O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.

Festival de Curtas de Teatro do Algarve: Pequenas Peças, Grandes Histórias

Nos dias 18, 19 e 20 de agosto, a Sociedade Recreativa e Artística Farense – Os Artistas recebeu a terceira edição do Festival de Curtas de Teatro do Algarve, um evento bianual organizado pelo LAMA (Laboratório de Artes e Média do Algarve) que levou o público num percurso pelas várias salas da Sociedade para assistirem às mais variadas performances. O Espalha-Factos esteve presente nesta edição.

Durante três dias a partir das 22h, um público de mais de sessenta pessoas por sessão teve a oportunidade de assistir a sete performances das mais diversas companhias, atores e temáticas, guiado por um cicerone pelos quatro principais espaços d’Os Artistas – hall, bar, pátio e salão.

Um rol de temáticas

Mais do que Palavras (criação e interpretação de Clarisse Ricardo)
‘Mais do que Palavras’ (criação e interpretação de Clarisse Ricardo)

O Festival abriu com a apresentação de Mais do que Palavras de Clarisse Ricardo, um monólogo protagonizado por Maria, que questiona a forma como as palavras moldam o seu destino e a oprimem, numa época em que estas são banalizadas. Seguiu-se O Registro, com texto de Marcus di Bello, encenação de Severine Guerreiro e interpretação de Tânia Guedelha e Frederick Marreiros, uma peça satírica à burocracia e aos caóticos sistemas do serviço público – sediada na Pré-História.

'Nem Sempre o Silêncio é de Ouro' (interpretação de Alexandra Bota e Inês Martins)
‘Nem Sempre o Silêncio é de Ouro’ (interpretação de Alexandra Bota e Inês Martins, texto e encenação de António Gambóias)

No hall d’Os Artistas deu-se depois Bem-vindo à América, da Associação Cultural Casa Cheia em que um dramaturgo europeu chega à América e é confrontado com a visão de um encenador americano que pretende encenar a sua obra – revelando, no entanto um total desprezo do texto original e diversas tentativas de mudanças; seguido de Nem Sempre o Silêncio é de Ouro, da Teatro DoisMaisUm, o relato de uma vítima de violência doméstica, uma “vida perdida nos meandros da intolerância, da violência, da falta de respeito e de dignidade“.

'O que el@s diriam se ainda estivessem viv@s' (encenação de Teresa Coutinho, André Alfarrobinha e João Sousa e interpretado por André Alfarrobinha e João Sousa)
‘O que el@s diriam se ainda estivessem viv@s’ (encenação de Teresa Coutinho, André Alfarrobinha e João Sousa e interpretado por André Alfarrobinha e João Sousa)

No bar da Sociedade deu-se então O que el@s diriam se ainda estivessem viv@s, uma adaptação livre do Ato V, Cena I, de Hamlet de W. Shakespeare pelo Teatro Improviso, em que dois coveiros tentam desvendar as histórias por detrás de figuras reais e imaginárias, questionando aqueles que deixaram a sua marca na história ao longo dos tempos.

'Assobios e Cavalos Fantasma' (encenação e interpretação de Diogo Simão e Ana Beatriz Lopes)
‘Assobios e Cavalos Fantasma’ (encenação e interpretação de Diogo Simão e Ana Beatriz Lopes)

Em Assobios e Cavalos Fantasma da MaisMacacos, um imortal que caminha pela Terra desde o início dos tempos deixa a humanidade saber o que pensa das suas atitudes – as verdades que não querem ouvir, mas com que precisam de ser confrontados. O evento culminou no espetáculo de performance Deep Blue de Miguel Ponte, um jogo de xadrez que convidou os espetadores a tentarem vencer um computador, inspirado no supercomputador homónimo que derrotou Gary Kasparov.

Do Centro para o Sul

Bem-vindo à América da Associação Cultural Casa Cheia (interpretação de Miguel Mateus e Francisco Pereira de Almeida)
‘Bem-vindo à América’ da Associação Cultural Casa Cheia (interpretação de Miguel Mateus e Francisco Pereira de Almeida)

Miguel Mateus, da Associação Cultural Casa Cheia, sediada em Lisboa, ator e tradutor de Bem-vindo à América, descreve a sua experiência no Festival de Curtas de Teatro de forma positiva e fala-nos um pouco da peça apresentada.

“Tinha algum receio de como é que o público ia reagir à peça, que retrata uma realidade algo desconhecida – a realidade americana, e como é que os europeus a nível artístico chegam à América. Mas a reação do público foi bastante boa, deu para perceber que a compreenderam muito bem.

[O Festival de Curtas de Teatro] tem sido uma experiência incrível, o ambiente é muito acolhedor. Ainda mais vindo nós de Lisboa aqui para Faro, fomos bem recebidos e a peça também. Foi muito positivo.”

'O Registro' (encenação de Severine Guerreiro, interpretações de Tânia Guedelha e Frederick Marreiros)
‘O Registro’ (encenação de Severine Guerreiro, interpretações de Tânia Guedelha e Frederick Marreiros)

Já para Frederick Marreiros esta foi a sua estreia em palco com a peça O Registro – mas afirma que o ambiente do Festival de Curtas o impulsiona a continuar na área dramática.

“Gostei muito da iniciativa, das peças, noto um grande trabalho e uma grande dedicação por parte dos artistas, o que também me encoraja a continuar.”

Uma comunhão de artistas num festival

Segundo João de Brito, organizador do evento, a iniciativa surgiu em 2012 através da Companhia Primeiros Sintomas, sediada em Lisboa, organizadora do projeto Mostra de Peças de Teatro de Curta Duração. João de Brito participou nessa edição do evento e sugeriu ao diretor artístico Bruno Bravo fazer-se uma extensão da iniciativa para Faro.

Assim surgiu, ainda nesse ano, em coprodução com a Primeiros Sintomas, a Curtas – Mostra de Peças de Teatro de Curta Duração em Faro, renomeada em 2014 na sua segunda edição e já como projeto independente para Festival de Curtas de Teatro do Algarve.

João de Brito descreve o projeto como “uma comunhão de artistas“. Destaca a forma como pequenos projetos integrantes no Festival se vêm a desenvolver posteriormente em produções maiores, e que o evento vem a ser um “espaço para os artistas se conhecerem, muitos deles vindo até a trabalhar juntos“, cujo caráter técnico rudimentar vem a fomentar a entreajuda.

O projeto terá a sua quarta edição em 2018.