O DocLisboa organiza todos os anos a secção Verdes Anos — uma mostra de filmes produzidos por alunos que cursam cinema, audiovisuais, comunicação, inclusive pós-graduações relacionadas com o cinema documental. O Cinema São Jorge foi assim, no passado dia 27 de outubro, o espaço escolhido pela organização para dar a conhecer as curta-metragens de Inês de Lima Torres, Nayeem Mahbub, Christina Hanes e Diogo Nóbrega.
Através do nobre objetivo de dar a conhecer ao público novos realizadores ainda em contexto de formação, Verdes Anos pretende abrir uma plataforma de diálogo e reflexão, operando como uma rampa de lançamento destes mesmos artistas.
Esta Terra Não É Minha (Inês de Lima Torres), procura documentar a experiência do abandono de um país de origem, em virtude da fixação noutro, por vicissitudes pouco controláveis que obrigam a essa mudança. Com filmagens em Barcelona em VHS que oferecem ao espectador a envolvência necessária para a compreensão do registo diarístico que nela se encontra patente, esta curta-metragem fala-nos da passagem do tempo, do crescimento de tudo o que nos circunda, do abandono de quem gostamos e de um sentimento de não-pertença inultrapassável.
Também Mohadeshiyo Probaho / Continental Drift (Nayeem Mahbub), no seguimento da linha narrativa abordada por Esta Terra Não É Minha, demonstra igualmente o desligamento ou não que pode decorrer de uma separação térrea e de um lugar físico, quando tantas memórias e vivências lá ficam sedimentadas. Desta feita, com recurso a imagens ofuscadas, difusas e a voz de um narrador, esta é uma curta-metragem que transborda a sensação de procura de uma identificação própria num espaço que não é o nosso.
Já The Falling of a Hero of Our Time (Christina Hanes), retrata um homem com os seus 70 anos, captando muito naturalmente a sua história apenas através da relação deste com a própria realizadora, que intervém em diálogo com o mesmo. São contadas em conversa histórias de outros tempos, pautadas pela luxúria, pelos desejos de antigas amantes e, curiosamente, o que levou a curta-metragem a ter o nome que tem, dado ele mesmo pelo protagonista da história, em cena.
Por último, A Palavra (Diogo Nóbrega) é a mais longa das curtas. Tem 50 minutos e acompanha a história real de uma família portuense, composta por uma mãe que luta dia-a-dia com o drama que é ter um filho autista. É mostrado o lado mais íntimo e pessoal de quem se debate contra o flagelo de criar um filho isolado do mundo exterior, em constante preocupação para devolver o que é dele à realidade.
Até ao próximo dia 1 de novembro, o DocLisboa continuará a apresentar curtas-metragens, pequenos documentários e obras cinematográficas realizadas por cineastas que, apesar de ainda verdes, por se estarem a estrear no ramo, apresentam já uma personalidade muito própria e vincada e uma enorme qualidade nas obras que transferem para o grande ecrã, deixando no espectador a vontade de querer ver mais.