Filhos da Mãe, uma produção Nova Companhia, com direção de Martim Pedroso, está em cena até 18 de fevereiro, no São Luiz Teatro Municipal. Um espetáculo que, inspirado na realidade, conta sem pudor, com poética e política, as estórias da maternidade.
Com interpretação e cocriação de Flávia Gusmão, Joana Seixas, Katrin Kaasa, Rita Calçada Bastos e Vera Kolodzig, Filhos da Mãe é a sequência natural da peça Consegues ver os teus pés? Em 2014, Flávia Gusmão e outras atrizes grávidas exibiram, no palco do Teatro Taborda, as suas proeminentes barrigas numa divagação poético-dramática sobre como o estado gestacional influencia direta e indiretamente a vida e a representação de seis mulheres.
Três anos mais tarde, transforma-se o palco do São Luiz Teatro Municipal para contar cinco estórias sobre a maternidade, numa tentativa de desvendar a verdadeira história da maternidade, sem pudores e com a presença de cinco mães e cinco filhos (dois emprestados), Carolina e Lia Pedroso e Silva, Djodja Gusmão Rebelo, Eva Soares Ribeiro e Gustavo Seixas Laço.
O sentido da maternidade
O cenário, composto predominantemente por quadrados gigantes (que, em conjunto, constituem um imponente cubo de rubik ao centro), faz lembrar um colorido espaço de recreio. Neste sentido, para além da sua faceta divertida e curiosa, revela-se uma fonte de pesos e dúvidas. O quebra-cabeças, cujas peças são movimentadas pelas atrizes ao longo do espetáculo, pode ser entendido como, mais do que um adereço, uma representação simbólica da maternidade: ser mãe é fazer ginástica, mental e física.
Na primeira parte da peça, as mães encontram-se em palco com os seus filhos que, sendo pequenos, são imprevisíveis, tratando-se por isso de teatro documental. Enquanto as atrizes evocam memórias (a primeira vez que foram à praia ou a primeira vez que olharam para os seus filhos), as crianças agem naturalmente. Há um reflexo do que é a vida no dia-a-dia, fora de um palco e longe do público, com as brincadeiras, as birras e os pedidos de mama.
Quando as crianças saem de cena, a voz das mães é, efetivamente, mais presente e poderosa. O orgulho pelas crias, embora não deixe de existir, é substituído pelas angústias inevitáveis da maternidade: a sensação de esgotamento, o receio de que os filhos venham a gostar mais de outras pessoas do que das próprias mães, o confronto com as expetativas dos outros e com os seus próprios desejos e sentimentos.
Uma reflexão sobre ser mãe
Por outro lado, as tragédias gregas de Medeia, Hécuba e Édipo são apresentadas através das mães, a que matou os filhos, a que os perdeu e a que cometeu incesto. Porque a maternidade não é fácil e já a antiguidade o apregoava. As mães despem-se (literalmente) e tentam libertar-se dos seus pecados e dos grilhões da sociedade.
Por fim, encerra-se um ciclo através de um exercício de projeção de como serão os filhos quando tiverem a idade que as suas mães têm agora. Que memórias têm da sua infância? O que pensam das suas mães? Quem são?
Um espetáculo que reflete e questiona, desmistificando a ideia de super-mãe e expondo as dificuldades de se deixar de ser a Rita para se passar a ser a mãe da Eva, de ter de criar um outro ser que é mais do que uma extensão de nós e de recear não lhe dar a melhor educação.
Filhos da Mãe está até dia 12 de fevereiro, de quinta a domingo, às 19h, no São Luiz Teatro Municipal. O bilhete tem preço único de 12€ e pode ser adquirido no teatro ou na bilheteira online.