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Crítica: “Blonde”, de Frank Ocean

Após quatro anos de espera, Blonde, o segundo registo em estúdio do norte-americano Frank Ocean foi editado no dia 20 de agosto pela Boys Don’t Cry.

O sucessor do aclamado Channel Orange deixou a internet em alvoroço, inicialmente com o lançamento do vídeo álbum Endless e com Blonde, precisamente um dia depois.

Para delírio dos fiéis seguidores do artista, Nikes foi o primeiro single do álbum, produzido unicamente pelo próprio Frank Ocean, que narra, em forma metafórica, a história de pessoas que com ele se relacionam como forma de obterem parte da sua riqueza (“These bitches want Nikes / They looking for a check / Tell ‘em it ain’t likely”), homenageia A$AP Yams, Pimp C e Trayvon Martin, denuncia o risco do tráfico de estupefacientes por uma vida mundana mais prazerosa e reflecte sobre casos amorosos. Ao longo dos 05:14m desta faixa nem nos importamos com um auto-tune vincadamente audível…

Os relacionamentos interpessoais continuam a assumir um papel de relevo em Ivye e na harmoniosa Pink + White, que conta com a colaboração de Beyoncé e onde aproveita para revisitar momentos da sua alegre juventude (“Remember life / Remember how it was / Climb trees, Michael Jackson, it all ends here”).

Segue-se uma mensagem de voz em tom de sermão maternal no tema Be Yourself e uma atmosfera celestial em Solo, que contraria os conselhos facultados previamente (“It’s hell on Earth and the city’s on fire / Inhale, inhale there’s heaven / There’s a bull and a matador dueling in the sky / Inhale, in hell there’s heaven”).

Produzida por Tyler, the Creator e tendo a participação de Kendrick Lamar como vocal de apoio, Skyline To denuncia a efemeridade da nossa passagem por este astro habitado pelo ser humano chamado Terra e alguns dos seus desejos sexuais.

Inesperadamente na companhia de Yung Lean e de Austin Feinstein, o R&B de Ocean em Self Control ganha uma dimensão mais orelhuda e ilustra na perfeição as suas fragilidades presentes no seu passado relacionamento que se estendem até Good Guy e à deliciosa Nights.

O experimentalismo de Pretty Sweet antecede os pensamentos precipitados de infidelidade no mundo virtual patentes em Facebook Story (“She started to be crazy / She thought that because I didn’t accept her / She thought I was cheating”) e um cover de Burt Bacharach e Hal David, Close To You, mostrando que não se encontra emocionalmente devastado no período pós-relacionamento.

White Ferrari transporta-nos para a inocência outrora patente no seu antecessor trabalho, o desequilíbrio e o comodismo de uma das partes envolvidas na relação (“You’re tired of movin’, your body’s achin’ / We could vaca, there’s places to go / Clearly this isn’t all that there is”) e, por oposição, a sombria Seigfried (Soul Calibur?) é uma canção introspectiva, repleta de interrogações, mas sem um rumo devidamente perfilado.

Encerrando Blonde, a subtil Godspeed guia-nos até Futura Free. Preenchida com um flow habilmente sintonizado e uma entrevista aparentemente aleatória, Ocean reflecte sobre tópicos como a religião, a sexualidade e a superstar life.

O hype desmedido talvez não seja inteiramente descabido. Frank Ocean meditou, maturou e reapareceu vigorosamente para voltar a assinar o livro de presenças do R&B.

Nota Final: 8/10