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Cinderela: A princesa mais chata da Disney agora em carne e osso

A Disney quase que acertou… Foi preciso ir buscar a sua animação clássica mais entediante para criar a melhor adaptação live action de um conto. Cinderela estreia hoje nas salas portuguesas e promete encantar os pequenos como, também, injetar uma onda de nostalgia nos pais.

Esta é talvez a história mais conhecida de todas do universo Disney. A Cinderela de Walt Disney estreou-se pelos EUA em 1950 e, não é surpresa para ninguém, foi o grande responsável pelo salvamento dos estúdios que, na altura, encontravam-se perante uma iminente falência. O sucesso da plebeia que se torna princesa da noite para o dia (literalmente) foi de tal forma grande que o universo criado à volta desta animação – o palácio, a fada madrinha, a abóbora e a magia – tornaram-se em símbolos para os estúdios Disney e ainda hoje podemos ver o seu castelo  na abertura de todos os filmes deste estúdio.

A história da rapariga que ficou agrilhoada à crueldade da sua madrasta e das suas meias-irmãs feias já não é nova. A ida ao baile, a fada-madrinha que transforma abóboras em ouro – encontrámos a mulher do rei Midas -, o príncipe encantado que fica ainda mais encantado por ela, o sapatinho de cristal perdido, as doze badaladas, etc, etc… Tudo isto faz já parte do nosso imaginário como crianças que fomos ou somos. E, o que a Disney fez de melhor com esta sua adaptação live action deste conto intemporal foi: não ter mudado uma única vírgula.

CINDERELLA

A Cinderela continua loira, as irmãs feias e o gato felpudo. A nossa infância é totalmente revivida e não levamos com incoerências argumentativas e imprevisibilidades narrativas como anteriormente aconteceu com Alice no País das Maravilhas, Maléfica e o mais recente Caminhos da Floresta. É o cariz fiel deste filme para com a obra originária que faz com que Cinderela seja, na verdade, uma live action da Disney que valha a pena ver. Finalmente, depois de tanto tempo a atirar para todo o lado sem acertar em coisa alguma. E depois temos a dura e estranha realidade, o facto de Kenneth Branagh ter sido o realizador que nos trouxe o live action mais consolidado de todo o leque daqueles que já estrearam pela mão do estúdio. Longe estou de dizer que Branagh é um mau realizador, mas o seu trabalho neste filme foi invisível, não há qualquer impressão do autor neste Cinderela.

E isto leva-nos a pensar em todos os outros filmes do género que estrearam deste estúdio. É cada vez mais notória a uniformização de um estilo, um estilo esse que não tem nada que ver com os realizadores por detrás de cada filme live action mas sim com o estúdio e os produtores. Há uma notória pressão da Disney para se fazer o filme da maneira que o estúdio quer, há um apagamento gradual dos realizadores e, no final, já nem há vestígios deles. Este filme foi realizado por Branagh, mas podia muito bem ter sido realizado por Tim Burton, Rob Marshall ou até Robert Stromberg.

Já o elenco foi encabeçado por Lily James. A novata não foi propriamente brilhante como Cinderela, mas podemos antes afirmar que foi eficaz. Cate Blanchett foi a vilã, a atriz parece ter feito um intervalo dos papéis mais sérios e entrega-se aqui a um registo mais despreocupado. E é este o seu feito, o de encarnar e encarar a personagem da madrasta quase como uma brincadeira, como se de facto fosse muito fácil ser-se ator. Helena Bonham Carter também aparece e deixa-nos com vontade de ver mais. A sua intervenção resume-se a 5 minutos na longa-metragem mas servem para lembrar que ainda continua a ser uma das mais talentosas atrizes da sua geração. Já Richard Madden, o príncipe, deu o ar de sua graça, mas nada que mereça grande ressalva.

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Em termos técnicos Cinderela é coerente mas também toma alguns riscos. Destaca-se por alguns motivos como o cuidadoso guarda-roupa e a encantadora direcção de arte. O CGI está bem feito e a fotografia está para lá do razoável. A câmera, se ao inicio da película parece oscilar entre ângulos e planos não muito bem planeados nem enquadrados, tem porém uma cena em que, aliada a um grande trabalho de montagem, arrisca e destaca essa mesma cena da restante película onde o trabalho de câmera é mediano a roçar o medíocre. Estou a falar da cena do baile, mais precisamente da dança entre Cinderela e o seu príncipe e onde a câmera acompanha os movimentos dos atores e entra, como terceiro elemento, naquele momento tão íntimo.

Em suma, Cinderela merece ser visto mais como um exercício de de revitalização de um passado muito característico não só da Disney como de muitas gerações, mas também porque se afirma como um bom produto de entretenimento. Longe está de ser uma obra-prima, mas de facto cumpre com o que promete.

7/10

Ficha Técnica

Título: Cinderella

Realizador: Kenneth Branagh

Argumento: Chris Weitz

Com: Lily James, Richard Madden, Cate Blanchett, Helena Bonham Carter

Género: Aventura, Drama, Família, Romance, Fantasía

Duração: 112 minutos