O Espalha-Factos esteve à conversa com Big Nelo, metade da dupla angolana B4, que surpreendeu com o single É Melhor Não Duvidar. A verdade é que, mesmo que existisse uma genuína vontade de que o projeto resultasse também em Portugal, os B4 não esperavam que fosse tão bem recebido. Agora, com o aproximar do fim da dupla, Big Nelo contou-nos quais os próximos projetos que surgem no horizonte.
A Intro do vosso álbum é muito descontraída. A postura de B4 no mundo da música também é assim?
Sim, a nossa ideia enquanto artistas individuais é a de que existe sempre aquela responsabilidade, como é que será a composição, o que é que as pessoas vão pensar… Nos B4 o disco foi gravado em 15 dias, levámos tudo muito na brincadeira, para ser sincero. Nós já trabalhávamos juntos desde 2011, eu participei numa das músicas do C4 Pedro, no último trabalho discográfico dele, intitulado Calor e Frio, e como foi o single promocional dele, e eu na altura também lancei o meu trabalho discográfico, fizemos a tourné os dois. E sempre que desse, participava nas músicas e as pessoas foram sentindo esta química e tal, e foram cobrando: “por que é que não gravam um álbum?”. E, quando decidimos gravar este álbum, em 2013, decidimos “epá, vamos fazer um disco mais assim…” Claro que tinha de ser um disco bom, mas não tínhamos tanta pressão, para ser sincero. Por isso é que as pessoas vão sentir que as intro são muito cómicas, estamos sempre no estúdio a brincar, nós íamos com um instrumental para o estúdio, na brincadeira, a maior parte das músicas foi gravada na hora, não é daquelas músicas que levas um mês a compor, a pensar, íamos para o estúdio e dizíamos “ok, o tema é este: é melhor não duvidar” e arrancávamos. E acho que o sucesso deste disco deve-se muito a esse nosso lado descontraído, para ser sincero. Se fosse um disco com composições mais pesadas, talvez não tivesse funcionado tanto. E tivemos a sorte de as pessoas também terem gostado, de sentirem nos nossos concertos [a descontração], então criou-se esta ponte boa.
Onde é que sentem que têm maior liberdade para criar? Nos vossos projetos a solo ou enquanto B4?
Acho que é complicado mas é claro que a solo fazes aquilo que te apetece, não é? Tu é que mandas no teu trabalho, tu é que sabes aquilo que vais fazer. Enquanto duo há sempre a crítica de um ou do outro, mas acaba por ser positiva, porque às vezes não tens tanta certeza e o outro que está a ouvir diz “não, é mesmo isso!”. Uma coisa que, às vezes, no teu álbum não punhas ou que não estás a sentir tão bem. Mas [em dupla] há sempre aquele incentivo do outro. Não foi um disco limitado em termos de liberdade mas houve muito incentivo de um lado e do outro, no que diz respeito a “vai, irmão, avança, está bom, está a soar bem”. Acho que tanto como artistas individuais como neste projeto acho que houve uma liberdade muito grande dos dois lados.
E estavam à espera desta recepção tão calorosa do público português?
Para ser sincero, não. Quando gravámos o álbum, gravámos em Angola e misturámos em Portugal, mas é como tudo, não existe uma fórmula certa para o sucesso. É trabalho, é estarmos focados… Queríamos muito que funcionasse, sabíamos que um disco juntos tinha um risco, se não funcionasse as pessoas iam perguntar-nos “vocês estavam bem enquanto artistas a solo, por que é que inventaram esta?” Mas, ao mesmo tempo, foi muito benéfico porque nós conseguimos conquistar um público em Portugal que nós não tínhamos, enquanto artistas a solo. B4 funcionou melhor em Portugal. Em Angola, Big Nelo já era um sucesso, C4 Pedro já era um sucesso. Em Portugal, era mais para a comunidade africana e não tanto para o público português. Hoje, nos nossos espetáculos, 90% do público é português. É aquilo que, quando qualquer artista vai a algum país, gostaria de ter. Não esperávamos e agradecemos realmente ao público português por nos ter recebido de coração aberto. Acho que hoje B4 é uma realidade em Portugal. As pessoas gostam, quando vão aos nossos concertos ao início conheciam uma ou duas músicas, hoje já cantam várias músicas nossas, já sabem os nossos Instagram, Facebook, etc… As nossas redes sociais e visualizações cresceram bastante com o público português. Não esperávamos, mas ficamos muito felizes por terem gostado, era algo que queríamos muito.
Estão a preparar algum material para as próximas datas? Vão estar na Queima das Fitas do Porto, no Sumol Summer Fest…
Sim. O que vai acontecer é que vamos introduzir a música nova do C4 Pedro, que entrou na novela Única Mulher, há também uma música nova minha, que vai sair num projeto que se chama Team de Sonho, a partir de maio, com vários músicos angolanos. Temos música enquanto B4, com a Quem Será, depois há o C4 com a Vamos Ficar Por Aqui e depois há duas músicas minhas neste trabalho [Team de Sonho]. São vários artistas, 28 faixas… São músicas que vamos introduzindo, a partir do final de B4 para carreiras a solo. Está tudo programado para terminarmos depois do final do verão, então já estamos a começar a preparar. Sei que não será fácil, porque há público que não era fã de Big Nelo ou de C4 Pedro, mas que é fã dos B4. Não acham muita piada, é natural, mas também não vamos fechar as portas, porque depois dessa fase vamos deixar passar um ano, um ano e meio e estamos a pensar lançar um volume dois B4, só para os fãs não ficarem tristes.
Fotografias de Inês Delgado.