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Fonte: Cinema BOLD

‘Há Quem as Prefira de Véu’: vamos rir dos fundamentalismos?

Há Quem as Prefira de Véu e há quem as prefira sem ele. Há fundamentalistas islâmicos, há comunistas, há feministas. Cada qual com a sua verdade. E depois existe a iraniana Sou Abadi, cujo objetivo desta sua primeira longa-metragem de ficção é rir de todos eles. “Na esperança que, no fim, possamos rir todos juntos“.

Armand (Féliz Moati) e Leila (Camélia Jordana) são um jovem casal que se prepara para ingressar num estágio nas Nações Unidas. Até que chega o irmão de Leila, Mahmoud (William Lebghil), vindo de um campo religioso no Iémen e convertido naquilo que se pode considerar um fundamentalista islâmico. Mahmoud proíbe a irmã de sair de casa e é então que Armand – seguindo o lema “há dias em que é melhor a verdade não mostrar o rosto” – esconde-se atrás de uma burka para puder visitar Leila.

Através desta divertida história de amor, a realizadora iraniana Sou Abadi aborda diferentes questões políticas de forma inteligente e justa como a liberdade, o fundamentalismo islâmico, a imigração, o comunismo e o feminismo, entre outras.

A realizadora podia facilmente cair nos “lugares-comuns”, fazer uma distinção entre o certo e o errado e criticar o rumo de certas personagens, mas não o faz. Vemos a mãe de Armand, exilada política do Irão e acérrima feminista, a questionar de forma séria e preocupada o uso da burka em plena Europa – sendo em França proibido – e vários cidadãos franceses, que vão surgindo ao longo da história, a desprezar e a fazer troça da burka. Mas também vemos Armand a aperceber-se de que não é fácil escolher cobrir o rosto de acordo com as nossas crenças e a aprender passagens “bonitas” do Corão, que nada têm a ver com fundamentalismos.

A personagem-chave desta comédia romântica é Mahmoud, cuja morte dos pais o deixou desnorteado. Procurando uma nova ligação com o passado, decide cortar relações com o estilo de vida ocidental que adoptara e tornar-se fundamentalista. Mahmound mostra-se desiludido com França e interroga os seus valores. “Liberdade, igualdade, fraternidade“? Os imigrantes ilegais têm de arranjar histórias mirabolantes para obter o visto, pessoas de diferentes culturas e religiões vivem à margem dos franceses em bairros da periferia e o desemprego continua a subir.

E é assim que Sou Abadi deixa de criticar uns e outros. Troça deles todos e não nos deixa escolher apenas um dos lados. Ficamos-nos, talvez, a meio caminho, tal como o irmão mais novo de Mahmoud e Leila que acredita em Deus,  “mas não assim“.

O mundo não é a preto e branco. Também há o cinzento e, já dizia a personagem Leila, só não têm dúvidas “os animais, os imbecis, os ditadores e os jihadistas“. E Sou Abadi deixa-nos com imensas dúvidas.

6/10

Título original: Cherchez La Femme
Realização: Sou Abadi
Argumento: Sou Abadi
Elenco: Féliz Moati, Camélia Jordana, William Lebghil, Anne Alvaro, Predrag Manojlovic
Género: Comédia
Duração: 88 minutos