O final do verão não significa apenas a despedida do sol e do calor mas, mais importante do que isso, significa o fim dos festivais da estação. No entanto, antes que as folhas caducas comecem a enfeitar as ruas, os ouvidos mais alternativos e aventureiros ainda têm mais uma peregrinação no calendário: falo do Reverence, agora em Santarém.
O Reverence não é um festival stoner nem psych, é sim uma simbiose entre música pesada e música psicadélica. Sara Cunha, organização do Reverence Santarém
O Reverence de 2017 vai-se realizar em Santarém, depois de nas três anteriores edições ter-se mantido por Valada. A juntar a esta mudança de local, este ano teremos também uma nova identidade no cartaz que abandona o psych rock e o stoner para dar um maior destaque ao post rock e ao post metal.
Espalha-Factos – Ao contrário dos anos anteriores, esta edição revelou os primeiros nomes bastante mais tarde do que o habitual, com os fãs mais assíduos a manifestarem-se nas redes sociais. Como foram recebidas essas críticas pela organização do festival?
Reverence – Foram recebidas com alguma naturalidade, pois já havia muitas perguntas e sentíamos alguma pressão por parte dos fãs do festival desde o final da edição 2016. Infelizmente só conseguimos montar e comunicar esta edição mais tarde que o habitual; primeiro porque mudámos de local e, depois, porque houve a necessidade de assegurar alguns pontos importantes para a realização do mesmo. No final, conseguimos tornar uma vez mais o Reverence uma realidade e, do nosso ponto de vista, isso é o que mais interessa.
EF- Para além da mudança de espaço, também o cartaz volta o seu foco do stoner e psych rock para outros estilos. O que levou a esta mudança de paradigma? E que outras diferenças é que podemos encontrar das edições feitas em Valada?
Reverence- O foco mantém se no peso e no psych. É verdade que não há tanto stoner, mas há psych em boa quantidade e qualidade – basta, de resto, olhar para a curadoria da Fuzz Club, juntamente com as lendas Trad Gras Och Stenar, Hills, Desert Mountain Tribe e percebe-se que o psicadelismo continua bem presente no evento e com excelente qualidade.
O Reverence não é um festival stoner nem psych, é sim uma simbiose entre música pesada e música psicadélica. Na vertente de peso, este ano virámos o foco mais para o post metal. Primeiro pelo pouco tempo que tivemos para fechar cartaz, algo construído em pouco mais de três semanas estando um pouco reféns da disponibilidade existente e depois pela já planeada homenagem aos Moonspell pelos seus 25 anos de carreira.
EF- Iremos observar melhorias no espaço de campismo?
Reverence- Este ano, com a mudança de local, não há ponto de comparação. Temos as condições básicas prontas e esperemos que seja do agrado de todos. Além disso, haverá animação no campismo, que tem a sua própria praia fluvial junto ao Tejo.
EF- Voltando ao cartaz deste ano: há uma forte presença de bandas nacionais. Será que esta aposta no talento nacional é um reconhecimento do trabalho que se tem desenvolvidos por cá, ao longo dos anos?
Reverence- O cartaz deste ano tem 20 bandas estrangeiras e as bandas portuguesas
andam à volta do mesmo número. O talento português não deixa de ser uma grande aposta, talvez mais este ano do que nas edições anteriores. Isso deve se ao facto de termos excelentes bandas com um futuro muito promissor. Basta observar o percurso dos Sinistro e perceber o hype que bandas como Névoa ou Lobo já têm. Depois há também a intenção de mostrar coisas novas como os Wildnorthe, Cows Caos ou Zarco, entre muitas outras.
EF- Ao longo de todas as edições do Reverence, este festival conseguiu trazer muitas icónicas bandas a Portugal, inclusive muitas delas que nunca tinham estado neste país. Como é que se sentem ao trabalhar com tantos músicos icónicos?
Reverence – É um orgulho olhar para trás e perceber que já se faz tanto nestes quatro anos e que o festival é uma referência, não só cá mas também lá fora. É uma sensação muito boa quando conhecemos alguém que admiramos e que nos influencia.
EF- Quais foram aqueles que mais orgulho trazem ao poder afirmar “esta banda/músico” já estiverem no Reverence?
Reverence- Todos aqueles que admiramos, mas talvez um pouquinho mais os que conseguimos trazer pela primeira vez… seja ter o Anton Newcombe e os Brian Jonestown Massacre, The Damned, Black Angels, Sleep, Sleepy Sun, Christian Bland, the Revelators, mas também aqueles que vieram pelo festival e acabaram por tocar dias antes em qualquer ponto do país como os Asteroid e outros.
EF- Que bandas é que destacam deste cartaz?
Reverence– O regresso dos Gang of Four, Mono, Amenra, Bo Ningen, HIlls, Trad Gras och Stenar, Sinistro e o enterro dos 25 anos de Moonspell onde será provavelmente a ultima oportunidade de ouvirem o Wolfheart e o Irreligious tocados na integra.
EF – Para além do já conhecido desejo de trazer os Black Sabbath a este festival, que outras bandas é que gostariam que fizesse parte deste cartaz?
Reverence – Tool seriam a minha escolha, mas há muitas mais. Desde os Ghost of a Saber Tooth Tiger, por Nick Cave, Jesus and Mary Chain, Slowdive ou My Bloody Valentine. A lista é interminável.
EF- Por último, se pudesse escolher um nome das edições passadas
para voltar a tocar neste festival, qual é que era?
Reverence – São muitas as bandas que gostaríamos de voltar a trazer, mas Electric Wizard e Black Angels teriam prioridade. A nível pessoal, quero muito voltar a ver os Asteroid.