Na última noite do SBSR 2015, Florence & The Machine deixou uma multidão rendida e a certeza de que as relações com Portugal serão para durar. O festival terminava com uma enchente e a sensação de que a escolha do local foi uma aposta ganha.
Ao por do sol, no Palco EDP, Márcia acalentou corações com o intimista Quarto Crescente mas também com as agradáveis presenças de Samuel Úria e Criolo. Enquanto isso notávamos que a travessia entre os vários palcos estava bem mais difícil do que nos anteriores dias do festival. É sábado, as pessoas chegam mais cedo, mas nota-se que muita gente tem bilhete diário para, certamente, assistir ao cabeça de cartaz da noite, a inglesa Florence Welch. Mas isso era só à uma da manhã.
A Banda do Mar (de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred) ter-lhe-ia seguido muito bem, mas só entraram mais tarde. Era hora de os Palma Violets, com o seu rock desenfreado, porem a plateia aos saltos com os temas dos seus dois únicos registos de originais. Rattlesnake Highway ou Best of Friends, oferecidos por uma banda incendiária – como já provaramos em Paredes de Coura ou no Vodafone Mexefest – põem a pala do Pavilhão de Portugal aos saltos.
Um saltinho pelo Palco Antena 3 permite-nos apanhar a entrada em palco dos D’Alva, com #batequebate, R&B fresquinho para o quente fim de tarde, e uma das maiores enchentes no palco situado junto da escadaria do MEO Arena, ali bem perto da Caixa Jump onde se podia dar um salto #livreleveesolto.
Dentro da MEO Arena Rodrigo Amarante perdia a doçura da sua voz e aura numa sala demasiado impessoal e “fria”, mas com um público dedicado e acolhedor que, sobretudo na frente de palco, acompanhou o autor de Cavalo nas letras das suas canções.
No Palco EDP alinhavam-se entretanto os Unknown Mortal Orchestra para apresentar Multi-Love e cantar em uníssono com o público So Good At Being in Trouble. (Atualização) A boa relação que estão a estabelecer com os portugueses garantiu-lhes já dois concertos em nome próprio em novembro.
Mais uma corrida até ao MEO Arena permite fazer o aquecimento para a tremenda que, em palco e fora dele, proporcionaram os Crystal Fighters. Desde a decoração de palco, às suas roupas e adereços, passando pelas bolas de vários tamanhos que atiram para o público, estes neo-hippies que têm meio mundo dentro de si, atiram-se a temas como Love Is All I Got, You & I, Plage ou I Love London. A plateia da gigante sala, praticamente cheia, vibra, canta, salta, pula. A festa tinha começado.
Com o aquecimento feito, a maioria terá ficado para assistir ao raro concerto dos Franz Ferdinand com os Sparks, FFS. Uma união, na nossa opinião, muito feliz, em que o protagonismo não é dado nem roubado a nenhum dos elementos de nenhuma das bandas e em que, antes pelo contrário, a conjugação soa perfeita. É certo que perante o público presente os temas pertencentes aos Franz Ferdinand – Do You Want To, Walk Away, Michael ou Take Me Out – fizeram mais alarido do que os de Sparks – Achoo, When Do I Get to Sing “My Way”, The Number One Song in Heaven ou This Town Ain’t Big Enough for Both of Us.
No entanto, também os originais que o supergrupo FFS criou para o homónimo disco deste ano, foram muito aplaudidos e dançados pela multidão que já se encontrava no MEO Arena. Público esse que, a convite de Nick McCarthy dos Franz Ferdinand finalmente invadiu “a gaiola” – como lhe ouvimos chamar – que na frente de palco, à esquerda, estava reservada para os VIPs do festival. Os seguranças ficaram doidos mas o ambiente ficou muito mais animado. O rock estava mesmo na cidade.
Enquanto isso, e voltando à Banda do Mar, o amor em palco e fora dele foi celebrado com os temas do disco de estúdio da banda mas sobretudo com a loucura que foi quando soaram os primeiros acordes de Anna Júlia. A vida poderia ser um festival, lembram-se?
E foi também uma festa que Florence Welch fez com a esgotada MEO Arena. Percorrendo um belíssimo palco, acompanhada de músicos extraordinários e com uma voz poderosa (goste-se mais, goste-se menos) a artista mostrou que, com apenas 29 anos, já se tornou uma das grandes da sua geração e como a relação com o público português ficou absolutamente cimentada na noite de sábado.
Há cinco anos que não vinha cá (em 2012 acabou por cancelar o concerto no então Optimus Alive) e desde então os seus admiradores cresceram proporcionalmente à sua exposição, ao seu crescimento profissional, à sua entrega. Cada tema, de qualquer um dos seus três discos de originais, foi entoado em uníssono, por mais novos e mais velhos, homens e mulheres, fãs n.º 1 ou n.º 2, porque a sequência Spectrum, You’ve Got the Love, The Dog Days are Over estava na ponta da língua de todos. Quando sorridente, francamente feliz, Florence abandona o palco antes do encore com a bandeira de Portugal aos ombros, sabemos que esta vai ser uma relação duradoura.
Se tivessemos, pois, de encontrar um claro vencedor da 21ª edição do Super Bock Super Rock, seria sem dúvida Florence & The Machine. Para o ano há mais, de 14 a 16 de julho.
Fotografias de Inês Delgado