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Top 5: os melhores episódios de ‘Black Mirror’

Em 2011, o Channel 4 lançou uma das suas brilhantes séries, intitulada Black Mirror, criada por Charlie Brooker. Contando já com três temporadas, a série foi inserida no catálogo da Netflix no ano passado, e apresenta-se sob o formato de antalogia, em que cada episódio apresenta uma história, personagens e cenários únicos.

A série retrata a sociedade contemporânea de uma forma satírica, com foco especial nos perigos que o avanço da tecnologia pode representar para a população. Embora cada episódio seja uma obra de arte por si só, decidi seleccionar cinco que se destacam particularmente, quer pela qualidade da história, dos atores ou da realização.

Embora, por coincidência, estes cinco episódios estejam todos inseridos na terceira temporada, é de sublinhar que as duas primeiras merecem tanta ou mais atenção. Fica o aviso de spoilers, para quem ainda não viu a série.

1. San Junipero (Temporada 3, episódio 4)

Durante os anos oitenta, num ambiente de discoteca, somos apresentados a Yorkie (Mackenzie Davis) e Kelly (Gugu Mbatha-Raw), duas jovens que se conhecem por acidente e acabam por criar uma ligação incomum. Depressa as raparigas percebem – e nós também – que a sua relação começa a roçar o campo romântico.

Yorkie não está preparada para assumir a sua homossexualidade e rapidamente perde Kelly de vista, encontrando-a semanas depois noutro bar, mas desta vez num ambiente de inícios do século XX. Confusos? Eu também fiquei ao início.

Aparentemente, o episódio passa-se num futuro avançado, em que as mentes daqueles que já morreram podem ser transportadas para uma realidade virtual, na qual as pessoas viverão eternamente num ambiente boémio e nos seus corpos jovens. Para além disso, aqueles que ainda estão vivos mas às portas da morte podem ter um “período de experimentação”, como é o caso das duas protagonistas.

Quando conhecemos uma Kelly idosa e uma Yorkie vegetal, cuja vida depende de máquinas, levanta-se a questão se elas estão dispostas a apostar na sua eternidade juvenil. O problema, contudo, é que elas já viveram uma vida inteira, inclusive com casamentos e afins. Numa perspetiva de “há vida depois da morte”, este episódio foca-se sobretudo no direito que temos em ser felizes uma segunda vez. Uma história trabalhada com tal rigor e beleza que o facto de se tratar de um casal homossexual torna-se, diria até, irrelevante.

2. Nosedive (Temporada 3, episódio 1)

Também num futuro ligeiramente mais avançado, a protagonista desta vez é Lacie (Bryce Dallas Howard). No mundo de Lacie, toda a gente é categorizada de 1 a 5, consoante o seu nível de popularidade. As pessoas avaliam-se umas às outras através do telemóvel, consoante as suas atividades online e offline.

Esta categorização, contudo, define o estatuto das pessoas na sociedade. Gente “mais popular” tem direito a melhores postos de trabalho, melhores casas e amigos mais famosos. Os outros, pelo contrário, são considerados os “pobres”. Se achavam que Black Mirror punha o dedo na ferida, ainda não viram nada.

Quando Lacie é convidada para o casamento de uma amiga que pertence à classe alta, vê então a sua oportunidade para subir na vida e criar amizades com gente importante. O feitiço vira-se contra o feiticeiro, contudo, quando Lacie enfrenta todo o género de obstáculos para chegar ao casamento e vê a sua popularidade a cair a olho nu.

Este episódio chamou-me especialmente à atenção pelo seu “tom”. O cromatismo das cenas gira muito em torno das cores pastel e tudo é tratado de maneira muito delicada, numa oposição interessante ao tema que está a ser retratado. Se nós achávamos que a tecnologia já é um dos fatores que separa o Primeiro Mundo dos restantes, este episódio pega nessa triste realidade e eleva-a a um nível assustadoramente real.

