Mitra, o terceiro álbum de estúdio dos PAUS, é editado oficialmente hoje. O sucessor de Clarão é menos explosivo e aberto a novas sonoridades, sendo um álbum curto mas muito bem conseguido.
Em Mitra vemos duas coisas novas. Primeiramente, destaca-se a mudança de sonoridade. Se nos trabalhos anteriores as baterias tinham bastante peso, neste disco vemos um movimento instrumental de luta pela igualdade de oportunidades. Surgem sintetizadores, guitarras e baixos que se põem ao mesmo nível da percussão. Mas PAUS não seriam PAUS se não estivesse o seu centro gravitacional imposto na lei do bombo. A meia hora que compõe o álbum deixa a desejar que este tivesse uma duração maior. São raros os álbuns que assim o fazem.
Mitra é menos headbanging e mais gingar de anca. O estilo quase krautrock torna-se mais difuso. Há mais lugar à africanidade – como Mo People, um tema que torna difícil a tarefa de escutar sem dançar, nos mostra.
Em segundo, a voz impõe-se nas músicas do disco. Em Clarão, de 2014, e Paus, de 2011, fomo-nos habituando à fórmula vencedora da “frase repetida ao longo da música”. Em Mitra isso não é exceção. Mas agora subimos um nível. Nos trabalhos anteriores tivemos uma imposição do instrumental sobre a parte lírica. Neste álbum, Joaquim Albergaria e Hélio Morais não pouparam esforços – nem cordas vocais. Tomemos como exemplo Pela Boca, single de apresentação do álbum, e veremos que a fórmula não deve ser mudada. Não pode ser mudada. Facilmente as letras se prendem e se colam. Temos em Olhos de Asma e Água de Rosas os únicos temas instrumentais do disco, revelando a forte aposta na capacidade vocal mas mantendo sempre pulso firme na tradição no anzol cravado na sonoridade pausiana.
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PAUS permanecem os mesmos. Mitra, apesar de nos mostrar uma sonoridade renovada, continua a ter na sua essência o estilo sui generis da banda. Tão facilmente reconhecíveis, continuam a demonstrar o porquê de serem, ano após ano, uma aposta segura da música nacional.
O disco tem poucas falhas – ou nenhumas – tornando-o um sério concorrente aos lugares cimeiros dos tops deste ano. A concorrência, embora competente este ano, vê em Mitra um sério rival a melhor álbum de 2016.
Mitra pode ser escutado aqui:
Nota final: 8,5/10