A 16 de janeiro, a noite ordenava que fosse passada no Café Au Lait, em plena baixa do Porto, e na companhia no Zigur Label Day, para mais de seis horas seguidas de música.
Em tempos invernosos, as seis horas da tarde já mandam embora a luz do dia e obrigam um céu escuro e ar cortante a tomar o seu lugar. Os termómetros apontam os oito graus, mas o Café au Lait, na Rua Galeria de Paris, é definitivamente bem mais convidativo. É hora de Zigur Label Day: a noite em que a Zigur Artists mostra ao público várias das suas pérolas musicais, algumas que certamente vão dar que falar.
No escurinho da cave do au Lait, quem faz as honras é nial, a mais recente aposta da Zigur, a ser lançada em meados deste ano. A realidade obriga-nos a confessar: este não é um estilo de música que facilmente agrada a todos. Instrumental e muito mais alternativo do que o nome possa sugerir, a atuação multimédia de nial (que também se fez através de algumas inspiradoras imagens projetadas) pôs algumas pessoas a fazer movimentos dançáveis e a desfrutar do momento, e outras de sobrolho franzido, algo deslocadas em relação ao género musical. No entanto, nial ganha por fazer música que vai muito além do próprio som.
MAHOGANY – por muitos, classificado como “a coisa mais bonita que já ouvi na vida” – foi uma das atuações pelas quais o Zigur Label Day valeu totalmente a pena. A música acústica e serena de Duarte Ferreira transporta qualquer pessoa para uma dimensão paralela à realidade (sim, é uma das pérolas que ainda vai dar muito que falar), proeza para a qual nem sempre é necessária uma letra que transmita o que os acordes da guitarra já dizem. “Se não acharem que é parvo, fechem os olhos e pensem numa viagem que tenham feito”. Parvo seria não obedecer, com ou sem viagem feita. MAHOGANY implica um longo momento de transe (no bom sentido), quebrado apenas para pequenas interações connosco.
Tales and Melodies (ou José Santos, conforme consta do seu cartão de cidadão) assegurou a experiência rock da noite, num one man show onde o único interveniente externo é a guitarra elétrica que segura nas mãos e que joga tão bem com a voz forte. Nas letras, encontramos frequentemente questões sobre a existência humana.
O Manipulador (também conhecido como Manuel Molarinho) encheu a cave do au Lait de pessoas e de rock alternativo, já a noite ia bem mais alta. Uma “one man band experimental de baixo, pedais, loop station” muito bem conseguia e que conta, sempre que possível, com a ajuda de Eduardo Cunha na projeção de imagens, fazendo toda a diferença entre um concerto e um universo alternativo.
Segue-se Cajado, uma outra surpresa agradável do Zigur Label Day. A banda, formada por Daniel Catarino e Joel Figueiredo, encontra-se algures pelo alternativo e o psicadélico e faz com que fiquemos completamente rodeados pela sua sonoridade, onde estão perfeitamente conjugados teclados e guitarras. Num concerto de Cajado, é impossível não nos envolvermos de corpo e alma. Já na reta final da noite, queria que todas as pessoas de quem eu gosto tivessem estado naquela cave, para experienciarem azul-revolto e possivelmente investir num momento de dança, que às vezes nos faz tão bem. Este era um dos momentos esperados da noite, talvez pelo lançamento do seu novíssimo EP, S O M A.
Foi a atuação de Mr. Herbert Quain, num belo dj-set, que terminou em grande a noite de Zigur Label Day.
Fotografia: Luís Pereira