3. Shut Up and Dance (Temporada 3, episódio 3)

Este é dos poucos episódios da série que se concentra no tempo e espaço de hoje, não inventando realidades ou tecnologias alternativas. O protagonista é Kenny (Alex Lawther), um adolescente que começa a receber mensagens anónimos, após uma sessão de masturbação. Aparentemente, Kenny foi filmado através da webcam do seu computador e o chantagista ameaça divulgar o vídeo se o jovem não obedecer às suas ordens.

Quando Kenny dá por si, está já envolvido em toda a espécie de esquemas surreais, que envolvem assaltar um banco e cooperar até com outras pessoas que têm recebido ameaças. No final do episódio, percebemos que Kenny vira pornografia infantil no computador, dando de caras com outro homem que cometera o mesmo crime. O teste final? Lutarem até à morte.

O culminar do episódio é uma autêntica bofetada, mostrando-nos de forma cruel que nunca devemos confiar nas tecnologias nem naqueles que se escondem por trás delas. Em verdadeiro jeito do efeito panóptico, este episódio mostra-nos como estamos constantemente a ser observados e como os nossos próprios aparelhos se podem tornar os nossos piores inimigos.

4. Hated in the Nation (Temporada 3, episódio 6)

Estamos agora numa realidade em que, por alguma razão, as abelhas entraram em vias de extinção e foram substituídas por réplicas tecnológicas – caso, contrário, o planeta entraria num desequilíbrio ambiental. Estas novas “abelhas” fazem tudo o que as outras faziam: voam, sugam o pólen das flores, esse género de coisas.

As protagonistas são Karin (Kelly Macdonald) e Blue (Faye Marsay), duas detetives encarregues de investigar mortes misteriosas que têm acontecido ultimamente. As duas vítimas, percebe Blue imediatamente, tinham em comum o facto de terem cometido algum género de ofensa pública e serem, como o título do episódio indica, “odiadas pela nação”.

Blue dá de caras com o chamado “jogo das consequências”: os utilizadores das redes sociais devem escolher alguém que odeiam e espalhar o hashtag #DeathTo. Aquilo de que não se apercebem é que há alguém por trás do jogo que consegue ganhar controlo das ditas abelhas, obrigando-as a assassinar as vítimas do jogo da forma mais dolorosa possível: penetrando-lhes o cérebro a pouco e pouco.

À medida que o hashtag ganha cada vez mais fama pelo país, Karin e Blue dão por si numa corrida contra o tempo, de modo a descobrir o culpado por detrás da situação e tentar evitar uma catástrofe a nível nacional. Um episódio altamente chocante e perturbador, que nos faz pensar nas verdadeiras consequências que as redes sociais podem ter no mundo real.

5. Playtest (Temporada 3, episódio 2)

Um jovem norte-americano, de nome Cooper (Wyatt Russell), decide pegar nas suas poupanças e viajar pelo mundo, terminando a sua aventura em Inglaterra. Percebendo que não tem dinheiro para voltar para a América, decide tornar-se cobaia de uma empresa de jogos que trabalha sobretudo com a temática da realidade virtual.

O pagamento é ótimo e as tarefas parecem ser simples: Cooper tem apenas de instalar um dispositivo no seu pescoço e deixar a sua mente fluir num jogo que funciona em tempo real. Tudo aquilo que ele vê é falso e ele apenas tem de tentar sobreviver, mantendo a consciência de que há responsáveis da empresa a tomar conta dele.

O episódio remonta-nos imediatamente para o filme Inception, quando, no final, percebemos que Cooper já está inserido numa realidade dentro de outra realidade dentro de outra… vocês percebem. A grande questão prende-se em saber se Cooper sairá efetivamente vivo do desafio e se esta moda da realidade virtual é assim tão divertida quanto parece. Uma hora repleta de reviravoltas que, como outros episódios da série, nos faz ponderar as vantagens e desvantagens das novas tecnologias.