O último dia de competição do MUVI Lisboa 2015 teve o punk em destaque, desde o feito lá fora até ao nosso.
The Damned: Don’t you wish that we were dead
O riff inicial de God Save The Queen ou os primeiros versos de London Calling fazem parte da memória coletiva dos fãs de punk, mas há uma banda que teve tanta influência no género como Sex Pistols e The Clash que tende em ser esquecida. É ela The Damned.
O documentário The Damned: Don’t you wish that we were dead conta a história completa da banda a partir de entrevistas com os vários membros dela. Longe de ser original na forma, o filme é curioso a nível de conteúdo, primando pelo quão completo é. Mostra praticamente todo o percurso dos The Damned desde meados dos anos 70 até aos nossos dias, salientando alguns dos momentos mais significativos da carreira da banda, nomeadamente as zangas entre músicos e a constante mudança de constituição da mesma.
O filme tem um tom maioritariamente animado, devido essencialmente às histórias divertidas que se vão contando e à personalidade tipicamente britânica de alguns dos elementos, com o guitarrista Captain Sensible (nome de palco de Raymond Burns) à cabeça. Contudo, não deixa de haver um ou outro momento mais emotivo, potenciados pelos testemunhos saudosos de ex-membros e pelo ódio que alguns mantêm pela própria banda, conduzindo-nos assim até às cenas mais negras da fita. Aos relatos dos músicos juntam-se ainda pequenas entrevistas aos fãs dos The Damned, onde ficam vincadas as próprias divergências entre os admiradores no que toca à melhor altura do grupo ou à sua melhor formação.
Com as inevitáveis imagens de arquivo a completarem as entrevistas e ainda uma sempre presente contextualização com o panorama musical de cada época, The Damned: Don’t you wish that we were dead surge como um interessante estudo sobre uma das bandas mais importantes do punk e é, com toda a certeza, um dos melhores títulos que passou nesta edição do MUVI.
8/10
Punk em Portugal 78-88
Realizado com poucos meios mas com muito amor, como foi visível na apresentação por parte do realizador, Punk em Portugal 78-88 é o primeiro documentário totalmente dedicado ao género no nosso país. Com entrevistas a membros dos Xutos e Pontapés, Aqui d’el Rock ou UHF, o filme propõe-se a ilustrar como surgiu o punk nacional e como este foi evoluindo.
Punk em Portugal 78-88 está então cheio de boas intenções e tem um bom trabalho de pesquisa, indo em busca não só dos nomes mais sonantes da altura mas também daqueles que ao longo dos anos foram sendo esquecidos. Porém, o produto final é de extrema baixa qualidade. A falta de meios financeiros pode desculpar um ou outro aspeto, mas os grandes pontos fracos do documentário não se justificam por pouco dinheiro mas por simples falta de talento dos envolvidos no projeto.
Com uma estrutura por tópicos, que não dá grande fluidez ao filme, e transições visuais ao estilo de uma versão mais atualizada do PowerPoint (que utiliza cores e fonts de letras que mais facilmente associamos ao Metal do que ao Punk, já para não falar em erros crassos de escrita de palavras), o documentário é um desinteressante registo do género musical no nosso país. Poderiam compensar este aspeto paupérrimo os intervenientes, mas, infelizmente, a má gravação das suas vozes aliadas a uma música de fundo que por vezes se sobrepõe às próprias entrevistas torna difícil de entender o que cada um diz.
Punk em Portugal 78-88 poderia ser aceitável como projeto amador online, mas nunca resultará no grande ecrã. Erros técnicos, falta de financiamento e más decisões por parte dos realizadores culminam num documentário que em nada faz justiça ao punk português (que, por si só, nunca se destacou pela elevada qualidade).
2/10
Tio Rex
Tio Rex e os seus sobrinhos fecharam a noite no primeiro showcase totalmente cantado em português do MUVI Lisboa 2015. Com uma voz grave que dá vida a letras quase auto-biográficas, como o cantautor fazia questão de salientar nas pausas entre temas, e acompanhado por uma banda competente, Tio Rex deu um excelente concerto onde foi apresentando quer canções mais antigas quer outras mais recentes, havendo ainda espaço para um cover de Maria Faia de Zeca Afonso. Claramente feliz por estar no MUVI (elogiando o festival e dizendo-se também ele um cinéfilo), manteve sempre uma relação de proximidade com o público que tornou o espetáculo muito mais familiar. Na entrevista final afirmou o quão difícil é ser-se artista independente em Portugal, revelando que em 2016 se dedicará ao trabalho, deixando por momentos de lado a carreira musical. É pena que assim seja, porque artistas do calibre de Tio Rex têm capacidade para percorrer o país e ir encantando o público por todo o lado.