Quatrocentos anos após a morte de Shakespeare, abril é o mês para celebrar o mais emblemático dramaturgo inglês. Considerado por muitos um impulso definitivo na cultura europeia, William Shakespeare é homenageado este mês no Espalha-Factos. Depois das músicas que foram inspiradas por Shakespeare e de uma seleção cinematográfica de adaptações da sua obra, o Espalha-Factos traz-te 8 adaptações das suas obras. Não falamos do texto de Shakespeare levado a cena, falamos de inspirações e influências deste dramaturgo.
A lista começa um projecto português, Play False de António Cabrita e São Castro, uma peça onde o universo shakespeariano é explorado pelo corpo. Sem voz ou sem qualquer referência directa, os dois intérpretes portugueses deixaram-se influenciar por várias personagens para criarem um coreografia que acabou vencedora do prémio autores.
Também Anne Teresa de Keersmaeker usou Shakespeare para um dos seus mais recentes trabalhos. Utilizando também a música de Brian Eno de 1975, Keersmaeker criou Golden Hours (as you like it) que esteve em Portugal em Fevereiro, encerrando o festival GUIdance. Através do texto As you like it, a coreógrafa belga utilizou o um grupo de jovens interpretes para a construção de uma peça híbrida que acaba por não ser teatro nem ser dança, mas uma interessante adaptação e transformação de uma obra clássica.
Um dos mais aclamados coreógrafos de ballet clássico, George Balanchine, apresentou em Janeiro de 1962 A Midsummer Night’s Dream, um espetáculo em dois actos baseado na obra homónima pelo New York City Ballet. Este ano a companhia volta a colocar em cena esta comédia romântica a partir de Maio, celebrando assim o autor inglês.
Deixemo-nos de danças e saltemos para outras palcos. Seguimos na onda das inspirações mas deixamo-nos levar para caminhos mais clássicos. Na temporada passada, a Royal Opera House apresentou Falstaff, uma ópera original de Giuseppe Verdi que estreou em 1893, em Milão. O libreto inspira-se na obra de shakespeariana As Alegres Comadres de Windsor e conta a história de Sir John Falstaff, um boémio e fanfarrão que se sente muito atraído pelas mulheres.
Falar de ópera e não falar de Verdi é difícil. Tal como é difícil não referir o MET, The Metropolitan Opera, de Nova Iorque. Para esta temporada, têm em cena Otello, original de 1887, baseado no texto homónimo onde o ciúme e a traição assumem o papel principal.
Uma das performances mais inovadoras e diferentes, cabe aos Forced Entertainment, grupo de seis artistas de Sheffield. Este britânicos apresentam Complete Works: Table Top Shakespeare. Usando apenas objectos do dia a dia, como pastas dos dentes, garrafas, frascos de especiarias e outros objectos insólitos para interpretar as personagens, estes artistas condensam as 36 obras do célebre dramaturgo em performances inanimadas sob uma mesa.
Dentro das live performances Run to the Rock é o trabalho de Amanda Coogan. Usando performances surdos da Irlanda do Norte e de África do Sul, Amanda utiliza o potencial coreográfico da linguagem gestual para criar uma produção que reflete sobre vários trechos de diferentes obras de Shakespeare. Os trechos foram selecionados pelos presos políticos do Apartheid que, entre 1972 e 1978, criaram a Robben Island Bible, um livro com a obra completa de Shakespeare que foi passando de mão em mão e cujas partes favoritas de cada um dos leitores era assinada e datada pelo próprio. Preservando a obra de Shakespeare e relembrando um acontecimento político mundial, Amanda cria uma performance multi-disciplinar com recurso não só a coreografias como a video, texto e som.
Para terminar esta celebração de Shakespeare abandonamos os palcos, abandonamos as readaptações, abandonamos o alternativo. Entramos na casa de quem nos lê e oferecemos um link para o jornal britânico The Guardian. Para que não caia no esquecimento a obra original de William Shakespeare, o jornal organizou leituras encenadas das obras originais do poeta. Shakespeare Solos podem ser vistos aqui, a partir do conforto do lar. Aqui não se trata de uma visão diferente da obra, apenas um modelo de visão e apreciação diferente. Abrir ou não abrir o link? Eis a questão.