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Foto de António Barreto.

Da caça às bruxas à desconfiança nos media: os ‘truques’ do jornalismo português

O mundo do jornalismo português encontra-se numa autêntica caça às bruxas. Quem será que está por detrás da página Truques da Imprensa Portuguesa? A resposta foi desvendada, o anonimato quebrado. Agora o que nos resta saber é o porquê de acharem que isto seria uma informação relevante.

Os Truques da Imprensa, para quem ainda não conhece, é uma página de Facebook que começou a sua atividade em 2015. Passados menos de dois anos, conta já com 150.000 fãs na mesma rede social e centenas de posts a fazerem várias denúncias aos meios de comunicação portugueses: desde clickbaits a desinformação, passando por agressões ao código deontológico à amoralidade do sensacionalismo. Nos Truques da Imprensa já se expuseram bastantes destes casos mas também já houve espaço para alguns elogios.
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A imprensa e os valores jornalísticos estão em falência. Isto é um facto. Quem os denuncia não é, no entanto, responsável ou contribuinte para essa mesma falência, apenas a torna pública ou, se quiserem, tenta informar àqueles que são informados que os seus informadores não são sempre fiáveis, que apesar de códigos e éticas também eles têm interesses, opiniões e são, acima de tudo, ávidos por cliques, partilhas e gostos.
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Quando surgiu esta página no Facebook, devo ter sido dos mais rápidos a começar a segui-la. Aluno num curso de jornalismo com intenções frustradas de se tornar num jornalista de profissão e demasiado fã de House of Cards, era óbvio que esta página me ia suscitar o interesse.
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Acompanhei muitas das peripécias que lá foram publicando. Desde os títulos e notícias que a página “obrigou” os meios de comunicação convencionais a alterarem, por estarem ora errados ora fora do contexto, a casos de denúncias mais graves como a partilha por parte dos media de vídeos de violações na queima das fitas do Porto, passando por algo mais ligeiro como gaffes nos títulos de artigos onde apareceu o que quase transformou num meme do jornalismo português “não publicar sem o OK do Hugo“.

Na verdade é sempre bom, numa sociedade democrática, que haja um frequente escrutínio

No entanto, algo que nunca me foi transmitido durante este ano de subscrição nesta página foi qualquer ideologia partidária ou qualquer intenção com o propósito de manchar um nome específico da imprensa portuguesa.
O propósito é de facto o oposto, tentar informar os desinformados e denunciar os que desinformam. Claro que há textos mais inflamados que outros, mas, e como dizem na terra onde cresci: há que separar sempre o trigo do joio. O serviço a que o Truques da Imprensa se propõe a fazer nunca me chocou, porque na verdade é sempre bom, numa sociedade democrática, que haja o frequente escrutínio das instituições instaladas e que detenham um papel ou poder relevante na formação da cidadania.
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O que na verdade me chocou e pesou foi o cerco que alguns jornalistas fizeram à volta desta página e dos seus respetivos colaboradores/administradores. Instaurou-se uma autêntica caça às bruxas, uma purga aos infiéis. Montou-se um circo mediático à volta da figura do anonimato do Truques da Imprensa, como se eles, na verdade, tivessem de se identificar, ou se isso interessasse para alguma coisa. Anónimos ou não, montou-se quase uma inquisição contra as supostas heresias que a página ia denunciando no seu facebook e mostrou-se o quão a imprensa portuguesa não gosta de ser alvo de escrutínio.
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Houve reações de todos os géneros por parte de jornalistas, normalmente sempre em cargos de relevância dentro de uma redação. Desde trágicas e escusadas comparações entre os membros dos Truques e o KKK, a balbucios nas redes sociais sobre os códigos deontológicos, acabando agora num triste post de facebook a “desmascarar” um dos administradores da página começando um estapafúrdio texto com “Olha, olha. Já se sabe o nome de um dos rapazolas dos Truques da Imprensa Portuguesa“.
Ana Banha.
Se tanto é o seu dever de escrutinar o poder político e o económico, não deviam eles deixar que os outros os escrutinem? Vivemos na época da pós-verdade, das notícias falsas, do tweetbait e do instantâneo. E se os nossos meios de comunicação estão mais preocupados a fazer purgas a páginas de facebook que os denunciam (e se há essa necessidade) em vez de encontrar formas de lutar contra o novo paradigma do imediatismo, é porque merecem o escrutínio de que são alvo.
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Nota: Este artigo foi escrito por Ricardo Rodrigues, a fotografia que acompanha o seu perfil é de costas voltadas, mas não por ser anónimo, é só porque é “cool”. Até à data o autor não tem qualquer filiação partidária nem nunca demonstrou tendência para qualquer ideologia política nas suas redes. O autor não tem qualquer clube porque na verdade acha o futebol chato. Não assina com três nomes no facebook, não usa muito o Twitter nem tem qualquer vendetta com nenhum meio de comunicação específico. Nunca escreveu no P3 nem sequer votou nas Presidenciais porque se encontrava a fazer um estágio não remunerado na Bulgária (já que é para os fazer, mais vale ser naqueles programas apoiados pela União Europeia). Já agora, é euro-entusiasta e cresceu em Mafra, mas não é monárquico.

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