Da Broadway para o Casino Estoril, Quase Normal é a mais recente produção da Artfeist. Cantado em português, retratada o quotidiano de uma família que vive o problema de uma mãe bipolar. Se há motivo para ir até ao Casino, deve ser este musical rock. À primeira vista, é uma família normal. Diana (Lúcia Moniz), a mãe, espera Gabe (Valter Mira), filho que já chega de madrugada. Dan (Henrique Feist), o pai, das escadas pergunta o que se passa. Afinal são 3h da manhã. A música que se começa a cantar indica que é apenas mais um dia na vida daquela família. Aparece a filha, que parece querer sair daquela “normalidade”.
Natalie (Mariana Pacheco), a filha, prepara o recital. É nos ensaios que conhece Henry (André Lourenço). Parecem também ser diferentes, mas acabam por começar a namorar. A mãe vê pela janela o primeiro beijo. Mas algo volta a aparentar não estar bem, quando Diana deita para o lixo comprimidos. Parece estar com uma depressão.
Também para o pai, parece estar tudo bem. Assim o canta. A sua mulher não lhe telefona constantemente e parece estar animada. Até o namorado da filha vai jantar lá a casa. Mas as aparências iludem. Afinal a mãe não está bem e não esqueceu o filho que morreu há 16 anos com oito meses.
Diana nunca esqueceu o filho e vive atormentada pela sua presença. É bipolar. Para trás, ficou a filha e o marido, que têm vivido na sombra do seu transtorno.
Quase Normal é uma adaptação do musical rock Next to Normal. Escrito por Brian Yorkey e com música de Tom Kitt, estreou Off Broadway em 2008 e venceu o prémio dos Outer Critics’ Circle Award para Best Score (Melhor Partitura) e duas nomeações para os Drama Desk Awards nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Partitura. Em 2009 chega à Broadway.
Atualmente em digressão pelos EUA, venceu três Tonys, para Melhor Partitura, Melhor Orquestração e Melhor Actriz,, tendo sido nomeado para 11. Foi também premiado com o Pulitzer para Drama em 2010 sendo o oitavo musical de sempre a receber este prémio.
A versão portuguesa conta com a encenação de Henrique Feist, que também traduziu e interpreta um dos papéis. Na direção musical está Nuno Feist. São 120 minutos que merecem ser vistos no Auditório do Casino Estoril. Apontamos alguns dos motivos:
Uma boa adaptação a português
Nem sempre acontece com a passagem de uma língua para a outra. Mas a adaptação das músicas de Quase Normal foram bem feitas. Além de contar uma história e permitir a evolução da ação, as letras das músicas têm de fazer sentido. Isso acontece e se a versão norte-americana venceu um Tony de Melhor Partitura, a versão portuguesa não lhe fica atrás. Há um bom trabalho da parte de Nuno Feist também.
Temas importantes
Uma mãe bipolar. Uma filha metida nas drogas. Não é fácil levar temas destes para musicais. Quase normal fá-lo. Não é ligeiro, nem cai na monotonia em que muitas vezes se aborda estas temáticas.
A perda de um filho pode deixar marcas para toda a vida. No caso de Diana chegou ao transtorno bipolar. É uma vida que já não vive. Uma carreira de arquitecta que deixou para trás. Irritações constantes, mudanças de humor, um filho morto que viu crescer e uma filha que nunca abraçou. A sua doença leva a que Natalie procure ajuda nas drogas. Um tema delicado que nunca é abordado de forma negligente. Um bom exemplo para iniciar uma discussão sobre estes assuntos.
Um humor certo
É a personagem de Lúcia Moniz que suscita muitos dos risos na plateia. Ora se encanta com o psiquiatra, ora prepara sandes no chão. A expressividade da atriz encaixa bem no registo de musical e na abordagem dos temas.
Um elenco bem escolhido
Se os temas foram bem abordados e as músicas bem adaptadas, também se pode referir que têm boas interpretações a fazê-lo. Lúcia Moniz representa uma mãe bipolar com graça, quando a deve ter, e com tensão. É muitas vezes a atriz que cria o ritmo da própria peça. De Henrique Feist surge mais uma interpretação intensa e reveladora do seu talento no registo musical. Ainda não nos esquecemos de Gangsters na Broadway e e o ator mostra, mais uma vez, que sabe encher o palco como intérprete e como cantor.
Também de jovens atores se faz o elenco. Há que destacar Mariana Pacheco. Se é conhecida pelos seus papéis na televisão, não contava com experiência no teatro. A atriz de Coração de Ouro é uma filha esquecida, mas que tem presença em palco e sabe aproveitar os dotes vocais que muitos já lhe conheciam.
Valter Mira (ex-vocalista da banda No Stress), André Lourenço e Diogo Leite (participante da Operação Triunfo) têm interpretações mais apagadas, mas nem por isso deixam de apimentar e ser fundamentais para a peça. Valter Mira, apesar de uma miragem, tem presença. André Lourenço permite alguns dos momentos românticos do musical. Já Diogo Leite é um psiquiatra ideal para se jogar com o humor e a seriedade.
Um bom ritmo
O cenário tem dois andares. As luzes vão mudando. A conjugação dos diálogos com as músicas entram E os acontecimentos têm uma progressão que não nos faz adormecer nos 120 minutos de espetáculo.
Vídeo de ensaio:
Onde podes ver
A peça está em cena no Auditório do Casino Estoril até 18 de dezembro. O espetáculo realiza-se de quinta-feira a sábado, às 21h30, e domingo, às 17h. Podes consultar mais informações sobre os bilhetes, aqui.