Entre os passados dias 3 e 20 de dezembro, a Companhia Nacional de Bailado levou ao palco do Teatro Nacional de São Carlos o espetáculo A Bela Adormecida. Neste conto de fadas tradicional, surgiu em palco um príncipe bem atual.
Esta história universal, cujo texto mais conhecido pertence aos irmão Grimm, publicado em 1812, chegou ao ballet em janeiro de 1890, no Teatro Marinski, em São Petersburgo, numa encomenda ao compositor Tchaikovski. A Companhia Nacional de Bailado estreou A Bela Adormecida em 1998, no Rivoli, numa adaptação de Ted Brandsen.
Bailado com um príncipe convidado
Nesta temporada a versão é a mesma da estreada nos anos noventa, mas houve uma novidade. Nas sessões de 17 a 20 de dezembro, o príncipe responsável por beijar a princesa adormecida, interpretada nesses dias por Isadora Valero, foi um nome bem conhecido para todos os amantes de dança: Marcelino Sambé. Foi a primeira vez que o bailarino de 21 anos dançou em Portugal desde que foi para Londres, em 2012, e onde desde final de junho está como solista no Royal Ballet.
Nasceu no dia mundial da dança, foi considerado pelo The Independent um dos 10 jovens mais promissores em 2015, na área das artes e para os que foram ao São Carlos assistir à Bela Adormecida é quase uma lenda viva. Quando as luzes ainda estavam acesas e as vozes sussurravam, as expectativas de poder testemunhar o talento de Marcelino Sambé faziam-se notar. Havia algo de místico no ar e o seu nome soava entre as cadeiras da plateia e dos camarotes do Teatro. Expetativas que não foram defraudadas e se transformavam em longos aplausos cada vez que pisava o palco.
Em entrevista à Rádio Renascença, revelou que sempre quis fazer este papel porque “é o top de técnica clássica, de ser puro, de dançar com uma técnica pura (…) é uma personagem muito sólida e muito forte”. Neste papel testemunhamos a força, elegância e souplesse do bailarino através das linhas perfeitas e dos saltos imensuráveis com que brindou o público.
Num espetáculo em que, por questões coreográficas, vários artistas da CNB têm oportunidade de brilhar, destacamos duas interpretações masculinas: Marcelino Sambé no papel de Príncipe, que eleva a qualidade técnica a níveis ainda mais altos que a soma das suas piruetas, e Lourenço Ferreira, na companhia desde 2012, cuja presença cada vez menos discreta o posiciona como um nome a reter e a seguir com atenção.
A coreografia original é de Marius Petipa, adaptada, nesta versão, por Ted Brandsen. A direção musical esteve a cargo de Pedro Carneiro, Paula Graça assina o desenho de luz, a cenografia e figurinos são da autoria de António Lagarto.
De acordo com a folha de sala, em 2012, Rui Esteves escreveu: “Pela sua natureza intrínseca, é no bailado clássico que as fadas e seus sortilégios encontram terreno propício para sobreviverem no nosso imaginário, seja ele adulto ou infantil.” Só no ballet é que os corpos voam, pairam e flutuam, ainda que por breves instantes. Instantes esses, que se tornam eternos na memória de quem vê.
Fotografias do bailado: Bruno Simão