Reflexão é o conceito chave da conferência O Futuro dos Media – Jornalismo e serviço público na era digital, organizada pela RTP. A conferência decorre durante o dia de hoje no auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Num universo mediático marcado pela incerteza, pela globalização e pela entrada em jogo de novos players, a reflexão crítica pode ser o caminho para a criação de oportunidades e afirmação dos valores fundamentais na prática do jornalismo de qualidade.
“Nós fazemos este debate porque achamos que o papel da RTP não deve ser apenas o de produzir bons conteúdos de rádio, televisão e digital, todos os dias. O nosso papel deve ser mesmo fomentar a reflexão, cruzar ideias, ouvir perspetivas e contribuir para uma reflexão sobre o setor”, comentou Gonçalo Reis, presidente do conselho de administração do canal público.
“Nós achamos que o papel da RTP não é só produzir conteúdos, é também ser, no fundo, um agente reflector”, acrescentou.
Valores como a independência, diversidade, moderação, tolerância e inclusão estiveram em destaque neste primeiro momento de discussão. Dominique Wolton, sociólogo francês e especialista em ciências da comunicação, foi a figura central no primeiro debate da conferência.
A intervenção do sociólogo focou-se na importância do papel dos media em estabelecer uma coesão social. Num presente em que há uma tendência para a individualização do recetor e para a uniformização dos conteúdos produzidos pelo emissor, devemos procurar combater a tirania financeira que domina o mercado da comunicação.
Revalorização do papel de serviço público
Nuno Artur Silva, administrador da estação pública, afirmou que a principal diferença entre o setor público e o privado diz respeito à alocação do destaque e à prioridade do investimento. A diversidade é cada vez maior e são, também, cada vez mais os conteúdos de nicho que promovem uma individualização dos espectadores. Para Nuno Silva, esta individualização é uma ameaça ao debate crítico e, por isso, à democracia.
Não esquecendo o futuro, Manuel Falcão aproveitou para destacar dois exemplos que provam que a progressão tecnológica pode melhorar a qualidade editorial de um órgão de comunicação social. The New York Times e Washington Post foram as duas publicações destacadas pelo jornalista.
Gustavo Cardoso relembrou a importância da recomposição do mercado. O professor catedrático do ISCTE-IUL acredita que os principais media tradicionais têm estado “demasiado preocupados a sobreviver para fazer um planeamento estratégico do seu futuro”.