Linha Fantasma, o mais recente filme de Paul Thomas Anderson, chega à salas de cinema portuguesas como um dos grandes favoritos aos Óscares, estando nomeado em seis categorias. É, talvez, a maior surpresa desta temporada de prémios, aparecendo no fim da corrida na dianteira. Mas ainda bem que assim o é, pois Linha Fantasma é também dos melhores filmes da carreira de Anderson.
Intrigante, sensual, inquietante e dolorosamente belo. É assim que podemos caracterizar este anti-romance que Paul Thomas Anderson grava. Andando na linha entre o academismo mais formal e o experimentalismo emocional, Anderson entrega-nos uma experiência cinemática que nos envolve tanto na sua beleza como na sua narrativa,esta habitada por personagens curiosamente negras.

Com o glamour da cidade de Londres do pós-guerra como pano de fundo, o costureiro de renome Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e a sua irmã Cyril (Lesley Manville) são peças fulcrais no panorama da moda Britânica, vestindo realeza, estrelas de cinema, herdeiras, socialites e damas com o distinto estilo d’A Casa de Woodcock. As mulheres entram e saem da vida de Reynolds, providenciando-lhe inspiração e companhia, até que ele se cruza com uma intrigante jovem, Alma (Vicky Krieps), que rapidamente se torna uma fixação na sua vida, como musa e amante. Antes controlada e planeada, ele vê agora a sua vida despedaçada pelo amor.
Linha Fantasma é um filme especial, daqueles tão bem feitos e realizados que nos deixa a sair da sala de cinema com aquele sentimento de “raios, não mudava nada“. Paul Thomas Anderson sempre nos habituou ao seu grande grau de profissionalismo, não fosse ele um dos maiores nomes da indústria independente norte-americana. Neste seu mais recente filme. que, na verdade, é quase britânico, a sua realização foi fulcral para determinar o ritmo da narrativa e o suave (mas ávido) desenlace da história.
Aliado à sua competência, paixão pela arte e na vontade de significar no cinema, Anderson teve a preciosa ajuda de outras três grandes componentes do tecido que compõe este Linha Fantasma: o elenco, o guarda-roupa e a banda-sonora de Jonny Greenwood, músico da banda Radiohead.

No elenco temos a que dizem ser a última performance na carreira de Daniel Day-Lewis. Se por um lado torcemos o nariz à reforma do ator, há que admitir que este enigmático e demente ser, de nome Reynolds Woodcock, não poderia ser melhor encarnado. A performance de Day-Lewis é tão subtil quanto extravagante, atrai-nos e repele-nos, é eloquente e insana. Woodcock é uma dicotomia humana e a peça central neste jogo do anti-romance que Anderson vai escrevendo em Linha Fantasma.
Falemos ainda de Vicky Krieps e Lesley Manville. Este triângulo imortal e imoral sustenta toda a ação do filme e é um regozijo vê-lo a interagir entre si e também com os mortais que por vezes habitam os salões da Casa Woodcock, desde condessas a princesas, costureiras e cozinheiras.
Jonny Greenwood dá depois os retoques para transformar Linha Fantasma naquele filme redondo, sem pontas soltas. A banda-sonora cria a sua própria narrativa, que não suplanta a criada por Anderson, mas que paralelamente entra em conformidade com a mesma. Acrescenta algo à película, mesmo vivendo por ela própria, e aumenta Linha Fantasma. O mesmo acontece com o guarda-roupa, que toma aqui a peculiaridade de se tornar, ele próprio, numa personagem secundária sempre presente.
Linha Fantasma é então isto. Um anti-romance que nos enlouquece, feito por alguém apaixonado pelo cinema e pela forma como ele pode significar. É o mais recente triunfo de Paul Thomas Anderson, que se confirma cada vez mais como um dos maiores nomes do cinema contemporâneo. Linha Fantasma é assim o filme com a maior capacidade de surpreender tudo e todos ao roubar o Óscar de Melhor Filme das mãos de Três Cartazes à Beira da Estrada ou A Forma da Água.
9/10
Título original: Phantom Thread
Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson
Elenco: Daniel Day-Lewis, Vicky Krieps, Lesley Manville
Género: Drama, Romance
Duração: 130 minutos