O Espalha-Factos esteve à conversa com Ricardo Cabral, reconhecido autor de bandas desenhadas que nascem de viagens documentadas em diários gráficos. Foi destaque na edição 2013 do Amadora BD, vencedor da Melhor Publicação Relacionada, com Comic-Transfer, nos Troféus Central Comics 2014 e vencedor da Melhor Publicação Nacional e Melhor Arte, com Pontas Soltas – Lisboa, nos Troféus Central Comics 2015.
“Como qualquer criança que cresce com canetas, lápis e papel, o desenho sempre foi uma constante na minha vida” – Ricardo Cabral
Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Ricardo Cabral trabalha como ilustrador freelancer para marcas e publicações desde 2005. Parte do coletivo de profissionais liberais The Lisbon Studio, é ainda autor de livros de banda desenhada e ilustrador de alguns livros infantis, como Portugal para Miúdos, de José Jorge Letria ou Uma Baleia no Quarto de João Miguel Tavares.
Sobre o momento em que começou a pensar que poderia fazer do desenho carreira, confessa ter sido, provavelmente, por volta dos 16 anos, “porque é quando se começa a pensar mais nisso”. De resto não se lembra do primeiro desenho. Afinal de contas, sempre desenhou, “como qualquer criança que cresce com canetas, lápis e papel”.
Obras do autor:
Em 2007, editou Evereste, o seu primeiro livro de BD. A história de João Garcia, uma das poucas pessoas que chegou ao ponto mais alto do mundo sem recurso a oxigénio artificial e, que à descida, perdeu o seu amigo Pascal. No mesmo ano, saiu Israel Sketchbook, com o qual aprendeu que “a expressão «seja o que Deus quiser» toma uma dimensão completamente diferente na Terra Santa!”
“O Israel Sketchbook foi um prazer especial, porque é um livro bastante diferente e não surgiu de uma conceção muito bem feita. Foi um projeto espontâneo e o próprio objeto deixou-me muito satisfeito” – Ricardo Cabral
Em 2010, surgiu New Born – 10 Dias no Kosovo, com 144 páginas. Na sinopse afirma-se que “munido de lápis e câmara fotográfica, Ricardo vê para lá da superficialidade do estereótipo político, e capta a vida linda que as pessoas comuns levam no seu dia-a-dia.” Um ano mais tarde captou a vida noutras cidades, reunindo cinco bandas desenhadas no álbum Pontas Soltas – Cidades.
Em 2014, acabou por lançar Pontas Soltas – Lisboa, um álbum que reúne quatro bandas desenhadas, realizadas entre 2004 e 2013 no âmbito de diferentes projetos, todas com Lisboa como pano de fundo. A obra venceu a Melhor Publicação Nacional e a Melhor Arte nos Troféus Central Comics 2015.
Ricardo Cabral confessa que o processo criativo difere, não de álbum para álbum, mas “quase de desenho para desenho”. Embora costume existir uma metodologia relativamente constante, no que diz respeito à banda desenhada o seu método de trabalho está associado ao que tem feito nos últimos anos: desenho em diários gráficos.
“O Pontas Soltas, o Israel Sketchbook e o New Born – 10 dias no Kozovo foram livros que foram desenhados nos locais, nos diários gráficos, e depois os desenhos foram digitalizados e coloridos”- Ricardo Cabral
A maior dificuldade é o tempo, lamenta. “Ter todo o tempo e disponibilidade para fazermos aquilo que realmente queremos fazer.” Explica que há, obviamente, outras limitações, mas que a falta de tempo se destaca. A frustração é perceber que se queria fazer algo de determinada forma e isso não aconteceu. “Temos de dedicar só aquelas horas àquilo.” O que, por vezes, não é possível.
O Israel Sketchbook, por exemplo, nasceu de uma conceção não muito bem feita, segundo o autor. Porque não planeou os locais a visitar ou o que iria desenhar. Ainda assim, confessa que foi um prazer especial ter finalmente o álbum na mão, precisamente por ter nascido da espontaneidade. “Mas todos os livros acabam por ser especiais”, acrescentou.
Na última edição do Amadora BD, a fila para a sessão de autógrafos de Ricardo estava constantemente a ser formada. O autor declara que, a existência de iniciativas do género, “é importante porque reúne as pessoas da banda desenhada, que normalmente são pessoas que trabalham nos seus escritórios, nos seus ateliês, nos seus estúdios.” Desta forma, o público pode ainda conversar com os seus autores prediletos e ver os originais das obras que admira.
Para Ricardo Cabral, o maior elogio que lhe podem fazer é comprarem os seus livros. Afirma que se sente sempre muito grato quando as pessoas compram os seus livros para as sessões de autógrafos e mostram interesse. “Por isso, o maior elogio para mim nem é o que é dito mas o que é mostrado.”