Recentemente o Festival d’Angoulême foi acusado de sexismo e discriminação, uma vez que a lista de autores nomeados para a 43.ª edição não incluía qualquer mulher. Riad Sattouf foi dos primeiros nomeados a reagir, abdicando do seu lugar e apontando algumas artistas igualmente merecedoras, entre elas Marjane Satrapi, a autora deste mês. Porque, tal como diz a palavra de ordem lançada no Twitter pelo Coletivo das Criadoras de BD Contra o Sexismo, #WomenDoBD.
Marjane Ebihamis, ou Marjane Satrapi como é conhecida na indústria de banda desenhada, nasceu em Rasht, no Irão, a 22 de novembro de 1969. Franco-iraniana, cresceu em Teerão no seio de uma família ligada aos movimentos comunista e socialista no Irão antes da Revolução Iraniana, em 1979.
Durante a infância, Marjane frequentou o Lycée Français, presenciando a crescente repressão das liberdades civis e o impacto da política iraniana no quotidiano dos seus conterrâneos. Apesar de ser descendente de Nasser al-Din Shah, Rei e Xá da Pérsia, de 1848 até 1896, nunca se deixou deslumbrar, uma vez que os reis da dinastia Qatar tiveram centenas de esposas.
Em 1983, com apenas 14 anos, foi enviada para Viena, em Áustria, a fim de fugir do regime. Frequentou o Liceu Francês de Viena, permanecendo em casa de amigos, pensões e repúblicas estudantis. A certa altura, Marjane ficou nas ruas e, após um ataque quase mortal de pneumonia, retornou ao Irão.
Aos 21 anos, Marjane casou, divorciando-se cerca de três anos depois. Estudou Comunicação Visual na Faculdade de Belas-Artes em Teerão e, em seguida, mudou-se para Estrasburgo, em França. Atualmente vive em Paris, trabalhando como ilustradora e autora de livros infantis.
Persepolis é o seu romance autobiográfico. Em banda desenhada, ou novela gráfica, Marjane Satrapi retrata a sua vida, da infância até à idade adulta, no início do Irão, durante e após a revolução islâmica. Em 2007, lançou-se uma adaptação cinematográfica, com a direção de Vincent Paronnaud e a própria Satrapi, estreada no Festival de Cannes e em vários países, aclamada pela crítica e nomeada ao Oscar de Melhor Filme Animado.

Marjane Satrapi foi a única mulher o ano passado a integrar a lista de nomeados do Festival d’Angoulême. Na edição de 2004, o seu nome apareceu ao lado do da britânica Posy Simmonds. Após as acusações este ano, a direção do festival alterou a sua posição e anunciou uma nova metodologia que permitirá que um colégio de cerca de três mil votantes, constituído por criadores de BD, vote na seleção de mais de 30 nomes estabelecida por um comité de programação do festival. Desta forma, Marjane Satrapi, já apontada por Riad Sattouf, fará muito provavelmente parte da nova lista.