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Yann Tiersen
Ana Margarida Almeida

O esplendor de Yann Tiersen no Coliseu dos Recreios

O casamento não poderia ter sido melhor arranjado: um dos mais renomados compositores instrumentais das últimas décadas e a mais emblemática sala de concertos da capital, quiçá do país.

O esplendor de Yann Tiersen e o do Coliseu dos Recreios combinam como poucas outras duplas, e o público lisboeta pagou para atestá-lo – a procura desenfreada levou à marcação de dois espetáculos no mesmo dia – dias depois do lançamento do seu nono álbum de estúdio.

É, de certa forma, natural que Yann Tiersen se tenha popularizado de forma tão pronunciada em Portugal. A mais-que-ligeira inclinação da sua música para o melancólico-nostálgico só é amplificada pela sinceridade com que as apresenta, despida de complementos que dificilmente pareceriam indispensáveis no Coliseu dos Recreios.

Yann Tiersen

Sempre sozinho, como anunciava a digressão, revesava-se entre o piano (o mais empregue no concerto), o violino (no qual mais brilhavam os seus dotes técnicos), e um par de pequenos dulcitones, através dos quais tecia as suas emotivas pequenas malhas. Embora não houvesse muita variedade a presenciar, como bem sabem os fãs do compositor, a tarde foi farta em momentos de comoção e contemplação.

Tiersen aponta para uma espécie de reminiscência em tom saudoso que resgata tanto do clássico e do barroco quanto do moderno, o mesmo revivalismo de que vivem, por exemplo os Dead Combo – menos o world music – e que faz da sua música instrumental mais do que as notas que a compõem.

É, para lá de qualquer dúvida, compositor primeiro e intérprete em segundo, o que não significa que não fizesse da solidão ferramenta para amplificar o espectáculo que desenvolvia em palco: o recurso a um reprodutor de fita, por exemplo, adicionava subtis sons ambiente a um piano que preenchia o restante silêncio da sala, e as piadas descomprometidas entre canções ritmavam uma apresentação que não poderia ser melhor gerida.

Yann Tiersen

E, a fim de contas, para um músico de profissão por vezes confundido com compositor de bandas sonoras, houve material de muitas fases e para todos os gostos. Ouviram-se excertos de “Amélie” e “Goodbye, Lenin!”, as suas celebradas composições para a sétima arte, bem como dos seus álbuns de estúdio, com especial predilecção para o mais recente EUSA, deste ano. O single Porz Goret brilhou com especial distinção pouco depois do começo, assim como Le Moulin na fase final do espectáculo, e pouco poderia ser destacado como “ponto fraco” da performance de Tiersen, reconhecido, afinal, pelo seu brio e sentido estético na formulação de suas canções.

Fotografias de Ana Margarida Almeida. 

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