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Cartelização da indústria do cinema - 1

A Cartelização da Distribuição Online do Cinema

Recentes notícias dão conta da emergência de um plano para estrear blockbusters em casa no próprio dia da estreia comercial, a preços exorbitantes, numa plataforma de distribuição criada especialmente para o efeito chamada Screening Room. Associados ao projecto aparecem nomes como Peter Jackson, Steven Spielberg e J.J. Abrams.

O Screening Room, denominação oficial do projecto, foi pensado por Sean Parker (Spotify, Napster, Facebook) e Prem Akkaraju (SFX Entertainment, Sanctuary Music Group), e conta como acionistas, ou seja, pessoas directamente investidas no projecto e que lucrarão com o seu sucesso, Ron Howard, Martin Scorsese, Frank Marshall, assim como Spielberg e Abrams, entre outros.

Embora a indústria cinematográfica nos tenha habituado a sacrificar sempre tudo em nome do lucro, esta parece ser, ainda assim, uma jogada curiosa. Em 2011 tinha surgido um projecto em tudo semelhante, o DirecTV, com a atenuante que continha um desfasamento temporal entre a estreia comercial e a estreia na plataforma, e que na altura mereceu duros comentários de muitas vozes da indústria, com destaque para o próprio Peter Jackson, que numa carta conjunta com, entre outros, James Cameron, Gore Verbinski, Michael Bay, Kathryn Bigelow e Guillermo del Toro, num total de 20 signatários, afirma que “o lançamento de serviços de video-on-demand premium que invadam a actual janela de exibição dos filmes em sala pode prejudicar irrevogavelmente o modelo financeiro da nossa indústria”.

Desta forma, parece estranho que um modelo que é ainda mais invasivo do período de exibição dos filmes nas salas de cinema possa por magia prejudicar menos a indústria, isto é, se o que interessasse a estes senhores fosse verdadeiramente a indústria do cinema e não o seu lucro pessoal. Jackson e os restantes accionistas da Screening Room, que antes se opunham veementemente a interferências por parte de distribuidoras direccionadas para o consumo caseiro no período de exibição dos filmes em sala, são agora os accionistas e maiores beneficiados de um projecto que faz exactamente aquilo a que se opuseram no passado, senão pior.

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Para todos os efeitos, o Screening Room é uma vergonhosa tentativa de desviar o lucro das salas de cinema para uma empresa de distribuição alternativa, controlada por um punhado de realizadores e produtores que já revelaram uma completa hipocrisia relativamente a este tema. Se o cinema enquanto arte perde com a perda da experiência em sala, pouco se parecem importar estes senhores, em comparação com a perspectiva dos lucros gerados por este projecto.

Entre as vozes que se opõem à nova distribuidora, estão James Cameron e Jon Landau, que referem continuarem comprometidos com a santidade da experiência na sala de cinema, dizendo ainda que não entendem a razão que leva a indústria a incentivar o público a ignorar aquela que é a melhor forma de experimentar a arte que trabalham tanto para criar, ou seja, a ida a uma sala de cinema. Christopher Nolan também se manifestou contra a Screening Room, reiterando a sua concordância com Cameron e Landau e, da mesma forma, tanto a The Art House Convergence, como a National Association of Theater Owners teceram duras críticas a este projecto e ao que ele pode significar para a arte e para a experiência que é ver um filme.

Esta não é a primeira vez que o cinema é prejudicado pela ganância dos que estão envolvidos na sua indústria, todavia, pelo enorme impacto potencial deste tipo de projecto na forma como o cinema é pensado, exibido e visto, é importante denunciar que o rei vai nu, e desta vez em 35mm.

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