Em dias em que se discute o futuro da União Europeia e a sua continuidade, com a ascensão de eurocéticos e populistas à espreita, decidimos destacar um dos poucos campos onde está patente, de facto, uma inabalável união entre os países da UE: o cinema.
Se nestes últimos anos muitas têm sido as divergências entre os estados membros, é na 7.ª arte que todos se unem para criarem obras de excelência. Assim, no 5 desta semana, oferecemos aos leitores uma lista de cinco filmes coproduzidos por várias nações da União Europeia.
O Tambor (1979)
França e Alemanha (e Polónia e ex-Jugoslávia, à data ainda não membros da UE)
Uma de muitas coproduções entre Alemanha e França (em tempos em que ainda não havia a UE mas sim a Comunidade Económica Europeia) gerou controvérsia mal estreou em Cannes, de onde, ainda assim, até saiu vencedor. Chegou a ser banido em alguns países e comercializado em versões censuradas. Não obstante, O Tambor representa um marco na 7.ª arte do nosso continente e é obra indispensável para se melhor compreender o cinema germânico. A história surreal toca em inúmeros pontos da sociedade alemã da primeira metade do século XX, mas mesmo a um nível mais superficial apresenta-se quase como uma comédia macabra e bizarra, que não deixa ninguém indiferente.
O Pianista (2002)
França, Alemanha, Polónia e Reino Unido
E porque os sinais que a nossa sociedade transmite são irrefutavelmente indicadores de uma nova Grande Guerra, lembremos a que passou. Lembremos a dor, a perda, o sofrimento e a desgraça de uma das maiores calamidades da História da Humanidade. Lembremos o poderoso retrato do ator Adrien Brody e da dor contida em cada plano do controverso Roman Polanski. E, sobretudo, lembremos que para lá da língua, dos números e dos votos, é a arte que une todos os seres humanos.
A Vida de Adèle (2013)
França, Bélgica e Espanha
Numa altura em que a discriminação surge em todas as suas energúmenas facetas é vital relembrar um dos mais belos e libertadores filmes da década. Um filme sobre o choque de idades, de classes, de sonhos e de sexualidades, A Vida de Adèle é, apesar do seu enigmático final, uma ode ao futuro que estará eternamente à espera do momento certo para surgir.
Cosmos (2015)
Portugal e França
Cosmos, de Andrzej Żuławski (que nos deixou em fevereiro deste ano), é um filme irreparavelmente europeu, por dentro e por fora. Trata-se de uma produção franco-portuguesa, baseada no romance homónimo do polaco Witold Gombrowicz, que faz do espectador e da semântica os seus maiores inimigos, bombardeando-nos com diálogos surdos, cenas perfeitamente elípticas e uma deliberada incoerência que muito deve à irracionalidade surrealista de grandes vultos literários do Velho Continente. Está longe de ser uma experiência agradável, ou sequer consistente, mas poucos filmes espelham tão bem a Europa nas suas divertidas complicações, nos seus excessos de ambição e idiossincrasia estética.
A Gaiola Dourada (2013)
Portugal e França
O filme francês que tem algumas das coisas mais caraterísticas do que é ser-se português. Amar o nosso país e ter orgulho na nossa bandeira, ao mesmo tempo que se acha que lá fora é que se está bem. Um retrato familiar de um grande Portugal que está lá fora e que fala uma língua avec palavras en français. E, feito em França, este é um filme que nos faz sentir em casa. Um pouco como acontece por toda a Europa… já andamos aqui há tantos anos com tanta História construída em conjunto.
Artigo escrito por Diogo Ferreira, Diogo Simão, Pedro Miguel Coelho e Sebastião Barata