Depois da vaga de escândalos sexuais que assombrou o sonho hollywoodesco, vai ser impossível fugir ao assunto na 90.ª edição dos Óscares. O apresentador e humorista Jimmy Kimmel fará piadas? A vencedora na categoria de Melhor Atriz centrará o seu discurso à volta da desigualdade de género? Não sabemos. Mas uma das opções é que a Academia premeie os filmes que considere feministas.
A desigualdade, seja ela qual for, não é novidade em Hollywood. Mas a cada ano parece ser atribuído destaque a uma nova questão discriminatória. Veja-se o caso do movimento #OscarsSoWhite, que foi o grande protagonista da cerimónia dos Óscares de 2016. É que a comunidade de Hollywood reparou que os nomeados eram sempre caucasianos…
E em 2017 a Academia quis deixar claro que isso não era bem assim: Moonlight foi considerado o Melhor Filme do ano; Mahershala Ali, o Melhor Ator Secundário e Viola Davis recebeu o prémio de Melhor Atriz Secundária. Nunca os Óscares foram tão “coloridos”.
Mas este ano há novos protagonistas: os escândalos sexuais. O produtor cinematográfico Harvey Weinstein foi acusado por dezenas de atrizes e modelos de assédio sexual; o ator Kevin Spacey – protagonista da série House of Cards – e Dustin Hoffman idem aspas e o realizador Roman Polanski enfrenta nova acusação de abuso sexual de uma criança.
Além da desigualdade salarial e diferença de oportunidades, as mulheres em Hollywood parecem ser as principais vítimas de assédio por parte dos colegas de trabalho. As vozes parecem erguer-se e as denúncias sucedem-se.
Irá a Academia vingar-se de Weinstein?
Harvey Weinstein foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, pelo que a sua influência na próxima cerimónia de entrega dos Óscares é nula. Entretanto o filme Wind River, acerca da investigação ao abuso sexual e homicídio de uma jovem, luta por se distanciar da Weinstein Co. – responsável pela sua produção – para ter uma oportunidade nos Oscars.
O que tem a Academia a dizer? Não sabemos. Mas pode querer punir os “infratores” e premiar filmes cujas personagens lutem pela igualdade de género e/ou representem mulheres destemidas, assim como dar visibilidade ao trabalho feminino que se desenrola por detrás das câmaras. Assim, filmes como Battle of the Sexes e The Post podem sair beneficiados.
Battle of the Sexes – de Jonathan Dayton e Valerie Faria – revela todos os pormenores da mítica partida de ténis entre a melhor tenista mundial Billie Jean King (Emma Stone) e o ex-campeão Bobby Riggs (Steve Carell) em 1973. A disputa foi intensa e graças a Billie Jean King, os holofotes abandonaram o campo de ténis para se virarem para as questões de género. É esperada uma grande interpretação de Emma Stone.

Steven Spielberg aposta tudo em The Post, com Tom Hanks e Meryl Streep nos principais papéis. Os dois são editores do consagrado The Washington Post e recebem um controverso documento sobre o papel dos EUA durante a Guerra do Vietname. Mais um filme sobre jornalismo que pode atingir o sucesso de Spotlight, que recebeu o Óscar de Melhor Filme em 2015.
Em The Post Meryl Streep veste a pele da editora Katharine Graham, que enfrentou o marido para puder singrar na sua carreira. Atrás das câmaras há a co-argumentista Liz Hannah e as produtoras Kristie Macosko Krieger e Amy Pascal.

Além destes, temos por exemplo Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, de Martin McDonagh’s, no qual a atriz Frances McDormand interpreta uma mãe que pressiona as autoridades para resolver o homicídio da sua filha.
As mulheres podem ainda receber destaque na realização. Angelina Jolie realizou First They Killed My Father; Patty Jenkins a Wonder Woman; Greta Gerwig, com Lady Bird e Dee Rees com Mudbound.
Resta-nos esperar pelo dia 4 de março para descobrir o que se vai contar, ou omitir, acerca dos escândalos sexuais de Hollywood.