A quinta temporada de Arrow havia prometido voltar às origens da série e em Legacy deu aos fãs aquilo que de precisavam: um lembrete dos motivos pelos quais começaram a seguir religiosamente a série.
Reconstruir a partir do zero
No final da última temporada, a Team Arrow ficou reduzida a Oliver (Stephen Amell) e Felicity (Emily Bett Rickards) o que faz com que para além de ser presidente da câmara de Star City, Oliver tenha ainda a seu cargo toda a vigilância da cidade.
Como seria expectável, isso faz-se ressentir na sua prestação enquanto presidente, algo que já tinha sido explorado aquando da sua candidatura na quarta temporada. Recusa-se a pedir ajuda a novas pessoas, incluindo o já anunciado Wild Dog (Rick Gonzalez), e carrega mais uma vez o peso do mundo às costas.
Star City está neste momento a criar uma nova brigada anti-crime e Oliver, sem papas na língua, diz que o necessário para que tal aconteça é verificar quem são os polícias corruptos e tirar-lhes o distintivo. Afirmações demasiado ousadas para um presidente em funções durante uma conferência de imprensa, tal como faz notar Thea (Willa Holland), mas que têm um fundo de verdade.
A corroboração vem logo na cena seguinte em que um polícia corrupto aparece a matar criminosos, incriminando o seu gang rival com o único objetivo de lucrar com o que estes tinham roubado. O seu plano podia ter corrido na perfeição, não fosse a chegada à cidade de Tobias Church (Chad L. Coleman), que, ao pretender ser o novo Don Corleone de Star City, os mata e divulga o seu plano a longo prazo: matar Green Arrow.
As dificuldade em fazer tudo sozinho começam a crescer e, no final do episódio, ao entender que nem Thea nem Diggle (David Ramsey) voltarão tão cedo, Oliver cede e recruta Wild Dog bem como Curtis (Echo Kellum) para a sua equipa.
Estas mudanças de dinâmica só vão fazer bem à série que precisava urgentemente de uma lufada de ar fresco. E se o objetivo é mesmo manter o equilíbrio entre Oliver vigilante e Oliver presidente, penso que estão no bom caminho. Porém, tal como afirmei em críticas à temporada anterior, se esta presidência for outra vez relegada para quinto plano, deixa de fazer qualquer tipo de sentido.
Ver Oliver enquanto professor e mentor vai trazer à tona algumas facetas da personagem bastante interessantes e quem sabe fazer a ponte entre a pessoa que tentava ser e o seu eu mais vingativo que está de volta em força esta temporada.
Como homenagear Laurel?
Após a trágica morte de Laurel (Katie Cassidy) houve uma completa mudança de paradigma na série, a mesma que hoje nos volta a trazer Arrow com qualidade. Em termos de homenagem física é construída uma estátua e é precisamente nesse momento que Oliver e outras pessoas são raptadas por Tobias Church para servir de isco ao Green Arrow.
Para não desvendar a sua identidade, Oliver não se pode defender, mas quando está sozinho mata um dos raptores a sangue frio. É nesse momento que entra Thea, que se arrepende imediatamente de ter vestido a pele de Speedy mais uma vez.
Os irmãos entram numa discussão sobre o uso da violência e sobre como isso pode estragar a homenagem que ambos querem prestar a Laurel, não chegando a uma só conclusão. Thea recusa-se a entrar novamente no ciclo vicioso de aprender os limites entre a defesa da cidade e a violência gratuita, mas Oliver parece convencido de que mais violência será igual a melhores resultados, pelo que está a voltar aos tempos da primeira e segunda temporada.
Quando tem um objetivo não olha a meios para os atingir, e a compaixão que foi desenvolvendo parece estar completamente perdida. Está a ser interessante esta nova mudança de paradigma, quanto mais não seja porque as cenas de luta estão super bem conseguidas e empolgantes, o que começava a faltar.
Para Oliver, o importante é não olhar para trás e seguir sempre em frente, apesar do gatilho desta alteração no comportamento tenha que ver com a culpa que carrega ao considerar-se responsável pela morte de Laurel.
Eventualmente, Oliver vai voltar a ser mais comedido, mas uma vez que os criadores da série já viram que a forma como resolveram a situação anteriormente não foi a que mais agradou aos fãs, têm aqui a segunda oportunidade para fazer melhor. Só peço que este carregar no botão de reset não tenha sido em vão…
Quem estranhamente acaba por estar estar mais equilibrado nesta luta interior pelo certo e o errado é Quentin (Paul Blackthorne) que apesar de estar de novo nos braços da bebida, lembra Thea de que nem sempre a vida é o que queremos e de que por vezes é necessário pensar mais nos outros do que em nós mesmos. Refiro-me a Quentin como ponto de equilíbrio precisamente por não cair nos exageros de nenhum dos irmãos Queen.
Flashbacks de tremenda qualidade
Ao ser anunciado que a quinta temporada de Arrow seria a última com flashbacks, fiquei bastante satisfeita, uma vez que, tal como tenho vindo a dizer, deixaram de fazer sentido há muito. Porém, quando soube que iriam terminar com a passagem de Oliver pela Rússia fiquei super entusiasmada, e Legacy mostrou que vão terminar os cinco anos na ilha (que no fundo não foram passados inteiramente na ilha) com chave de ouro.
De quando em vez, ao longo do episódio, somos levados a Krasnoyarsk, onde Oliver aparece a lutar até à morte numa espécie de lutas clandestinas. O homem que matou era o melhor lutador de pessoas com muito dinheiro que rapidamente procuram a vingança e consequente a morte de Oliver – os membros da Bratva.
Não fosse a presença de Anatoly, antigo companheiro de Oliver, e não haveria sequer a primeira temporada para contar. Salva-o de uma forma bastante sádica e tenta-o trazer à razão para o facto de a sua missão para vingar Taiana ser completamente suicida. No final do episódio, somos deixados com Oliver a ser espancado por membros da Bratva, numa espécie de ritual de pré iniciação.
Foi incrível a forma como os flashbacks estiveram incorporados no tempo atual, com Oliver a usar o truque aprendido para se soltar da cadeira aquando do seu rapto e principalmente por estar a passar pela mesma indecisão – a de estar agarrado a promessas do passado ou de seguir em frente sem ter isso tão presente.
A única questão com que fico depois disto é: se não se esqueceram de como se faz isto tão bem, porque é que nos deram uma última temporada tão medíocre?
Legacy teve tudo aquilo de que Arrow precisava para se voltar a reerguer. Teve ritmo, teve histórias intrincadas, teve bem presente a dialéctica do bom e do mau, teve novidades, teve planos incríveis (como lidar com o da seta no final por entre a chuva, por exemplo?). Porém, soube deixar espaço para que fiquemos com vontade de ver mais e de saber mais com algumas perguntas referentes ao novo namorado de Felicity ou ao novo grande vilão por responder.