O Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, o já célebre MOTELX, é um dos prazeres habituais de Setembro dos cinéfilos lisboetas. Passava ontem pouco da hora marcada, 21h30, quando começou a sessão de abertura esgotada do festival.
A organização iniciou a apresentação na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge a recordar dois mestres do terror recentemente falecidos, os “intemporais” George A. Romero e Tobe Hooper, convidados de honra do festival em 2010 e em 2013, respetivamente.
Foram apresentados também os convidados da 11.ª edição do MOTELX, entre os quais a atriz Maria João Bastos, o músico Carlão e o realizador turco Can Evrenol (de Housewife, parte da secção Serviço de Quarto), júri para o prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa; os atores Rogério Samora e Íris Cayatte e o escritor e crítico inglês Kim Newman, júri para o prémio de Melhor Longa de Terror Europeia; e os convidados de honra, Roger Corman e Alejandro Jodorowsky.
Carlão, Newman e Samora estiveram presentes para expressar gratidão pela oportunidade dada pela organização. No entanto, ninguém foi tão aplaudido como Corman quando subiu ao palco da Sala Manoel de Oliveira, afirmando já ter uma ideia do que iria ser exibido ao longo da semana, sugerindo “uma programação maravilhosa“, a qual estava feliz por partilhar com a audiência.
Um dos momentos altos da apresentação, merecedor de fortes aplausos e reação da plateia, passou pelas mãos do patrocinador principal do festival este ano, a easyJet. Foram apresentados em palco dois aquários, um com cobras, outro com larvas: um passatempo que passará por sorteio na sessão de encerramento do festival, em que três pessoas retirarão um bilhete para Londres, Madrid ou Paris.
Houve ainda tempo para palavras do Secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que enalteceu o MOTELX como uma “possibilidade de nos redimirmos, do prazer culpado de gostarmos de filmes de terror“, aludindo ao espírito de partilha que há em ver cinema enquanto parte de uma audiência.
Antes de começar o filme de abertura, foi exibida a curta oficial do festival, 20.02.80, de Jerónimo Rocha. A curta faz parte da campanha de publicidade deste ano do MOTELX e é protagonizada pelos diabos de vinhais, elementos do folclore mais obscuro do norte de Portugal.
Super Dark Times – 6/10
(Filme de abertura / Secção Serviço de Quarto)
Mais que qualquer outra coisa, Super Dark Times foi uma péssima escolha para abrir o festival. É um filme decente, mas que de terror não tem nada, quanto muito de thriller psicológico. Talvez a escolha tenha recaído sobre o facto de que a fita se coaduna com aquele que se antecipa o grande encerramento, It, graças ao seu enredo, que lida com menores e brincadeiras perigosas.
O filme de Kevin Phillips tem uma cinematografia espantosa, e dois protagonistas – Owen Campbell e Charlie Tahan – de grande talento. Infelizmente, e apesar de não ser uma linhagem de clichés, é um filme que começa com uma metáfora visual pretensiosa e, daí para a frente, não tem nada de muito interessante para contar. Ainda assim prende-nos com a dúvida de Zach (Campbell), chegando a um antecipado clímax tenso.
Pena é que nem toda a plateia tenha chegado até lá. Não obstante a competência do filme, a verdade é que, talvez levados pela desilusão (ou pelo ritmo lento) da fita, houve alguns espetadores desistentes a meio da sessão. Os momentos típicos de aplauso durante o filme também não se verificaram na abertura deste MOTELX. Dava para escolher melhor.
Os Crimes de Limehouse – 6/10
(Secção Prémio Melhor Longa de Terror Europeia)
A segunda grande atração da noite, a única sessão da meia-noite, foi também um “simples” thriller. O peso de abrir o festival já não lhe recaiu, mas ainda assim, para a história que se propõe a contar, era precisa outra abordagem.
A fita de Juan Carlos Medina ganhava em ser negra e sombria, qual Zodiac na Londres vitoriana; em vez disso, nota-se um tom de ligeireza que atenua os twists e efeito da narrativa. A progressão da mesma é fluida e dir-se-ia que este é daqueles filmes que começam mornos e vão melhorando até ao final.
A respeito dos valores de produção, há grandes figurinos e caraterização; é angustiante, no entanto, perceber constantemente que todo o filme foi filmado em estúdio, o que afeta bastante o impacto que poderia ter.
De verdadeiro realce, um Bill Nighy sempre fantástico, como já é apanágio.