Os cinco de Mem Martins apresentaram o seu novo disco, Nada é por Acaso, no Musicbox, em Lisboa. E nunca a Linha de Sintra esteve tão perto do Cais do Sodré como naquela noite.
De vez em quando, há noites em que os astros se alinham (ou desalinham) e há que fazer escolhas difíceis nos concertos a acompanhar nas salas de espetáculos lisboetas. E o dia 6 de outubro foi uma dessas noites: Grognation ou a noite de Enchufada, mesmo ali ao lado? Optámos pela primeira opção, e, sim, mesmo que isso tenha implicado ter de ouvir Mike Lyte, o responsável pela primeira parte que nos deixou com muitas saudades do autotune, esse salvador de tímpanos. Ainda ouvimos na plateia quem estivesse à espera de Mike El Nite, dada a parecença de nomes – e quem nos dera.
Voltemos ao ponto principal da escolha, feita para perceber o fenómeno Grognation e medir o pulso ao disco Nada é Por Acaso.
Quer dizer, não se pode bem dizer que seja medir: lançado em abril deste ano, o primeiro longa-duração do grupo lisboeta já roda há muito no Spotify desta vida, permitindo ao público que esgotou o Musicbox ir com as letras na ponta da língua e os movimentos estratégicos para saltar mesmo, mesmo na ponta do pé.
Embora seja a estreia num formato de longa-duração, os Grognation não são propriamente estreantes – aliás, para quem já passou algumas vezes pelos palcos do Sudoeste, o Musicbox certamente parece uma caixinha de sapatos. Debaixo do braço, já contam com EP como Sem Censura ou Na Via, de onde saíram temas como Distante ou Na Casa dos Vinte, que não foram deixados de lado nesta apresentação.
Ao desfiar temas como Ankuras, Vou na Mema ou Circo, os cinco provam que sabem controlar bem o público e levar a plateia a uma sincronia quase perfeita entre saltos, braços no ar e refrões bem repetidos.
Mas, talvez, a maior prova dos nove do talento dos Grognation seja mesmo a capacidade de criar um clima de intimidade e transparência, como presenciámos em Dá-me Espaço, de uma mixtape Dropa Fogo, que ficou lá atrás – mas que não está de todo esquecida. Um momento de mestre, de luzes suaves, com lanternas e isqueiros a acompanhar.
Numa amálgama de oscilações entre crítica, punches e agitação, os temas mais românticos e calmos não ficam de fora das métricas do grupo: Chama-me Nomes ou Amar Para Esquecer também ajudam a compor um ramalhete de temas deste disco.
Os Grognation não são propriamente uma novidade de agora. Afinal, quem conta com o apoio de nomes como Sam The Kid ou NBC logo no início de carreira mostra que não será um fenómeno efémero. E, depois daquela noite no Musicbox, a ideia fica reforçada – há que mantê-los debaixo de olho, porque Nada é Por Acaso.
Fotos: André Pêga.