Escrevo este texto sentada ao sol na esplanada daquele que é o After Ski com melhor espírito nestas bandas, o KOIA. Quando cheguei a Kvitfjell tinha como rotina de fim de dia sentar-me no terraço a beber um chocolate quente e a ouvir a música que se fazia entoar daqui. Isto acontecia por volta das 16h, já de noite cerrada, com 10 graus negativos. De momento são quase 16h e o Sol ainda está lá bem no alto, brindando-me com 10 graus positivos.
Lembro os primeiros dias já com alguma melancolia. As árvores estavam cobertas de neve de tal forma que o peso as fazia tombar completamente. Explorava a área timidamente, sem nunca saber bem onde estava e tentando recordar-me do caminho de volta. No segundo dia, 15 de janeiro, mal saí da área do hotel fiquei enterrada em neve até à cintura. Andei pelas pistas, subi até meio da montanhas e depois resolvi aventurar-me até um grande edifício de apartamentos que se vê no alto um monte. Pensando ter todo o tempo do mundo, claro.
Para meu mal, tenho como irremediável característica tomar péssimas decisões sempre que estou sozinha, por isso demorei demasiado tempo e quando voltei já era tarde demais, os elevadores já tinham fechado, a luz era escassa e tinha pela frente uma subida que se assemelhava a uma parede branca. A cada dois metros, escorregava dois, parecia a história do caracol a subir o poço. Era quase de noite e ainda tinha metade pela frente. Para subir o resto tive que escavar com as mãos buracos para pôr os pés. Total azelha das neves, mas lá consegui.
“Tens de respeitar mais a Natureza” – disse a Kari, nossa host, quando cheguei. Daí em diante respeitei e aqui estou.
Depois de meses de muita neve, com a chegada do Sol era o gelo que invadia os caminhos. A Natureza faltava-me constantemente ao respeito, sendo raro o dia em que não caía. Mas continuo a estar aqui!
A neve começa agora a derreter e as montanhas estão a mudar de cara. Os telhados cobertos de erva estão a aparecer, as árvores estão verdes e paira no ar uma tranquilidade revitalizante. Os dias por aqui já são escassos e tento agora absorver tudo o que vejo. Casas na árvore, lindas casas de férias em madeira, cascatas a começar a correr e o rio a deixar de ser branco para ser de um azul lindíssimo.
No Hotel todos falam em regressar a casa, nas saudades da civilização, dos amigos, da família, e eu sinto apenas uma melancolia que não pára de crescer. Em viagem custa-me sempre partir, sou invadida pela tristeza de possivelmente não regressar àquele sítio. Mas esta foi uma viagem prolongada e a minha definição de casa é a cada dia que passa mais distinta da definição comum. Para mim a casa está às costas, trago os meus amigos e família comigo porque eles são parte de quem eu sou, e por isso não sinto saudades, porque estou sempre com eles. Casa é onde temos o coração, onde sentimos o conforto, e eu sinto-me bem em movimento. Uma fã da ideologia “parar é morrer“.
Quarta-feira deixo Kvitfjell rumo a Oslo, depois deixo Oslo rumo a Bergen, e termina a odisseia, tempo de regressar. Comigo levo uma nova família constituída por todos os que fizeram parte do meu dia-a-dia. Levo 3 meses de coração cheio de montanhas e de crescimento pessoal… acho que vou de malas pesadas!