Após um ano e meio de intervalo, a série Sense8, original da Netflix e produzida pelos irmãos Wachowski está de volta com um episódio especial de Natal. Esta história veio preparar o terreno para a estreia da segunda temporada, apontada para 5 de maio, ao mesmo tempo que ofereceu aos fãs duas horas recheadas de tudo aquilo pelo qual nos apaixonámos pela série.
Sem mais demoras, vamos a isto. Will (Brian J. Smith) continua atormentado pela presença de Whispers (Terrence Mann), tendo de tomar determinadas drogas com certa regularidade para escapar de tal pesadelo. Riley (Tuppence Middleton) assumiu um papel mais pequeno no episódio, já que está completamente dedicada a cuidar de Will.
O protagonista lida também com dramas familiares, já que tem estado na Islândia há quatro meses e não foi capaz de contatar o pai desde então. Aproximando-se o natal, Will fica com a consciência pesada e Riley encoraja-o a fazer um telefonema, no qual Will descobre que o seu pai voltou aos velhos hábitos de se embebedar dia e noite.
A primeira coisa a referir é que este episódio, nas suas duas horas, cobriu um largo espaço temporal, começando pouco antes do aniversários dos Sensates – que, como sabemos, é em agosto –, passando pelo natal, como não poderia deixar de ser, e terminando na passagem de ano. Todas estas ocasiões dão oportunidade aos protagonistas de se conectarem de maneiras diferentes, todas elas perfeitas à sua maneira.
Lito (Miguel Ángel Silvestre) vê a sua imagem manchada a nível nacional quando a sua fotografia a ter relações sexuais com Hernando (Alfonso Herrera) é divulgada em todos os jornais mexicanos. Isto faz com que o protagonista seja perseguido por tablóides e fãs revoltados, vendo a sua carreira a ir por água baixo a uma velocidade assustadora.
Aqui surge uma das minhas cenas favoritas do episódio. Quando Lito chega a casa e se depara com uma multidão enraivada, a qual grita a palavra “maricas” vezes sem conta, cada Sensate surge no lugar de Lito e coloca-se no seu papel, confrontando aquilo que os caracteriza mas que a sociedade usa para os ataca. Uma maneira perfeita de demonstrar que ninguém está a salvo e todos enfrentam discriminação à sua própria maneira.
Kala (Tina Desai) está de férias com o marido em Itália, cenário que me surpreendeu, pois eu fiquei com a ideia de que as coisas entre eles não haviam resultado. Posto isto, o grande dilema agora é que o casal está na sua lua de mel e Kala recusa-se a ter relações sexuais, não só por ser virgem, mas também insegura por natureza.
Enquanto isso, a protagonista continua a ter visões de Wolfgang (Max Riemelt), visto que os dois claramente ainda nutrem sentimentos um pelo outro. Wolfgang, por seu turno, encontra-se no meio de uma guerra civil, visto que, após o desfecho da temporada anterior, as máfias da cidade de Berlim estão em guerra e ele pode ser morto a qualquer segundo.
Sun (Doona Bae) continua na prisão e está constantemente a mudar de advogados, já que o seu irmão ameaça qualquer pessoa que a tente defender. O último conjunto de advogados tenta até matar Sun dentro da prisão, a mando do irmão, mas como sabemos ela é perita em artes marciais e rapidamente mete os três homens no chão. Quantas saudades eu tinha da irreverência e garra desta coreana!
Capheus (Toby Onwumere) continua com o seu negócio do autocarro Van Damme, até que a dita carrinha subitamente explode. Contudo, o homem rico da cidade, cuja vida ele salvou na primeira temporada, depressa lhe oferece um autocarro maior e melhor.
Como sabemos, o autor de Capheus foi substituído – na primeira temporada, este era protagonizado por Aml Ameen. Eu estava à espera que a mudança me causasse imensa comichão mas não foi tão mau quanto esperava. Este novo Capheus é certamente mais massudo e masculino que o anterior, traços que eu não associava à própria personagem, mas tirando isso a mudança não foi assim tão drástica.
