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Karl Marx City: Viagem a um passado incerto

A República Democrática Alemã, foi, indubitavelmente, uma das sociedades mais altamente vigiadas da história da humanidade, marcando uma época também ela pautada por uma forte instabilidade e incerteza do futuro. Neste propósito, e à medida que caminhamos a passos largos desde o término da Guerra Fria, o legado deixado por um dos episódios mais marcantes da história contemporânea, tem sido, gradualmente, utilizado e reutilizado nas mais diversas produções de cinema.

Não vivêssemos nós numa era em que qualquer acontecimento histórico fosse passível de uma abordagem cinematográfica, contribuindo, assim, para a sua saturação temática.

O aparecimento de um filme como Karl Marx City revela-se, portanto, extremamente pertinente uma vez surgir numa corrente contrária a esta cada vez mais plástica tendência do cinema histórico.

Realizado por Petra Epperlein, juntamente com o seu marido e co-realizador Michael Tucker, Karl Marx City é um documentário sobre a jornada de investigação da realizadora de modo a descobrir as razões que culminaram no suicídio do seu pai, em 1999. Nascida na Alemanha de Leste, em 1966, mais concretamente na cidade de Karl Marx City (atualmente denominada como Chemnitz), Epperlein regressa às suas origens para uma investigação sobre os mistérios por detrás do Muro de Berlim que se revela, no mínimo, arrebatadora.

Ao mergulhar nos arquivos da Stasi, policia secreta da época que Epperlein acredita estar estritamente relacionada com o suicídio do progenitor, a realizadora descobre que a sua vida fora, pormenorizadamente, vigiada e documentada pelo excessiva vigilância do regime. No fundo, ao proceder a este controlo sobre a sua população, a polícia secreta da República Democrática Alemã, acabou ela própria por criar um documentário perfeito de si mesma.

De facto, através de uma abordagem focado nos factos, Karl Marx City acaba por ser uma película condenatória de As Vidas dos Outros, o mais famoso filme sobre a Stasi alguma fez feito. Epperlein insiste que a história do filme vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2007, é absurda, uma vez o estado de vigilância ser demasiado completo para estimular a faceta moral de alguém, mas é difícil argumentar com o dramático pontapé manipulador do emocionante e sentimental filme de Florian Henckel von Donnersmarck. A experiência de Epperlein sugere que, para a maioria dos civis que viviam na República Democrática Alemã, ninguém se preocupou em dizer-lhes que a privacidade é um direito, e não um luxo, e por isso eles aprenderam a viver dessa forma que, aos nossos olhos, na sociedade em que nos encontramos, se torna tão repudiante.

Filmado a preto e branco, Karl Marx City consegue absorver o espectador ao longo dos seus praticamente 90 minutos de sequências de memórias e depoimentos de testemunhas, transportando-o para uma realidade desconhecida pela maioria, chegando mesmo a pôr em causa o estado de segurança contemporâneo. Por cada resposta alcançada pela realizadora, as dúvidas revelam-se cada vez mais e mais comprometedoras. Aliás, trata-se apenas do preço que acabamos por pagar por querermos olhar tudo de tão perto!

6/10

Ficha Técnica

Título: Karl Marx City

Realizador: Michael Tucker, Petra Epperlein

Argumento: Michael Tucker, Petra Epperlein

Género: Documentário

Duração: 89 minutos

 

 

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