso não se verificava, havia sempre uma maior procura pelo produto estrangeiro e acho que cada vez mais reconhecemos o nosso trabalho, mas existe ainda uma desconfiança no mercado nacional para as compras online, creio que também é algo que esteja a evoluir.

EF –Para quem é mais cético neste tipo de compras, explica-nos qual a orgânica dentro da Minty Square, desde a escolha de criadores, peça, até à chegada do produto final ao consumidor.

Minty Square
Fonte: Minty Square

MS – Nós fazemos um trabalho de curadoria, no terreno. Vamos às principais feiras de moda – este ano estivemos em Berlim, Paris e Madrid. Atualmente, essa tendência de procura por novos produtos já se está a inverter, ao sermos contactados por marcas – algumas já com bastante maturidade –, que se encaixam dentro dos nossos valores.
Nós gerimos toda a parte operacional, quando o cliente efetua uma compra. Desde o controlo remoto de stock, através dos ateliers dos criadores, toda a questão logística, posterior apoio ao cliente – também é garantido por nós -, até ao respetivo packaging, que é nosso. Com isso garantimos não só a qualidade do produto, como a entrega imediata em casa do consumidor.

EF – Que mercados ainda vos faltam atingir ou que objetivos têm para um futuro próximo?

MS – Ainda há muito pela frente. Somos ainda uma startup e não nos podemos esquecer disso. Validámos o conceito em Portugal, fizemos testes de reação pela Europa, tivemos dois mercados que nos reagiram muito bem: o mercado alemão e o mercado espanhol e é nesses mercados que queremos entrar e consolidar esses dois países.

EF – Que potencial vêem nas plataformas digitais, e-commerce, redes sociais e de modo esta revolução digital se irá refletir na indústria da moda?

MS – O mundo digital é o futuro. Não esquecendo o offline, que é importante e terá sempre o seu espaço – talvez a operar de maneira diferente, com processos diferentes -, mas o digital é sem dúvida o futuro e é difícil dizer o contrário. Nós cada vez queremos acesso mais rápido ao conteúdo e é cada vez mais rápido pegar no telemóvel e no computador e comprar, do que pegar no carro, ir a uma loja, experimentar. As pessoas cada vez mais gostam desse conforto.
Portanto, conseguimos atingir mais público, o público por sua vez também consegue procurar mais – por exemplo, através da comparação de valores –, algo que dá uma vantagem também ao online.
Falando de redes sociais, acho que cada vez mais vamos viver de digital influencers, não das tradicionais figuras públicas, mas mais de lifestyle e aqui a Minty Square encaixa que nem uma luva. O nosso público quer a sua própria identidade e de certo modo, seguir algumas tendências, mas mais de nichos e não tanto de massas.