Por fim, Nomi (Jamie Clayton) continua fugitiva, à medida que a sua namorada Amanita (Freema Agyeman) faz os possíveis e os impossíveis para a proteger. Eventualmente, a dupla acaba por se mudar para casa de Bug (Michael X. Sommers) – o amigo de Nomi e seu companheiro no crime nos seus tempos de hacktivista.
Nenhuma das personagens sofreu avanços significativos na sua narrativa. Este episódio teve como objectivo localizar os oito protagonistas após os eventos da primeira temporada mas, acima de tudo, celebrar o espírito natalício e aquilo que ele traz consigo: a ideia de própria conexão, de retomarmos contato com aqueles que nos são próximos.
A primeira cena de deixar o queixo no chão vem logo no início do episódio, quando Kala está a tomar banho nos mares de Itália e, de repente, todos os Sensates se encontram perante uma maravilhosa sequência filmada debaixo de água, como se estivessem a matar saudades uns dos outros e a dar a chance ao próprio público de matar saudades também. Para além disso, tal cena é acompanhada por uma versão acústica de “Feeling Good”. Que mais poderíamos querer?
O segundo grande momento chega quando os Sensates estão a lembrar os respectivos aniversários que, como sabemos, estão todos a acontecer ao mesmo tempo. Como tal, os oito protagonistas reúnem-se em diferentes pontos do mundo, à medida que são prendados com foguetes e bolos de aniversário, e dançam ao som de uma mistura alucinante de músicas, desde latina a electrónica. Nem quero pensar no quanto eles se devem ter divertido a filmar este conjunto de cenas.
O terceiro apogeu recria um dos grandes momentos da primeira temporada. Quando Kala e Sun se encontram, esta última diz à primeira que sexo não é algo para ser temido, mas sim celebrado. Quando damos por isso, alguns dos protagonistas iniciam relações sexuais com os respectivos parceiros ou parceiras, envolvendo os oito Sensates numa nova orgia – sim desta vez estiveram todos presentes! Se eu já achava que na primeira temporada isto tinha sido bom, agora então foi simplesmente mágico.
O quarto clímax surge, como seria de esperar, na cena de natal. Cada protagonista faz as festividades ao seu próprio jeito e, quando Nomi e Amanita assistem a um concerto de coro, os Sensates dão por si a ouvir uma versão coral deslumbrante da famosa “Hallelujah”. Esta seria a música mais cliché para usar numa época como estas e, mesmo assim, Sense8 conseguiu dar o seu próprio toque à banda sonora e tornar a cena perfeita em todos os aspectos.
Após quase duas horas de episódio, poucos são os avanços feitos em termos de história. Will é novamente atacado por Whispers, percebendo que este conseguiu localizar e contatar o seu pai. Sun regressa para junto das suas companheiras de solo, embora eu queira que ela saia da prisão e vingue o seu nome de uma vez por todas. Lito confronta a sua mãe e esta aceita a sexualidade do filho de braços abertos.
Como já referido, este episódio foi destinado a explorar as conexões entre os oito protagonistas e quais as vantagens e benefícios que estas representam. A própria série brinca com este conceito através de falas de personagens, nomeadamente quando Bug diz: “Eu tenho amigos que nunca conheci fisicamente mas conhecem-me melhor do que ninguém”. De fato, os oito protagonistas parecem estar sempre envolvidos em dramas e tragédias e os únicos momentos felizes surgem quando estão na companhia uns dos outros.
A série tenta cada vez mais dar um cunho real e científico à história, explicando o processo cerebral que leva à ligação entre os oito, bem como a forma como a organização conseguiu fundos e apoio do governo. É bom ver quando uma série de ficção científica consegue manter os pés na terra e tornar a história credível.
No final, Wolfgang é atacado por membros de uma máfia rival, sendo salvo pela aparição de Sun, que mais uma vez usa os seus punhos para resolver o assunto. Wolfgang levanta-se e dá de caras com os outros sete protagonistas, despedindo-se com um “Happy f*cking new year”, fechando um episódio que nos fez relembrar todas as boas razões pela qual nos apaixonámos por esta série em 2015.
NOTA: 10/10