O mundo é feito de zonas cinzentas e a literatura, obviamente, também. É muito fácil polarizar determinados personagens da saga Harry Potter e definir que Voldemort é um dos maus da fita (o pior) e Harry um dos heróis (o grande herói). Mas existem dinâmicas que, apesar de muito estudadas, acabam por nunca ser combinadas e que alteram a visão geral da trama.
Logicamente que, para cada leitor, sua leitura. Contudo, existem figuras bem mais torturadas do que aquilo que, à primeira vista, queremos acreditar.
1. Draco Malfoy

Nascido e criado num seio de Slytherins de sangue puro, Malfoy foi fermentado em maldade e intriga desde o berço. Nada justifica as suas atitudes idiotas.
No entanto, com o desenvolvimento do personagem, conseguimos compreender que Draco é um rapaz inseguro e com um espaço de manobra reduzido. Enquanto Harry “joga” por não ter nada perder, o seu antagonista mais frágil é obrigado a “apostar”, mesmo não querendo, dadas as expectativas que sobre ele recaem.
Sendo um dos protagonistas mais desacreditados e incompreendidos da série, torna-se um dos principais responsáveis pela fama cobarde dos Slytherin (embora existam vários exemplos contrários). Um miúdo que ameaça constantemente os outros com a influência do seu pai deve nutrir por ele algum tipo de admiração, não? Pois é. Ninguém nasce “racista” e Draco só o é, por ter sido instruído nesse sentido.
2. Severus Snape

Considerado um dos melhores personagens da série, Snape não é só severo…é abusivo. Sabemos que ninguém quer enfrentar os factos e que o seu trabalho como agente de espionagem duvidoso, beneficiando a Ordem, é crucial. Mas vamos fechar os olhos aos seus tempos de comensal da morte, antes de começar a compactuar com Dumbledore? À forma intragável como tratava os seus alunos? E a paixoneta stalker pela Lilly? Temos de aceitar que, apesar de ter passado de besta a bestial, Snape é bastante difícil de defender.
3. Ron Weasley

Sim, os Gryffindor não sairão (de todo) impunes a esta análise. Comecemos por enunciar os problemas óbvios de Ron: a agressividade crescente, a sua masculinidade tóxica (associada aos seus complexos de inferioridade perante os seus pares), total impassibilidade perante causas sociais e, por fim, a sua relação abusiva com Hermione Granger (sendo, este último ponto, o mais perturbador).
No limiar de “prostituição” intelectual e da manipulação, até ao estereótipo do insulto como forma de afecto por parte do sexo masculino, o ruivo é uma violência com pernas. Em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, percebemos que o futuro de Granger e Weasley nem sequer se tornou mais resplandecente, quando nos é descrito quantas vezes este se encontra ébrio e qual a sua real opinião sobre o trabalho da esposa como Ministra da Magia (sem demasiados spoilers).
4. Hermione Granger

Ora, se Ron tem um problema, Hermione também. Depois de defender os direitos dos elfos-domésticos com o seu Fundo (FALE), a heroína que todos adoramos acaba por ficar com o mais apolítico e figadal dos sujeitos. A associação dela com o seu futuro esposo é completamente antagónica em relação ao seu caráter imponente, inconformado mas, também, cauteloso. Colocando sempre o seu percurso académico e os seus amigos em primeiro lugar, Granger vai ao limite na famosa cena ‘Obliviate’. Numa coisa Ron estava certo: ela tem as prioridades trocadas.
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5. Harry Potter

Podemos atacar toda e qualquer personagem, mas temos de assumir os erros dos heróis e as virtudes dos bandidos.
Potter, o nosso homem, não fica muito atrás ao ser testemunha silenciosa de todas estas vilezas. É de salientar o “erro” perigosíssimo que J.K. Rowling cometeu ao tirar Hermione dos braços do “escolhido”. Era menos mau, mas não era ideal: Harry convida Patel para o Yule Ball mas passa o tempo a pensar na rapariga que lhe deu com os pés, salva pessoas de afogamento só porque precisa de atenção (não podemos acreditar que a irmã de Fleur fosse morrer na segunda tarefa, só porque sim, sob a responsabilidade do Ministro da Magia e com imensa gente à volta). Toda a gente colocou a vida em risco por causa dele, enfim.
No fim de contas, depois de não reconhecer as capacidades ou a presença, sequer, da Ginny (excepto quando esta foi abduzida pelo mal) ao longo de quatro ou cinco livros acaba por se envolver com ela, a irmã mais nova do seu melhor amigo. Bem jogado, Potter. Volta, Viktor Krum.
6. Narcissa Malfoy

Narcissa merece um apontamento. Ela começa no lado errado do “jogo” mas (de forma menos impactante do que Snape) acaba por se redimir de forma absoluta, demonstrando que o seu amor por Draco é maior do que a sua devoção ao Senhor das Trevas.
7. Nymphadora Tonks

Tonks é uma das personagens mais subestimadas de toda a saga. Esquecemo-nos demais do quão fascinante ela é. As suas capacidades camaleónicas, a sua gravidez instável (consequência do seu caso com Lupin) e a sua relação com a tia Bellatrix são tudo circunstâncias que mereciam mais atenção.