De 1 a 11 de março, o concelho de Sintra recebe a sétima edição do Festival de Artes Performativas- Periferias, cujo destaque recai na lusofonia e nos novos talentos nacionais e internacionais.
O Espalha-Factos conversou com Nuno Correia Pinto, Presidente da Direção da Associação Cultural Chão de Oliva (entidade promotora do Periferias), que nos desvendou algumas das novidades a esperar desta edição do festival.
Novidades na sétima edição do Festival Periferias
Num festival onde estrela a diversidade, Nuno Correia Pinto afirma que a evolução natural que o Periferias sofreu surge pela necessidade de “oferecer uma programação eclética e diversificada ao público.”
Para tal, nesta edição, pode contar-se com o alargamento dos espaços do festival, como o Centro Cultural Olga Cadaval e o Palácio Nacional de Queluz.
O diretor da Chão de Oliva destaca também, nesta edição do Periferias, a dimensão lusófona na vertente de afro-descendência. Nuno Correia Pinto reforça que nas edições anteriores, o foco se canalizava na lusofonia importada, procurando também nas companhias estrangeiras uma posterior colaboração.
“Já é tempo da afro-descendência se afirmar como uma arte, como uma vivência diferenciadora.”
Uma outra novidade deste Periferias é a criação, a título experimental de uma oficina inclusiva com monitores da Fundação Calouste Gulbenkian. O intuito é integrar as crianças com necessidades especiais na programação do festival:
“Queremos que se gere uma energia positiva em torno destas oficinas, porque nos parece que estas crianças, em alguns momentos da sua vida, se sentem verdadeiramente periféricas.”
Outro destaque desta edição, é, segundo Nuno Pinto Correia, a oferta formativa, que o próprio assume como uma preparação deste púbico em crescimento no público consumidor de cultura no futuro.
“Uma outra vertente é a leitura de contos com sonoridades diferentes, de Cabo Verde, do Brasil, de Angola, da Guiné, por vezes com uma ou outra palavra muita estranha, mas que nós gostamos que as crianças oiçam na mesma e que percebam que faz também parte da nossa cultura, que é a lusofonia no seu melhor.”
Um projeto multidisciplinar para vários públicos
Num percurso arqueológico acerca do Periferias, Nuno Pinto Correia explica que este se compôs pela condensação da programação do Chão de Oliva, que se organizava por diferentes festivais.
Assim, a missão do Periferias, como refere o Presidente da direção, que parte do ADN do teatro do Chão de Oliva, gravita em torno da oferta cultural tendo em conta os diferentes públicos artísticos:
“O nosso público não é um público. Nós sabemos que hoje existem vários públicos. Trabalhamos para um público muito vasto e com hábitos culturais diversos.”
Neste sentido, Nuno Pinto Correia justifica algumas das escolhas mais arrojadas a nível da programação: não só porque têm em mente um público diferenciado, mas também para ir ao encontro da linha condutora do Festival- as periferias geográficas.
“Quando olhamos para o planisfério, percebemos que Sintra é realmente uma periferia. Até que alguém nos mostrou que, traçando duas medianas, Sintra está precisamente no centro.”
É em torno desta centralidade periférica que se organiza o Festival, com o ojetivo claro de colocar Sintra no mapa.
Da reinvenção do Periferias ao impacto social e económico
O Festival Periferias foi teve a sua primeira edição em 2011, em plena crise económica. Nuno Pinto Correia não esconde que o abalo financeiro da época foi uma fase tumultuosa, mas que inspirou o Chão de Oliva a desafiar-se ainda mais:
“A crise motiva-nos e temos aprendido a olhar para as dificuldades como oportunidades.”
Com muita criatividade, o Festival cativa o(s) seu(s) público(s) e Sintra (e as restantes periferias) sentem a mobilização cultural e o ímpeto das experiências artísticas. O impacto da adesão é sentido também pelo comércio e instituições da zona:
“As pessoas sentem no seu dia-a-dia, os benefícios deste festival: mais consumidores que entram nos cafés, nos restaurantes e, no fundo, esta é uma oportunidade de mostrarem os seus serviços.”
Destaques da 7.ª edição
Com uma programação variada, que contempla desde teatro, ópera, marionetas, performances, leituras de contos, exposições e até uma feira do livro, Nuno Pinto Correia destacou alguns dos eventos a não perder nesta edição do Festival Periferias.
A exposição Manifestação Popular Teatral- Bugios e Mourisqueiros, que está patente durante toda a programação do festival (de 1 a 11 de março) no MU.S.A, reporta-se à festa da Bugiada, em Valongo. Uma tradição mantida ao longo de muitos anos e com tendência a afirmar-se cada vez mais na região, é trazida agora a Sintra, como símbolo do poder comunitário e da valoração de uma cidadania conjunta.
No dia 3 de março, pelas 21h30, no Palácio Nacional de Queluz, a companhia Inestética apresenta a Ópera de Câmara adaptada do poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, para barítono, soprano e ensemble.
Já no dia 9 de março, também pelas 21h30, desta vez na Casa de Teatro de Sintra, Welket Bungué apresenta Tchon di Balanta, uma performance em torno das geografias interiores e da procura desbravar as heranças culturais.
A não perder também a Feira do livro de Artes Performativas, a decorrer no Espaço Periferias; o teatro de marionetas La Dernière Danse de Brigitte, no dia 11 de março, pelas 16h no Centro Cultural Olga Cadaval.