No primeiro dia da segunda edição da Web Summit em Portugal, Stan Chudnovsky, responsável pelo desenvolvimento da aplicação do Facebook Messenger, subiu ao Centre Stage. O developer do Facebook viria a protagonizar um dos momentos do dia, quando foi incapaz de garantir que a rede social evitaria o seu uso com fins de manipulação política.
À margem de uma talk sobre o futuro das conversações online, a jornalista Laurie Segall introduziu o polémico tema da ética na tecnologia. Apesar de algumas considerações sobre a transparência no diálogo com bots e pessoas, e do tempo usado para desmistificações relativamente aos anúncios relacionados no Facebook, foram as eleições norte-americanas de 2016 que voltaram a fazer escorrer tinta.
“Qual o papel do Facebook na proteção da democracia?”
Quando questionado acerca do impacto dos anúncios russos no ato eleitoral, atualmente em discussão no Congresso norte-americano, Chudnovsky quis “certificar que não volta a acontecer“.
No entanto, perante a insistência de Segall na clarificação do “papel do Facebook na proteção da democracia“, o desconforto começou a torna-se visível. O representante da empresa de Mark Zuckerberg optou por não responder, escudando-se na mais recente declaração do CEO sobre o assunto, proferida em outubro.
Perante uma última tentativa da profissional da CNN, que apela a que seja tornada clara a distinção entre factos políticos e opiniões ou suposições, Chudnovsky não vai além de relembrar a resposta do fundador do Facebook, afirmando não ter tempo para abordar a questão. “É o tipo de perguntas que não se pode responder em dois minutos“, numa tentativa de aproximação do fim da sua intervenção.
Um silêncio ensurdecedor, que nem a conversa sobre o passado do informático na psicologia ou a recordista meta que a rede social tem para o seu número de utilizadores conseguiram apagar.
Inteligência Artificial e Realidade Virtual também agitaram debate
A polémica em torno da política nos Estados Unidos não foi a única questão que dominou o debate. Inteligência artificial e realidade virtual, bem como os seus perigos e benefícios, motivaram o início do diálogo com Stan Chudnovsky com Laurie Segall à margem do tema The Evolution of Conversation.
O afirmou a sua confiança em que “as conversas vão migrar para as plataformas digitais”. A questão para si será: “Queremos mesmo falar com alguém quando podemos mandar mensagens?”.
A audiência assistia, quase apaticamente, à sua conversa quando chegamos ao que realmente o traz ao palco da Web Summit. As ferramentas para as empresas poderem comunicar com os seus clientes, os ditos bots, enquanto inteligência artificial. O bots estão agora a lidar com parte das conversas entre as empresas e clientes.
O paralelismo aqui será ver estes novos mecanismos como “alternativa aos serviços ao cliente telefónico”. O próximo passo será a possibilidade de efectuar pagamentos dentro do próprio Messenger. Para tal Chudnovsky revela estar a trabalhar com o PayPal, empresa que liderou até 2014, e com a Visa, na tentativa de concretizar esta nova etapa.
Ainda abordando a questão dos chatbots, discutem-se os limites que esta ferramenta tem em responder com eficiência e rapidez às necessidades dos utilizadores. A tentativa aqui será para não exista uma quebra na conversa, já que, até ao momento, a incapacidade de dar uma total resposta obrigue a que o serviço seja repartido entre o sistema de AI e trabalhadores do Facebook.
Fotografia: João Marcelino