The Secret de Rhonda Byrne foi um best-seller cuja popularidade se tornou notável em 2006 quando Oprah Winfrey lhe teceu elogios. Quase dez anos depois do seu lançamento dei por mim a reler o livro que tinha fama de “estar a transformar o mundo”. No entanto o que acabei por ler foi um livro que, além de referir clichés já repetidos em todos os livros de auto-ajuda, alimenta a ilusão de que basta o “poder da mente” para um indivíduo comum mudar a sua vida para melhor.
O pensamento positivo é importante na vida das pessoas. Vários estudos já comprovaram que um pensamento positivo acaba por ter maior força na vida de um indivíduo do que um negativo. O próprio sentimento de otimismo é algo que nos traz uma sensação de bem-estar, algo que nos ajuda a suportar até os dias mais complicados. Contudo, pensar positivo não significa que uma pessoa vá ter uma vida de sonho, especialmente se não tomar as rédeas da sua vida e não agir por isso. É precisamente essa fantasia irrealista que The Secret transmite aos leitores mais ingénuos.
Rhonda Byrne, atualmente com 64 anos de idade, é uma escritora e produtora cujo êxito The Secret vendeu mais de 21 milhões de cópias impressas em todo o mundo. A obra e o documentário (lançado primeiro que o livro, em março de 2006) juntos conseguiram mais de 300 milhões de vendas até 2009. A mensagem que a autora pretende passar é a de um segredo que mudará a vida daqueles que o aceitarem e colocarem em prática.
Basicamente o grande segredo é a Lei da Atração. Segundo o livro, os pensamentos de uma pessoa atraem para si circunstâncias positivas ou negativas: se uma pessoa tem pensamentos positivos atrai para si coisas boas; se tem pensamentos negativos atrai para si coisas más. A obra tenta transmitir que se uma pessoa desejar muito uma coisa (dinheiro, uma relação amorosa, boa saúde), basta simplesmente “pedir” uma coisa ao Universo (nesta obra comparado a um Génio da Lâmpada) e eventualmente essa coisa será dada à pessoa que pediu o desejo. A mensagem principal que o livro procura passar é de que a pessoa se deve sentir bem por forma a atrair a si coisas positivas.
Este livro é escrito com considerações da própria autora, declarações de outras pessoas que participaram no documentário e citações de algumas das pessoas mais famosas de sempre. Alguns destes nomes incluem: Martin Luther King Jr., o Buda, Albert Einstein, Henry Ford, entre outros. Isto acaba, de certo modo, por roubar uma boa parte do protagonismo na obra à autora, assim como de a própria estar a tentar aplicar citações de outras pessoas de várias formas que lhe convierem.
O livro é muito redundante na forma como está escrito. Ao explicar e dar exemplos na forma como aplicar a suposta Lei da Atração a explicação alonga-se em demasia. A dada altura, perto do fim da obra, as mensagens transmitidas passam a ser “mais do mesmo”, no sentido de que repete a importância de se sentir bem, de forma a atrair coisas boas. Os dois últimos capítulos em particular, assim como os quatro capítulos que exemplificam em que campos se pode aplicar o segredo, não acrescentam grandes novidades à mensagem que já foi dada nos capítulos iniciais.
Algumas partes do livro chegam até a ser um tanto ridículas. A uma altura é referido que os acontecimentos negativos que acontecem na vida de uma pessoa foram atraídos por um pensamento dessa magnitude que o indivíduo tenha tido, mesmo que não se tenha apercebido. Isto de certo modo culpa a pessoa pela sua sorte, mesmo que esta não esteja sob o seu controlo. No capítulo referente à saúde, por exemplo, a autora diz a determinada altura que uma pessoa apanha uma doença quando pensa que “não a quer apanhar”, logo deve fugir de conversas que falem de doenças. A autora também refere, numa passagem referente à perda de peso, que são os pensamentos que engordam uma pessoa e que de modo a uma pessoa poder ter o peso que deseja basta “pedi-lo” ao Universo e depois poderá comer o que quiser que os pensamentos impedirão a pessoa de engordar.
Relativamente à minha opinião sobre a mensagem que a autora procura passar, apesar de esta já ser óbvia neste ponto, é a seguinte: a ideia de que se um sujeito quiser muito qualquer coisa, eventualmente ser-lhe-à dada se ele se esforçar nos seus pensamentos, não agindo de nenhuma forma, é uma ilusão irrealista. Por essa lógica bastaria a uma pessoa ter pensamentos positivos e tudo o que ela desejasse eventualmente chegava-lhe às mãos sem ser necessária qualquer forma de ação ou esforço por forma a conseguir os objetivos em causa.
Desengane-se quem pense que eu recrimino os pensamentos positivos, no entanto pensar positivo e querer algo sem procurar agir de modo a conseguir esse objetivo não chegam para que uma pessoa tenha sucesso na sua vida. O dinheiro não surge se uma pessoa não trabalhar para o obter. A possibilidade de uma relação amorosa não surge se uma pessoa não se der a conhecer aos outros. Pensar positivo não basta para curar uma doença mortal: a medicina tem um papel mais importante do que o que esta obra dá a entender.
Aliás o conceito do pensamento positivo é algo que já foi referido e aplicado literalmente em todos os livros de auto-ajuda que são vendidos. Um livro de auto-ajuda não é um livro de auto-ajuda sem uma referência a esta noção. No fundo, esta obra não traz nada de novo à categoria de auto-ajuda, além de relembrar (constantemente) os leitores de que se devem sentir bem e pensar positivo. Além de não trazer nada de novo, procura alimentar uma fantasia de que bastam os pensamentos para que tudo o que desejamos nos seja “entregue” de bandeja pelo Universo.
The Secret, apesar da mensagem positiva que procura transmitir, além de ser um livro redundante e com relativamente pouca “presença” da parte da sua autora, transmite a ideia errada de que basta o pensamento e nenhuma forma de ação para a pessoa obter o que deseja. Há alguns anos atrás achava este livro “inspirador”; anos depois, após uma releitura, para mim não passa de um livro que promove ilusões irrealistas a mentes ingénuas e inseguras.
Nota Final: 2.5/10
Título original: The Secret (em Portugal: The Secret – O Segredo)
Autor: Rhonda Byrne
Editora: Lua de Papel
Ano de lançamento desta edição: 2007
Número de Páginas: 208