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a vida em espera

A Vida em Espera: Bryan Cranston e o naufrágio da moral

Bryan Cranston não era certamente uma das caras mais conhecidas do mundo do entretenimento, até dar vida a Walter White na primeira temporada de Breaking Bad – Ruptura Total (2008). A série, que viria a tornar-se um clássico televisivo, trouxe-lhe quatro nomeações aos Emmys – incluindo uma vitória em 2014 -, assim como o reconhecimento internacional e a chegada de papéis mais sumarentos no cinema.

Passando de papéis mais secundários, como no icónico Drive – Risco Duplo (2011) e no premiado Argo (2012), para papéis principais, Cranston é agora o primeiro nome no poster dos seus filmes, tendo sido nomeado ao Oscar de Melhor Ator no ano passado por Trumbo. Em A Vida em Espera, escrito e realizado por Robin Swicord (nomeada ao Oscar de Melhor Argumento Adaptado em 2009, por O Estranho Caso de Benjamin Button), tem o seu mais recente grande papel.

Adaptado de um conto de E.L. Doctorow, a fita apresenta-nos Howard Wakefield (Cranston). Profissionalmente bem sucedido, ao final de uma tarde, Howard, ganhando noção do esgotamento à beira do qual se encontra, num impulso, decide desaparecer da sua vida familiar. De exílio auto-imposto no sótão da sua garagem, e a sobreviver de restos que procura quando sai à noite, Howard fascina-se ao observar as vidas da sua mulher, Diana (Jennifer Garner), das suas filhas gémeas e dos vizinhos. Com o tempo a passar, e com o afastamento a crescer, a situação torna-se moralmente insustentável, e a reflexão sobre o que o terá levado até ali, assim como os desenlaces possíveis instala-se.

Diana (Jennifer Garner), a mulher de Howard (Bryan Cranston).

O novo filme de Swicord, se pensarmos em histórias sobre esgotamentos nervosos, tem um dos pontos de partida mais curiosos. O isolamento é uma das origens mais férteis para o cinema dramático; a exploração da psique, dor e penitência dos protagonistas é um caminho com múltiplas saídas, e é de grande satisfação ver A Vida em Espera seguir boas possibilidades. O começo caricato da história prende de imediato a atenção, e essa é a particular qualidade do argumento de Swicord, de despertar antecipação com o decorrer de uma premissa tão básica, ao mesmo tempo que ostenta laivos subtis de humor negro.

Infelizmente, nem tudo é perfeito. Em favor do seu fator surpresa, A Vida em Espera descura em muito a verosimilidade, chegando ao ponto em que a suspension of disbelief já não é suficiente. Por vezes, cai no derivativo, com eventos que jamais pareceriam possíveis, quanto menos apropriados, na situação do protagonista. O objetivo em dar fluxo a uma narrativa que consiste somente de um homem num sótão é claro, mas não nos enganemos, sem tais artimanhas o interesse do filme gastava-se depressa.

As viagens ao passado parecem parte de outra obra diferente, e isto ainda peca pela falta de arrojo em retratar a relação de Howard e Diana. Incómoda chega a ser a narração de Howard, lembrando-nos sempre e constantemente que a fita está presa a uma origem demasiado literária.

Não obstante, Cranston dá aqui mais uma das suas grandes interpretações. Não chega ao nível dos seus Walter White e Dalton Trumbo, mas não é menos que fantástico ver um dos grandes atores da atualidade isolado num sótão, despojado de distrações, oferecendo uma performance crua e determinada no seu sentimento de perda.

Garner é uma pequena revelação, mesmo dentro do seu já habitual papel de mãe dos subúrbios. A maior parte do tempo transmite emoção limitada pelo silêncio da distância entre a casa e o sótão, mas vista daquela janela circular, não deixa dúvidas face à transição de espírito da mulher que interpreta.

A fita acaba, e a primeira ideia que se retém é que com A Vida em Espera havia capacidade de se gerar um grande filme, que se ficou pelo suficiente. Após uma análise mais pensada, no entanto, depressa se chega à conclusão que o cerne desta mesma narrativa tem as suas limitações, e que talvez Swicord e os seus protagonistas tenham tirado máximo partido do potencial filme a fazer.

A Vida em Espera vence, ainda assim, por ser um drama com uma premissa invulgar e cativante, que nos agarra pela performance honesta da sua dupla protagonista, e por alguma audácia em manipular a situação do personagem principal, conferindo-lhe uma empatia que supostamente não era para ser encontrada.

É uma obra que não deixa de ter o seu interesse. Só que talvez tivesse resultado melhor como uma curta-metragem.

 

6/10

Título original: Wakefield
Realização: Robin Swicord
Argumento: Robin Swicord
Elenco: Bryan Cranston, Jennifer Garner, Beverly D’Angelo, Jason O’Mara, Ian Anthony Dale, Pippa Bennet-Warner, Isaac Leyva
Género: Drama
Duração: 106 minutos

  1. Bem haja,tive a oportunidade de ver o filme,uma historia linda mas a pergunta que nao quer calar em mim,e o seguinte depois que ele decidiu chegar em casa visto que as suas filhas e a mulher ficaram supriendidas,o que que aconteceu ,a familia recebeu o bem a mulher voltou a amar lhe?? Sera que a historia ou o filme tem a segunda parte?

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